Hoje sai de casa com a sensação que me faltava alguma coisa. Hoje "andei" o dia com a sensação que me faltava alguma coisa. Sensação estranha esta...
Morreu o oleiro José Franco (eu sempre tive um fascínio por oleiros, por oleiros e por mineiros), o criador da aldeia típica do Sobreiro (uma localidade entre Mafra e a Ericeira), que retratou em miniatura, teatros e profissões de uma aldeia saloia do século XX. Caramba, morreu o oleiro José Franco (terça-feira, 14 de Abril de 2009) e eu a ler o que diz o portugaldiário.pt sobre o cão d’ água do Obama, e a ler o que diz a Maya na imprensa: "As pessoas devem ter respeito pela Mónica Sofia, que foi corajosa em aceitar o trabalho, mas eu, eu Maya, é que daria uma melhor capa da Playboy” meu Deus! Morreu o oleiro que criou uma das aldeias mais famosas do mundo e a notícia passou-me ao lado (pelo ângulo morto da visão).
Recorro à minha memória fotográfica (agora tenho que dar-te a minha memória fotográfica, filho, neste momento, porque já não fui a tempo) e lembro-me da sala de aula de José Franco, recriada, com as mesas em madeira, o quadro de ardósia, o armário imponente da senhora professora... Suzete Franco, a filha do artesão e o marido, ficarão a cuidar do futuro da aldeia típica e eu hei de levar-te lá meu filho (com a sensação que já não vou a tempo), e vais ver, o que a minha memória fotográfica te diz: A loja do barbeiro que também arrancava dentes, a mercearia da Ti Helena, os barquinhos, as lavadeiras, a nora, mas do que me lembro melhor é mesmo do oleiro. Do Sr. José Franco. Do senhor que sorria sempre para as crianças, falava sempre com as crianças, tinha um sorriso encantador, embalado pela roda no seu movimento de barro crescente.
Filho, já não vou a tempo de mostrar-te o sr. José Franco, nem ele a tempo de dar-te um sorriso daqueles, embalado pela roda no seu movim...). Deixo-te aqui uma fotografia:
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Não é a mesma coisa (desculpa filho, já não fui a tempo), mas eu hoje acordei com a sensação que me faltava qualquer coisa. Hoje "andei" o dia com a sensação que me faltava qualquer coisa. Entrei como habitualmente no
blogue do
Pedro Rolo Duarte (gosto de ler o Pedro Rolo Duarte desde o
DNa), e li a notícia que me tinha escapado pelo ângulo morto da visão. Sensação estranha esta... Eu só não podia imaginar, que aquilo que me faltava hoje, era um bocado da minha infância.
14 comentários:
teres sabido da morte do oleiro pelo pedro rolo duarte foi uma coisa boa, suavizou o embate. a teres sabido através de um canal de televisão teria sido um golpe maior e não daria origem, provavelmente, a um texto assim, tão emocionado, lindo..
quanto à mágoa, ao "desculpa filho, já não fui a tempo", não calculas as vezes que já me aconteceu, é terrível, não levar a isabel a concertos que me marcaram na infância ou na adolescência porque "já não fui a tempo", peças de teatro que guardei as melhores memórias fotográficas porque "já não fui a tempo", saíram de cena, mas os nossos filhos não têm que viver a nossa infância, apenas temos que lhes dar a oportunidade de criarem as suas próprias memórias.
um beijo (dorme bem) my McWritter
Lindo.
O João dá disse tudo.
Um beijo
O João já disse tudo, pois já. Não há mais nada a dizer. Que o texto está lindo também já foi dito, mas não custa repetir.
O João às vezes também faz isso comigo: deixar-me sem palavras.
O João às vezes também faz isso comigo: deixar-me sem palavras.
a menina do trapézio (aqui em cima) há de saber equilibrar-se
eh! eh!
Débora, Carmina bê, ainda há-de aparecer a outra Maria João Viana... João Ayres: Este blogue tem saida de emergência.
Eu vi a notícia (da morte de José Franco) na sic online, não te quis dizer nada Carminazita. Pelos vistos, foi melhor assim...
O oleiro José Franco retratou da forma mais terna que eu alguma vez vi, Aveiro, a minha terra (a terra do João Ayres) os canais, os típicos barcos moliceiros, as pequenas comunidades de pescadores que se dedicam à apanha da amêijoa e do berbigão, a Vila da Costa Nova com as suas casinhas de “bonecas” às listas verticais de cores alegres, encostadas umas à outras entre a Ria d' Aveiro e o mar, só faltam mesmo os azulejos da Arte nova na representação da “minha” cidade. Tive o prazer, terei de novo o prazer, de lá voltar, com ou sem o José Franco, com os meus filhos, outra vez, seguramente.
Belo texto Maria João. Foi indubitavelmente melhor ter sabido da morte do oleiro por ti.
João David Marinho
2009/04/21
Débora: Queres sem rede ou com rede? Salto mortal ou salto alto?
João David Marinho
2009/04/21
Débora: Para (per)seguidora deste blogue, tens que trabalhar mais um bocadinho.
Mereço ou não um comentário dos teus?
Vá lá, aquele teu comentário lá em cima é apenas um plágio, não valeu.
Sentir a perda de um oleiro que eu nunca conheci, através de um texto teu, é uma forma de escrita incrível.
Já dei ali com “uma espécie de antologia” de textos teus no ‘side bar do blog e tal como um pássaro, vou esvoaçar por aqui. Este blog está cheio de caras conhecidas, sinto-me COM rede, os pássaros costumam ficar presos nas redes, pelo pouco que li até agora, estou certa que é o que me vai acontecer.
João Ayres: O meu filho ontem foi com os avós (paternos) à Aldeia de José Franco
"... os nossos filhos não têm que viver a nossa infância, apenas temos que lhes dar a oportunidade de criarem as suas próprias memórias."
Débora: Não era preciso chegares a tanto...
Isso, estragem-me com mimos.
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