oreinabarriga

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este blogue tem Livro de Exclamações

23.9.15

A última vez que chorei

Desci a rua com as mãos enterradas nos bolsos. Feira da ladra, desmontada, é quase meio-dia. Descem a meu lado os nómadas que transportam o que ficou por vender, o que resta do resto que já não lhes valia de nada.
Deixei-me ultrapassar. Os meninos do bairro instauraram um vozeiral por aquelas bandas. Brincavam à volta da lata do lixo, até que a derrubaram e puseram-se a olhar para ela com uma expressão de cumplicidade.
Fiz sinal de continência ao sol, que sol! Nem parece Dezembro!
Os gatos das ruelas vizinhas aproximaram-se da lata do lixo e ali ficaram, magriços, a focinhar o almoço fora de horas.
Mais à frente, quase à beira da estrada, uma menina de fatinho cor de laranja, saltava à corda, enquanto outra sentada à sombra, no degrau do 61, contava os pulos da primeira.
Por cima, vigiava-as uma criatura de faces enrugadas, qual uma folha de papel amarrotada. Tinha nos olhos, pontinhos de saudosismo. A enquadra-la, a arquitectura pictórica da janelinha de tabuinhas, construção semelhante a uma pálpebra sonolenta e querer fechar-se.
Dobrei-me na calçada para apertar os sapatos. Atravessei a rua, já lobrigava ao longe, o Arnaldo, o dono do 14, a encher copos de vinho com gestos de langor (é um bom homem, o taberneiro).
Escrevi mais umas linhas sobre “A última vez que chorei”. De certo, este meu silêncio são lágrimas. Tenho a boca a saber-me a sal.
À tardinha fui desentorpecer as pernas para o jardim.
Sentei-me no banco mesmo por baixo do jacarandá que
sobrevoa a minha cabeça no lilás das suas flores, as folhas.
Entardeceu.
Anoiteceu.
O sem abrigo olhava para mim à espera que eu me pusesse a
milhas e finalmente pudesse esticar o corpo magriço nas tábuas, embrulhado na manta que trazia enrolada debaixo do braço em farrapos.
Sorria, com os lábios da cor do jacarandá, à mostra os dentes
amarelados.

- Esta noite vamos dormir os dois. - E pus os meus rascunhos a jeito de almofada.
- Que seja. - Disse ele a desembrulhar a manta aos quadrados.

Acordei dentro dela, fedorenta e tão esburacada como a terra
pelas raízes do jacarandá.
Levei as mãos aos quadris e levantei-me com o cuidado de não
partir nada. Já de pé olhei para as folhas da minha árvore genealógica a salpicar o céu em tons de lilás. No seu murmúrio causado pelo vento, soprou-me aos ouvidos:

- A paz é o desassossego (Deve ser por isso que correm as pessoas). Não chove.
Porque correm as pessoas? Porque correm mesmo quando não
chove?
Alguém as espera?
Fui aos correios telefonar.
Marquei os números todos, repeti, não dava sinal.
Liguei para as informações e as funcionárias do serviço,
mandaram-me virar o numero ao contrário, achar-lhe o mínimo múltiplo comum, trinta por uma linha.
Desisti.
No segundo vão de escadas a caminho da minha porta, encostei-
me à parede que desta vez se abriu como um raio.
Desembaciei os olhos, enxuguei a cara, fumei. Continuei a subir.
Entrei.
Não fui sentar-me no cadeirão vermelho desbotado. Alguém teve a mesma ideia que eu.


amadurecidos, transpirados, a boca bem desenhada, fechada, e de repente, a rasgar-se num sorriso sem fim.

Abri os braços e voei. Mordi-lhe a boca, lasciva, e ardi.
E foi a ultima vez que chorei.

21.11.12

se disseres que não, é porque és uma pedra

o miguel adormeceu a pedir baixinho "diz que sim, diz que sim". a mamã ha de guardar este segredo até que sim, ou até que não. vai dormir também, daqui a bocadinho, e pedir baixinho: diz que sim, se disseres que não é porque és uma pedra"

20.11.12

todas as cartas são..


29.5.12

é uma honra

lágrimas com o tempo, deixam de representar um sofrimento insuportável e passam a ser uma honra.
hei-de chorar sempre e para sempre a tua morte, pai, hei de chorar sempre, a doer-me é certo, mas é uma honra.

18.5.12

a melancolia...

... um torno, uma serra pequenina, as tintas e os pincéis, a cola, os bocadinhos de madeira, de cartão, de plástico, aqueles cheiros, as mãos do meu pai... a fazer os brinquedos:




3.5.12

e como sabes que é mesmo ela? a que escolhias para ser tua namorada?

mãe: das colegas da mãe qual é a mais gira?
miguel: é a loirinha (inês borges). e a belinha. mas a loirinha é mais gira.
mãe: o que é que ela tem para a achares a mais gira? são os sapatos?
miguel: sim, são os sapatos, os sapatos dela são giros, mas é mais porque se tivesse que escolher uma namorada, escolhia a loirinha
mãe: hummm.. ela é muito velha para ti, não achas?
miguel: sim, acho
mãe: e como sabes que é mesmo ela? a que escolhias para ser a tua namorada?
miguel: porque se ela estivesse em perigo.. eu ia salvá-la.

(as crianças estão muito mais perto das origens, se perguntar-mos a um adulto: porque é que a escolheste? ficará atrapalhado, a meter os pés pelas mãos, a pensar nisso, provavelmente não saberá definir. uma criança respondeu prontamente "porque em caso de perigo era ela que eu salvava". é afinal, tão simples).

viciados no facebook?



no facebook estão os amigos, os sítios que gostamos, a família e as pessoas que admiramos, estamos ligados, informados, independentemente da distância física ou abstrata, partilhamos, comunicamos (gosto destes dois verbos: partilhar, comunicar), escrevemos e lemos também (escrever e ler são outros dois verbos simpáticos), gosto de escrever (tenho tinta de esferográfica nas veias, não serve para nada, nutrientes não tem nenhuns, nem qualquer substância ou sentido, só o vício de sair), escrevemos, outras vezes fazemos copy paste (que quer dizer que lemos), viciados no facebook? talvez. eremitas (e já agora sem vícios), é que não!

isto a propósito de...

"... Eu sei que preciso de café, porque, todas as manhãs, enquanto não tomo o primeiro, sinto um peso na cabeça que me empurra até ao chão. E faz com que o mundo rode descontrolado, ora mais lento ora mais rápido, mas nunca na minha velocidade. Enquanto eu não bebo café, os outros ficam desnorteados, que nem baratas tontas, atropelam-se à minha frente, fazem perguntas estúpidas ou calam-se de propósito, só para me irritar. Por isso eu bebo café. Talvez seja um vício.


Eu sei que não preciso do Facebook, porque enquanto não abro o computador e digito a morada nada de especial me acontece. Não tenho calafrios nem tiques nervosos, a cabeça não pesa e o mundo, bem ou mal, continua a rodar na mesma direção. Mas até já aconteceu passar alguns dias sem ir ao Facebook sem qualquer alteração taquicárdica relevante. Contudo vou quase todos os dias ao Facebook. Descobri uma imagem, com alguma graça, em que o símbolo da rede social era desenhado em cocaína. É legitimo colocar-me a questão: estarei viciado?


Quis explorar mais um pouco esta questão. Sobretudo porque há uma coisa que me faz confusão: a minha tia sempre falou horas ao telefone e eu nunca ouvi ninguém dizer que ela era viciada em telefonemas. A minha avó escrevia inúmeras cartas, mas nunca ninguém sugeriu que se desintoxicasse do papel e da caneta. E o meu avô, tal como eu e centenas de milhares de pessoas, era 'viciado' em jornais, sendo que, ao longo da vida, gastou largas dezenas de contos a consumir aqueles papéis dobrados aparentemente inúteis, sem que ninguém o acusasse de vicioso.


Procurei definições no dicionário, e apercebi-me que a palavra vício em aceções suficientes para abranger quase tudo. Mas, em geral, é usada como algo de nocivo, recorrente, irresistível e supérfluo. Fumar é um vício, mas comer é uma necessidade, claro está. Porque comer é algo corrente e irresistível, mas não será nocivo nem supérfluo.


Parece-me que vários meios tecnológicos se podem tornar viciantes, o mais frequentemente apontado é o dos videojogos, porque consomem demasiado tempo a demasiados adolescentes. Mas nunca ouvi ninguém preocupar-se com o vício da leitura, apesar de poder provocar dificuldades de sociabilização semelhantes ou maiores. As redes sociais talvez possam ter alguns desses traços, tudo depende do uso que se lhes dá,. Mas tratando-se, acima de tudo, num meio de comunicação, estar viciado no Facebook significa estar viciado nos outros. Um vício a que só se escapam os eremitas. Esses estão viciados em si próprios, o que talvez seja uma doença muito mais grave."




Homem do Leme: Esta cena do Vício


Manuel Halpern


16:26 Quinta feira, 6 de Out de 2011

Ler mais: http://visao.sapo.pt/homem-do-leme-esta-cena-do-vicio=f625613#ixzz1toAn3JoR



27.4.12

este blogue é para ti

a mãe é forte e frágil (este blogue é para ti filho), a mãe tem "tanto de maternal como de lasciva” (dizem, eu não acho, dizem :)), a mãe ri muito, às vezes de si ou da própria desgraça porque a vida é um circo de verdade, mas a maior parte das palhaçadas é porque a mãe é feliz e gosta de brincar. ultimamente não tenho feito palhaçadas, porque me sinto profundamente triste.. o avozinho deixou as tintas, os livros a música e a alma espalhada por todo o lado, enfim, as ferramentas. as ferramentas todas que a mãe precisa para voltar a ser feliz, mas a mãe ainda não conseguiu usá-las.

não vês as lágrimas da mãe porque estão na garganta à espera que tu adormeças. mas às vezes já estás a dormir e elas nem sempre saem, lágrimas de adulto chegam a fazer gotas enormes, tão imensas que para saírem trazem tudo agarrado e mesmo contigo a dormir, a mãe evita trazer tudo agarrado.

tudo é muita coisa porque os adultos já guardam coisas há muitos anos.
um dia quando leres estas coisas (este blogue é para ti filho), lembra-te que o avozinho deixou as ferramentas todas e tu, vais saber usá-las. 


caixinha de esmolas


.. aqui está um musico de rua, vê-se logo pela caixinha de "esmolas" na mão esquerda.

in basilica da estrela

a ler o jornal..


.. a ler as notícias do CM:

 "ora bem.. diz aqui.. o ke lã, o clã, o clã. á ve i i ro.. aveiro. rre rre ú rreúniu. em madri madri. de. madride.

no trabalho da mãe..




area de vencimentos (salários), muito bem escolhido não há duvida, é uma area com futuro.. :)

http://pt-pt.facebook.com/conservatoriolx

19.12.11

18.10.11

os primeiros rabiscos :)

11.10.11

esta coisa do luto


faz sentido. o preto ajuda a honrar, talvez seja isso, mas é mais aquilo que nos vai cá no fundo (as cinzas, quando o corpo arde por dentro). a vida deixa de dar às cores, é preto no branco, cru e frio. deixa de haver brilho, fica tudo baço quando os olhos transpiram. o arco-íris é a imaginação das crianças e dos ilustradores de contos.

preto, preto, por fora (sei que pareço um corvo), e por dentro (são as cinzas, quando o corpo arde).

3.10.11

"é preciso esquecer devagar. se a pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar para sempre"

"Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?


As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.

É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.

Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.

Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.

O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar."

Como é que se Esquece Alguém que se Ama?

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'




1938-2011

29.9.11

eu sempre fui muito parva, graças a Deus

eu sempre fui muito parva, e o meu pai também era muito parvo, graças a Deus, quando nos juntávamos era a ver quem é que conseguia ser mais parvo. parvo = a comediante, ter a capacidade de rir às vezes até da própria desgraça, ou fazer de palhaço só para arrancar um sorriso a alguém que estivesse muito triste, como se a vida fosse um circo de verdade. ultimamente tenho andado muitíssimo parva, não é nenhuma espécie de homenagem póstuma, é antes o exercício (o exercício possível) de... exorsizar?


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26.9.11

efeito dominó

a minha vida tem mais um efeito: efeito dominó. cai um, caem todos.
ando tão atenta para não me deixar cair, tão atenta.

23.9.11

09:40AM

há horas que custam uma eternidade a passar.

22.9.11

esta certeza que me invade...


... sempre que deixo que ela (fotografia) me conte a historia.

HISTORIA

são arcanjos e anjos, os arcanjos (o pai e a mãe), os anjos (os filhos). todos já partiram no sentido dos ponteiros do relógio, tudo termina exatamente no ponto onde começa (da esquerda da foto para a direita, regressando a esquerda no sentido dos ponteiros de um relógio).
dos anjos só um está ao colo do pai. e só esse voltou para o colo do pai. os outros anjos estão de volta das saias da mãe. só um voltou para o colo do pai (marcando o ciclo inevitável das horas?)...


P.S.: esta é a história (e a ilustração) mais bonita e mais triste que eu alguma vez tive que ler, li, a mim própria. é tão infinitamente triste que a acho muito mais bonita do que triste. 

21.9.11

um mes, quase

foi isto que povoou a minha cabeça todo o dia de hoje, todas as horas, cada minuto: "não aguento mais" "não aguento mais" "não aguent...", estou a quase um mês a viver (?) sem o meu pai, um mês, um mês é tão pouco tempo e eu já não aguento mais...

não liguei para casa só para não ouvir a voz da minha mãe embrulhada na garganta, e o barulho que as lágrimas fazem quando caem na roupa escura, nada é mais importante que aquela solidão, nada é mais importante e eu no trabalho, num monte de papeis "se ligo, largo tudo".

não estou a partilhar isto publicamente por ter vontade de dizer ao mundo! o quanto estou triste (eu sempre fui discreta na alegria e na tristeza, nada dada a exibicionismos), estou a partilhar isto porque não me saiu da cabeça (nem por um minuto, nem enquanto os outros falavam, nem enquanto eu falava (respondia?), não me saiu da cabeça isto "eu não aguento mais" "eu nunca mais vou ver o meu pai" "eu não aguent..." e aguentei.
é só para partilhar que... aguentamos.

20.9.11

viver em estado de memória


conduzo, respiro (vivo), adormeço, faço o verbo mãe (o de mulher ainda não reaprendi), e ponho outros verbos em movimento (trabalhar, estar, responder, comer, ...), tem que ser, mas vivo (respiro) em estado de memória.

16.9.11

obs.:

quero morrer como o meu pai: quando tiver reunido um numero de pessoas suficientes que me chorem.

exemplo

somos aquilo que nos ensinam, mas somos muito mais os exemplos que nos dão.
estou infinitamente mais preocupada "se sou um bom exemplo para o meu filho" que ensinar-lhe seja o que for.

dentinhos de micróbio

o meu filho com os dentes, não dá trabalho nenhum. quando estão a nascer não se queixa, quando estão a abanar arranca-os. sozinho :)

a estrelinha

o miguel pediu à estrelinha para ter um bom dia na escola, ou gostar da escola (1º ano, 1º dia), não sei dizer muito bem, ele pediu tão baixinho...


mas a estrelinha percebe tudo :)

4.9.11

a última vez que falámos


a última vez que ouvi a tua voz (pai).

27.8.11

7 de Julho 1938 - 23 de Agosto 2011



não estou em mim, não ando em mim, feita em mil pedaços, mas é lúcida esta minha gratidão, em meu nome, em nome da minha mãe e do ricardo, agradeço infinitamente à família, amigos, colegas, vizinhos e pessoas que mal reconheci mas que de alguma forma o meu pai cativou, que estiveram presentes e partilharam connosco (e partilham) esta dor in su por tá vel. agradeço aos que não estiveram presencialmente (os que já partiram, os que foram apanhados em viagem, aqueles cujo coração não aguentou tamanha violência e fraquejou), mas o sofrimento e o conforto que me deram foi tanto como aquele que recebi presencialmente.


cada palavra, cada abraço, cada beijo, cada silêncio, salvou-nos minuto a minuto do desespero. sem cada um de vós (sem excepção) não teríamos sobrevivido a esta dor. agradeço infinitamente à equipa do INEM, aos BV, aos agentes da 61ª esquadra da PSP (em particular ao agente que me levou em mão e deixou aproximar-me do corpo do meu pai), à Policia Judiciária, ao Pde. António (Francisco) e aos senhores da agência Bom Jesus, todos sem exceção foram profundamente humanos, competentes e dignos nas suas ações.
não consigo mais que agradecer. todos os dias me lembrarei e tentarei estar à altura da vossa amizade, das vossas ações. que os anjos da guarda vos protejam e protejam aqueles que amam.

o último obrigada é o primeiro, obrigada pai pelas lembranças que nos deixas-te, pela tamanha herança de dignidade, bondade, tolerância e sensibilidade. foste o pai, o homem e o avô mais sábio e afetuoso que poderíamos ter tido.
deram-te um número quando nasceste 133227, deram-te um número quando morreste 1869, entre um e outro fizeste por não ser um número, entre um e outro nunca foste um número, todos te conheciam pela figura e pelo carater.
querias que eu me comportasse 'nesta hora' com dignidade e discrição, e que fizesse por rir, eu não me esqueci da tua vontade pai e tentei, eu tentei.. mas tu mereces cada lágrima sentida. eu não sei se te mereci, se mereço agora estas lembranças boas, mas tentei pai, tentei merecer, tu sabes. e sabes o quanto te amei desde o 1º dia ao último, o quanto te amo e o quanto sou capaz de sofrer por ti. o quanto sou capaz de sofrer por ti pai.

boa viagem pai, agora estás dentro de mim num lugar sem janelas de onde nunca te deixarei cair, olha pelo nosso menino.

obrigada a todos, obrigada, obrig..

filha maria joão

11.8.11

e agora...

... vou de férias. chegou a minha vez (a vez da minha senha que tenho entre dedos há um bom par de meses, o papelinho está um bocado desfeito, a cor... verde? muito desbotada, mas ainda se vê o número da senha, senha número 39771... ), obviamente vou de férias para um destino todo salpicado de praias (medievais), e no regresso está prevista uma breve escala noutro maravilhoso destino de férias também ele geograficamente por baixo de um grande sol (pintado pelo Gaudí).

depois hei-de voltar aqui.. devagarinho.

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facebook parte II

no facebook acontecem 2 verbos que são da > importancia: o verbo comunicar e o verbo partilhar.

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Isto do facebook...

... é como um puzzle meu, não interessa (nem é sequer interessante) que tenha muitas peças (amigos), tem que ter as peças que encaixam. Muitas peças ficam de fora (não encaixam), algumas peças ficam de fora (não encaixam mesmo, nem à força), o puzzle no fim ficará com alguns lugares em branco (daqueles amigos que já tem demasiados pedidos de amizade :) daqueles que eventualmente nunca aceitaram o convite.

o (meu) puzzle não tem que ter muitas peças, tem que ter as peças que encaixam, umas nas outras, sem forçar, é a (grande, grande) vantagem de não ter fãs  :)

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9.8.11

e eu... digo-lhe que sim



gosto de cafe (curto, intenso a escaldar em chávena fria), gosto de ler e de escrever, de voar, de queijo (todos), do teatro! de voar (já tinha dito), de aviões (já tinha dito aviões?), de carros de F1, de assistir as corridas, gosto de groselhas, do cheiro da salva, de opera, do hard Rock café, das casas de fado, de fado, de sapatos, dos animais todos, dos Datsun 1000, de amoras silvestres (os cavalos e os golfinhos são os que gosto mais, mas gosto dos animais todos, ate de aranhas e galinhas), gosto das artes, das danças, mas mais ainda das crianças! gosto de calças de ganga, das cassetes de cartuxo, da view master, do speady gonzalez, gosto de rir, gosto de dormir com uma t shirt muito usada onde mal se le: "grey's anatomy", gosto de azul cor de petróleo, gosto de beijos, de sex_! mas o meu filho diz que tenho que gostar dele mais do que tudo na vida, e eu … digo-lhe que sim.

When someone is flirting with you...



Afixo aqui estes cartazes e depois é só mensagens na caixa do correio (o livro de exclamaçoes do blogue), com propostas de massagens, ou pior! alguém (muito parvo) a querer tirar-me o diabo do corpo :)


Afixo aqui estes cartazes e sou mal interpretada (devia fechar os comentários a este post por causa das tosses), e não devia (ser mal interpretada), eu só gosto do cartaz, acho mesmo, mesmo muita piada.


4.8.11

The heart in the middle, you see?




Michael Hutchence and Bono Vox "Slideaway"



Are you gonna wake again?

Are you gonna take it down?

Oh babe, I don't wanna deal it

Oh, make it alright

Gimme some, my love

Away, away, away



I just wanna slide away and come alive again

I just wanna slide away and come alive again

I will see that love again, and find a life again

I just wanna slide away and come alive again



I wanted to let it go

Just couldn't let it go

I wanted to let it go

Just couldn't let you go



I would catch you

(Just couldn't let you go)

I'd catch you as you fall

(Just couldn't let it go)

I would catch you

(Just couldn't let you go)

I'd catch you if I heard your call



But you tore a hole in space

Like a dark star, falls from grace

You burn across the sky

And I would find you wings to fly

And I would catch you

I would catch your fall



I just wanna slide away and come alive again

I just wanna slide away and come alive again

I will see that love again, and find a life again

I just wanna slide away and come alive again

Silly Season translate




Brincadeiras de Verão (II)


Extraído integralmente de http://pedroroloduarte.blogs.sapo.pt/

Pedro Rolo Duarte Quinta-feira, 4 de Agosto de 2011

"Como esta época do ano é propicia a leituras leves, e eu não quero que falte nada aos leitores deste blog, decidi coligir, para começo de conversa, um conjunto de frases habituais nas páginas da imprensa. E traduzi-las.

Constitui um código que os leitores habituais e os amigos compreendem, mas que aos incautos pode escapar. Agora já não escapa.

Assim, quando lerem...

O casal X está “numa cumplicidade crescente”, isso é = a: já se embrulharam e estão na fase de se deixarem fotografar. Algumas semanas mais tarde, a legenda será “já não escondem o amor que os une”.

A figura X afirma: “Estou disponível para o amor”. Isso é o mesmo que: “Por favor, alguém me pega?”. Ou: “Hello, não querem ser meus amigos no Facebook?”

Casal explica coisas: “Numa relação depois dos 40 anos, a amizade e o companheirismo ganham uma importância crucial”. Forma discreta de dizer: sexo, só uma vez por mês e é em anos bissextos...

Figura conhecida acima dos 30 anos afirma: “Já senti o apelo da maternidade”. Bandeira de alerta máximo levantada e um pensamento: “que se cuide o próximo, não tomo quaisquer medidas preventivas e quero mesmo ser mãe”.

Parte de casal explica longevidade do amor: “A nossa relação baseia-se em pilares muito fortes”. Ou seja, “eu tenho o dinheiro, ela tem a paciência”. Ou vice-versa.

Casal já com uns anitos declara: “O mais importante é o respeito e a amizade”. Isto quer dizer: já não te gramo nem com molho de tomate mas enquanto não me decido, dou entrevistas

Titulo longo - mas não incomum - de revista: “Indiferente às noticias sobre infidelidades do marido, ZZ descansa no Algarve”. Isto é recado para o infiel: “ou te chegas à frente com muito dinheiro ou esquece lá isso do divórcio”

Casal apanhado em noite algarvia: “Estamos bem e gostamos do que estamos a viver. O tempo dirá o resto”. Tradução simples: namoro de Verão

Claro que este é um caso típico de “work in progress”. Amanhã pode aparecer um título bombástico do género “O Amor não escolhe idades” e isso não quer necessariamente dizer José Raposo. Estar atento faz a diferença."

3.8.11

Jazz, ou o Auto-flagelo

Nunca gostei lá muito de Jazz.
E no entanto o Jazz faz-se acompanhar dos instrumentos que mais gosto de ouvir: o clarinete baixo, a bateria, o saxofone, o trompete, o vocal, não, os instrumentos que mais gosto são os timbales, a bateria, as guitarras e o vocal, assim é que é, mas também gosto de ouvir o clarinete baixo, o saxofone, o trompe...
E nunca gostei lá muito de Jazz e tenho pena.

Tudo é uma questão de treino (neste caso de ouvido), tenho ido aos treinos (Hot Clube) ao longo dos anos, mas gostar de Jazz é para mim um exercício muito... cansativo?

De modo que acabei de comprar 2 CD’ s de música Jazz: John Coltrane e Lester Young, só para me auto flagelar.

31.7.11

Merda! Sou lúcido

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"Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa

Aquele homem mal vestido, pedinte por profissão que se lhe vê na cara,

Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;

E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha

(Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:

Não sou parvo nem romancista russo, aplicado,

E romantismo, sim, mas devagar...).

Sinto uma simpatia por essa gente toda,

Sobretudo quando não merece simpatia.

Sim, eu sou também vadio e pedinte,

E sou-o também por minha culpa.

Ser vadio e pedinte não é ser vadio e pedinte:

E' estar ao lado da escala social,

E' não ser adaptável às normas da vida,

'As normas reais ou sentimentais da vida -

Não ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,

Não ser pobre a valer, operário explorado,

Não ser doente de uma doença incurável,

Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,

Não ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas

Que se fartam de letras porque tem razão para chorar lagrimas,

E se revoltam contra a vida social porque tem razão para isso supor.

Não: tudo menos ter razão!

Tudo menos importar-se com a humanidade!

Tudo menos ceder ao humanitarismo!

De que serve uma sensação se ha uma razão exterior a ela?

Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,

Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:

E' ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,

E' ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte.

Tudo o mais é estúpido como um Dostoiewski ou um Gorki.

Tudo o mais é ter fome ou não ter o que vestir.

E, mesmo que isso aconteça, isso acontece a tanta gente

Que nem vale a pena ter pena da gente a quem isso acontece.

Sou vadio e pedinte a valer, isto é, no sentido translato,

E estou-me rebolando numa grande caridade por mim.

Coitado do Álvaro de Campos!

Tão isolado na vida! Tão deprimido nas sensações!

Coitado dele, enfiado na poltrona da sua melancolia!

Coitado dele, que com lagrimas (autenticas) nos olhos,

Deu hoje, num gesto largo, liberal e moscovita,

Tudo quanto tinha, na algibeira em que tinha olhos tristes por profissão

"Coitado do Álvaro de Campos, com quem ninguém se importa!

Coitado dele que tem tanta pena de si mesmo!

E, sim, coitado dele!

Mais coitado dele que de muitos que são vadios e vadiam,

Que são pedintes e pedem,

Porque a alma humana é um abismo.

Eu é que sei. Coitado dele!

Que bom poder-me revoltar num comício dentro de minha alma!

Mas até nem parvo sou!

Nem tenho a defesa de poder ter opiniões sociais.

Não tenho, mesmo, defesa nenhuma: sou lúcido.

Não me queiram converter a convicção: sou lúcido!

Já disse: sou lúcido.

Nada de estéticas com coração: sou lúcido.

Merda! Sou lúcido."

Fernando Pessoa in
"Álvaro de Campos cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa"