oreinabarriga

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3.9.08

As descobertas (ou o Post do sexo no 52)

Galileo Galilei descobriu a dinâmica, Madame Curie descobriu o rádio (fonte de radioatividade), Luís Pasteur a vacina contra a raiva, Santos Dumont, o avião, Karl Benz o automóvel, um homem de 28 anos residente em Alijó descobriu que a mulher o traía com um GNR de Presandães, a Nasa descobriu uma galáxia 'baby boom' que é uma autentica fábrica de fazer estrelas, gera mais de quatro mil estrelas por ano! Thomas Edison descobriu a lampada, Bell descobriu o telefone, Luís de Camões descobriu o que é o amor que foi nada mais nada menos que a descoberta de um verbo a mais, uma vez que não lhe é atribuída nenhuma utilidade.

"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer (...)"

Isto na prática não nos leva a lado nenhum (como levam os automóveis), não serve de diagnostico como a radioatividade (raio x), não nos ilumina como a lampada, não é estrela nem vacina sequer.
Amar é um verbo e os verbos implicam movimento (muito mais que um simples movimento de vai-e-vem). Ainda por cima amar é uma ginástica altruísta que implica a abstinência do egoísmo e todos nós somos compulsivamente viciados em egoísmo (egoísmo, conveniencia, comodismo, é a mesma coisa).
Amar é ter saudades, é ter passado apenas meia hora e ter saudades e é acima de tudo desejar que a outra pessoa seja feliz, ora, o que nós desejamos durante o verbo amar não é que a outra pessoa seja feliz, isso é lá com ela, ela que se arrume, o que desejamos é que seja feliz connosco.
E os amigos que se perdem?
Amar é o melhor exercício para perder amigos.
Há uns anos atrás estava eu cheia de pressa e fiz sexo na escada do 52 da Rua dos... não interessa o nome da rua, era um prédio antigo, em Lisboa, daqueles com monta cargas (quem sabe o que é um monta cargas?), sempre tive um fascínio pelos antigos elevadores de mercadorias que coexistiam ao lado dos elevadores de passageiros, eram ambos de grades e fiz sexo (rápido, amar é ter saudades, é ter passado apenas meia hora e ter saudades, mas eu fiz sexo, a urgência foi só porque podia aparecer alguém), ninguém faz amor de pé encostado a um monta cargas, de pé encostado a um monta cargas é substantivo, comum, é tudo o que pode ser visto, agarrado ou sentido, precedido ou não de artigo, pode ser uma pedra, um caderno, um computador, um punhado de terra, um homem, o sexo é substantivo mesmo durante o movimento de vai-e-vem (substantivo abstrato; prática de acções verbais) e mesmo quando acaba, designa a existência de qualidades ou sentimentos humanos, como: saída; a existência do belo; a saudade, mas em abstrato.
No fim de semana seguinte ia a descer a calçada com a minha amiga Manuela e quando passamos à porta do 52 ela vira-se para mim e confessa-me que teve um momento de aflição ali mesmo.

manuela: - Estava tão aflita!
eu: - E foste ao 52?
manuela: - Tive vergonha de fazer aqui na rua, encostada a um carro sabes? e o 52 era o único que tinha a porta aberta.
eu: - E reparas-te no monta cargas?
manuela: - Pois foi justamente no monta cargas que fiz, estava mesmo aflita.
eu: - Eu também (sei o que isso é).
manuela: - Sabes? Não me digas que também...?
eu: - Hum, hum... Antes de ontem, mais precisamente.
manuela: - Jura!
eu: - Também estava aflita.
manuela: - Eu sei que é uma coisa horrível mas eu estava tão aflitinha, tão aflitinha para fazer chichi, se a porta do 52 não estivesse aberta eu não aguentava mais e tinha feito pelas pernas!

E foi assim que a Manuela deixou de ser a minha melhor amiga porque nesse dia, a descer a calçada descobri que amava o substantivo, tanto o comum como o abstrato, descoberta que não me levou a lado nenhum, ao contrário do raio x que me diagnosticou a espondilite, da vacina contra a raiva que me impediu de dar com um sapato na cabeça da Manuela, do automóvel que me levou a casa e da descoberta do GNR de Presandães que estava cheio de pressa para ir ter com a mulher do individuo de Alijó e não me fez o teste do balão, e porque é impossível continuar amiga de uma pessoa que faz chichi no mesmo lugar onde eu fiz verbo escaldante.

22 comentários:

Gema disse...

Bem-vinda! Bem-vinda!
Já estava a ficar aflita.

Becas disse...

Está a passar.

Carmina Burana disse...

A passar?
Aah!
(só se for por cima, estou esmagada)
A sério, isto é tudo culpa do novo acordo ortográfico, repararam que estou a fazer um esforço para escrever em conformidade? Radioatividade em vez de radioactividade, abstrato em vez de abstracto, estou a suprimir as consoantes mudas ou seja se não se pronunciam vão à vida,
ação, ereção, reação. Mantém-se em fricção, sucção.
Ato, atual, teto, projeto. Mantém-se em facto, bactéria, octogonal.
Anticoncecional. Mantém-se em núpcias, opcional.
Adoção, conceção. Mantém-se em corrupção, opção.
Egito, batismo. Mantém-se em inapto, eucalipto... ou seja, passa a escrever-se como se diz. O hífen também vai deixar de existir, há-de passa a há de, e só a couve-flor é que leva tracinho, a couve-flor e os elementos da biologia e da zoologia (vai-se lá saber o porquê da exceção) já em relação aos acentos, não pesco nada, é matéria mais complexa, já tem a ver com a pronuncia que varia de país para país da CPLP e muito embora tenha ainda 6 anos para escrever nas duas grafias a verdade é que tudo isto me inibe, me embaraça, me provoca um certo… constrangimento?

Rainha Reles disse...

Pronto. Eu quando li o post pensei: Tá a passar, novo post, isto devagarinho tá a passar, afinal…

É que este teu comentário, esta tua “seca”, “aula”, “lição”,
“consideração”, “banhada”, sobre novo acordo ortográfico não é mais que um justificativo, arranjado às pressas ainda pra+. Justificativo, acrobacia, essas tretas que vocês (artistas) fazem para exorcizar. Manobras de distracção, perdão, distração.

Rainha Reles disse...

Seja como for sininho, tá genial o post.

Carmina Burana disse...

Sou uma exorcista, de mim.

Anónimo disse...

Não se percebe nada do que vocês dizem caramba.
Seja como for, o Post está genial, que é o que interessa.
Concordas c/ o novo acordo?

david

Carmina Burana disse...

Concordo (David) com o novo acordo. Acho-o até um pouco tímido, pouco inovador. Sou a favor das mudanças, representam evolução (em regra). A língua Portuguesa é pouco dinâmica, e demasiado complexa e o novo acordo facilita a aprendizagem da língua Portuguesa, só nisto vejo uma enorme vantagem.
Gosto particularmente da extinção das consoantes mudas, simplificam a escrita, basta nos lembrarmos do classicismo: alphabeto, pharmacia, philosophia, archeologia, sympathia, jurisdicção, lucta, occasião, soccorro, victima, Sciencia! Imagina escrever assim hoje em dia!
Respeito os conservadores da língua que nutrem um grande afeto pela grafia actual, e os que acham que este acordo desrespeita a etimologia das palvaras, mas não concordo nada com eles. O Português diz-se e assim vai continuar, as palavras em Português são ditas (não têm aquela musicalidade e descontração que se torna cansativa como o Inglês dos EUA ou o Português do Brasil), ficou tudo bem, apenas a escrita ficou mais simples e hábil.

MiudaCute disse...

Não!! Pleeeeease, acordo ortográfico não!
Eu sei, foi mau. Não estou a ajudar nada pois não? Desculpa. Não fiques zangada comigo (nem com o mulherio), pronto, pronto, não se fala mais nisso.

Anónimo disse...

Fui buscar este Post teu do VPV, passo a citar:

"Vasco Pulido Valente é o novo comentador (todas as 6ªs-feiras) do Jornal Nacional. Um dos temas de análise (escolhido pelo próprio) foi o novo acordo ortográfico que a esta hora está em cima da secretária do Presidente Jorge Sampaio para ratificar.
- Este acordo ortográfico tem quanto a mim, duas virtudes. Uma é estúpido. Duas é inútil.
Já tinha saudades, até porque me tenho esquecido de comprar o jornal Público."

david

Anónimo disse...

Mudaste de ideias em relação ao acordo ou achas apenas que o VPV é irónico e isso te agrada?

david

Carmina Burana disse...

Na altura que publiquei esse post ainda não conhecia nada do conteúdo do novo acordo, não discordava nem concordava como calculas David, mas estava otimista, como disse, as mudanças em regra agradam-me. Se na altura conhecesse o acordo, não mudava de ideias até porque raramente concordo com o VPV, é mesmo porque adoro a ironia, o sentido de humor, a visão e a sagacidade dele.

7 Sóis disse...

Há des mostrar-me onde fica esse 52. Também tenho um fraquinho por monta cargas.

Carmina Burana disse...

7 Sóis? Preferes que apague o comentário ou deixo ficar e tu fazes um ar envergonhado?

7 Sóis disse...

Eu estou envergonhado. Até corei. Como é que eu fui capaz de dizer aquilo? Não era eu.

Carmina Burana disse...

Desta vez passa.

Carmina Burana disse...

:)

Rainha Reles disse...

Já disseste "Sou a favor das mudanças, em regra representam evolução" pelo menos 2x aqui.
Estás a tentar convencer-te disso é?

Carmina Burana disse...

Vejo que já encontraste o sarcásmo. Que pena. Ficavas mesmo melhor sem ele.

Carmina Burana disse...

Não, não estou a tentar convercer-me disso, sou mesmo a favor das mudanças (em regra). Já no campo emocional, a estabilidade faz-me bem.

Carmina Burana disse...

Está respondido?

Rainha Reles disse...

Desta vez passa.