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7.1.08

Queixinhas

Aos queixinhas, aos Bufos, aos Espiões, aos Picuinhas, aos Delatores, aos que não têm nada mais para fazer, aos que não têm vidinha própria, claro está, para se entreterem com ela, aos que estão sempre a pedir o livro de reclamações, aos que passam a vida a meter os outros em tribunal, no tribunal Judicial, no da Comarca, no do Trabalho, no Público, no do Comércio, no da Alfândega, no da Família e de Menores, nos Juízos Cíveis, Criminais e de Execução, nas Varas de competência mista, se não metem, queriam, gostariam ardentemente, como se fosse bom, pagar ao advogadozinho, perder a causasinha por falta de fundamento (os fundamentalistas sofrem sempre de escassez de fundamento, ou fundamentação inadequada, desconhecimento da Lei e tal... é um paradoxo, mas é verdade).
Este Post é dedicado aos palermas que passam a vida a ligar para o chefe, para a DGCI, para a Drel, para a Dren, para a DECO, para a ASAE, a escrever cartinhas, (cartinhas registadas, claro, com aviso de recepção e mais não sei o quê) para o provedor, para a gestão de condomínios, para o Presidente da Junta, da Câmara, não, melhor, para o Sócrates!
Blrarrrrc!! Q' nojo!
Conheço uma criatura, solteira por acaso, ou não, sem filhos, nem nada, (tem um carrito, um carrito velho, de noventa e dois, um charuto, portanto) que ocupa assim os dias (e as noites também talvez): a meter colegas e vizinhos em tribunal. Cada vez que a encontro, já meteu mais um, ou dois. Eu como não tenho lata para mudar de passeio, ela conta-me mais ao pormenor. Fico a saber que não dorme (pobre coitada) por causa do ar condicionado do vizinho de cima, nem por causa do sexo ruidoso do vizinho do lado, nem por causa do Dono do Restaurante, o vizinho de baixo. Diz que não descansa enquanto não vir no xelindró o proprietário do restaurante, porque, (diz ela, quem sou eu para duvidar?) que não tem Alvará para estar a arrastar cadeiras até às duas da manhã. Fico a saber que noutro dia foi atropelada, por uma bicicleta, ou seria uma cegonha encadeada? Bem, já não me lembro. Ia ao telemóvel, isso fixei, fico a saber que estacionaram uma viatura mesmo em frente à porta da garagem do prédio dela e ela não põe o charuto sequer na garagem (parece-me que não consegue enfiar o charuto lá dentro por causa das manobras que são por demais complexas) mas tem vizinhos que conseguem enfiar os carros lá dentro e sair e tudo apesar das manobras por demais complexas, e enquanto eles vão e não vão a tribunal, poderiam querer sair da garagem e então ela fez o favor de chamar a bófia e de por a cegonha em tribunal de caminho. Noutro dia, tirou uma quantidade de fotografias a um sem abrigo que andava aos caixotes e deu queixa do sem abrigo às autoridades porque o sem abrigo não se lavava, não cortava as unhas, nem o cabelo e cheirava mal a 50 metros de distância (isto do caixote à varanda dela) e quando foi enxotado (de varanda para caixote com os respectivos 50 metros pelo meio) mandou-a para o vocês estão a ver não estão? Para onde é que o sem-abrigo a mandou, não estão? Pró coiso e meteu as autoridades em tribunal porque dizia no auto que tinha sido arquivada a queixa por impossibilidade de reconhecer o individuo (acho que estava mesmo muito sujo, o individuo, ou então, má focagem da imagem, flash desligado, qualquer coisa).
E aquelas pessoas que parece que só saem de casa para ver se alguém comete uma irregularidade?
E que só vão ao café para reclamar do fumo?
E só vão ao cinema para reclamar das pipocas?
E só vão para o trabalho para reclamar dos colegas? E às lojas para pedir o livro de reclamações?
E aos CTT para pedir registos e avisos de recepção?
Livra!
São as mesmas que vêm passear o cãozinho para a minha porta e o cãozinho caga e mija à minha porta (o cãozinho ou a pessoa Dona do cãozinho, não sei, não vejo, digo que é o cãozinho, mas na verdade não sei) com grande àvontade e depois dão de frosques a assobiar para o ar e eu não faço queixinhas porque a essa hora (à hora em que a pessoa Dona do cãozinho e o cãozinho vêem fazer a sua mija e aliviar-se à porta do meu prédio) eu estou certamente a estender a roupa, ou a brincar com o meu filho ou a fumar o meu cigarrinho e só dou por isso quando a sola dos sapatos está por demais macia quando saio à rua e o cheiro, também vou lá pelo cheiro.
São as mesmas que cospem para o chão.
São as mesmas que por vezes não se lavam com aprumo e cheiram a sem-abrigo.
Não se arranja um marido ou uma esposa para estes palermas terem mais o que fazer? Cunhados, sobrinhos, um aquário, um hobbie, um amante, ou dois, um chefe que não emprenhe pelos ouvidos, uma corrida matinal, um banho de espuma, uma partida de futebol, sexo à fartazana, em bom, umas idas grátis aos espectáculos em cena caneco, qualquer coisa pá, tirem-me estes emplastros da frente para eu que só reclamo quando vejo que tenho mesmo razão e já na última, é que já mesmo na última, poder fazê-lo à vontadinha? Sem ser a senha 123 mil novecentos e trinta? Sem recear que prescreva? Sem terem acabado as folhas do livro de reclamações? Não ter sobrado nem umazinha?
Já agora ó queixinhas, ó mariquinhas, ó cobardolas, ó bufo, ó palermazeco, ó espia d' um raio? Já respira melhor já? Já respira melhor do narizinho? Já não ressona? E tosse? Já não tem? Tossesinha? Não? Já vai mais vezes ao centro comercial fazer as comprinhas? Já dá um pulinho à discoteca com a nova Lei do tabaquinho? já? Pronto... ainda bem.
Ao menos agora estão todos no seu lugar, fumadores para um lado, queixinhas, bufos, espiões, picuinhas, delatores, que não têm nada mais para fazer, que não têm vidinha própria, claro está, para se entreter, que estão sempre a pedir o livro de reclamações, que passam a vida a meter os outros em tribunal, no tribunal Judicial, no da Comarca, no do Trabalho, no Público, no do Comércio, no da Alfândega, no da Família e de Menores, nos Juízos Cíveis, Criminais e de Execução, ... para o outro!

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