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10.3.09

Museu do brinquedo/ Fundação Arbués Moreira

"desde criança que para mim cada brinquedo é uma nova descoberta e uma
oportunidade para sonhar. Na minha infância a na minha família, em particular o
meu avô materno, ofereceram-me inúmeros sonhos: automóveis, bicicletas,
soldadinhos de chumbo, jogos... brinquedos que povoavam a minha realidade e que
nunca estraguei. Guardava-os, arrumava-os, brincava com eles, e eles foram
ganhando maior importância e espaço na minha vida. Aos 11 anos comecei a
coleccioná-los"

João Arbués Moreira, fundador do museu do brinquedo

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Foto de João Arbués Moreira com 2 anos no carro de fabrico Português SOARFIL de 1937 oferecido pelo seu avô (João) e que figura no museu (foto em baixo com boneco em pasta de papel de fabrico Português GRANDELA c. 1930

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João Arbués Moreira é um homem fascinante como o era o seu avô materno, dono da "Casa Capucho", uma muito conhecida loja de máquinas e ferramentas na Rua da Boavista em Lisboa, que não só tinha uma filosofia muito particular em relação ao desenvolvimento das crianças:

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"o mais importante para o desenvolvimento das crianças é brincar, não estudar!"
os brinquedos são utensílios, ferramentas, que as crianças precisam para
transformarem os sonhos em realidade. É imperativo que brinquem durante toda a infância e tenham as ferramentas necessárias"

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Como a punha em prática! Era um homem abastado e mantinha uma conta aberta na melhor loja de brinquedos de Lisboa, na Rua Augusta, para que os netos pudessem lá ir comprar (ou encomendar) os brinquedos que quisessem, e por cada má nota que traziam da escola, por cada vez que chumbavam oferecia-lhes um carro ou uma bicicleta.
Mais tarde, por ordem dos pais numa tentativa que João Arbués Moreira e os irmãos escapassem à influência do avô, que achava os estudos absolutamente desnecessários, o mais importante era brincar, foram estudar para Inglaterra para se formarem. Mesmo assim consta que o avô descobriu a conta bancária dos netos e depositou uma quantia avultada para que pudessem comprar brinquedos. João Arbués Moreira acabou por tornar-se coleccionador e como também se interessava por história, alimentou a ideia de ilustrar a história da humanidade através do grande legado que seu avô lhe incutira e deixara: os brinquedos.

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"As viagens e o facto de ter estudado em Inglaterra,
proporcionaram aquisições e contactos diversos que enriqueceram de modo
significativo o meu acervo. Uma verdadeira colecção que foi ocupando
todos os cantos da minha casa, e também grande parte do tempo da minha vida de
adulto, procurando sempre aquele brinquedo que me faltava."

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Para que esse legado nunca se perdesse, criou em 1987 a fundação Arbués Moreira à qual doou todo o seu espólio.
Em 1997, a Câmara Municipal de Sintra cedeu o antigo quartel dos bombeiros em troca desta mais valia preciosíssima para a Vila, e hoje, este edifício histórico (e cheio de história) agora recuperado e adaptado a museu, é o 3º mais visitado do país e onde se podem encontrar:

"os brinquedos, meus e de todos os que comigo têm partilhado esta viagem
infindável"

O edifício é constituído por 3 andares (com elevador para garantir a visita a pessoas com necessidades de deslocação especiais) e onde é permitida a entrada de cães, ou seja, é permitida a entrada de invisuais (muitos museus ao não permitir a entrada de cães estão a excluir pessoas), visitantes invisuais podem tocar em brinquedos e em breve as legendas que figuram ao lado das vitrinas com brinquedos expostos, de várias épocas, diversos fabricantes, feitos com os mais diferentes materiais e provenientes de toda a parte do mundo, vão ter tradução em brail.



"Os brinquedos marcaram a sua presença em todas as civilizações, o que
possibilita uma viajem através da história. Aliás, a História do Homem
através do Brinquedo é o grande tema da colecção".

Há no museu uma oficina de restauro, onde são tratados e reparados os brinquedos que pertencem ao espólio do museu, embora um dos projectos em vista e dado o enorme numero de pedidos, seja colocá-la ao serviço do público. Encontrámos na oficina, à espera de ser restaurada uma réplica do teatro da Trindade, acompanhada de (salvo o erro) vinte cenários diferentes e suas personagens!
Alguns restauros são assistidos pelos visitantes a fim de proporcionar às crianças de uma forma particular, o gosto pela preservação dos objectos com que brincam todos os dias.
A nossa visita foi marcada pela presença deste homem encantador, que tem uma vida de histórias para contar. Sempre ao nosso lado, ladeados por vitrinas de soldadinhos, carrinhos em folha, em chapa de ferro, aviões, comboios e eléctricos de madeira e imensas bonecas ia desvendando a sua infância e nós regressados à nossa (infância), olhos de criança e tudo, muito pequenos, cada vez mais pequenos, maravilhados, a ouvi-lo contar:
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"Fazíamos touradas na casa do meu avô a seguir ao jantar, com cavalos e touros de pasta de papel, no fim da tourada, matávamos o touro cortando-lhe a cabeça, riamos muito e claro, fazíamos muito ruído para os vizinhos (para o meu avô não, que não se importava). Um dia acabaram-se as touradas, aquilo não podia continuar e a certa altura tocaram à campainha e pouco depois a empregada veio ter com o meu avô e disse: - É a vizinha da frente. Diz que está à espera de ver a tourada e nunca mais começa. Veio perguntar se hoje há tourada e a que horas. "
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Existe uma área destinada aos "soldados" onde podemos apreciar um hospital de campanha em madeira de fabrico Alemão HAUSSER c. 1935, figuras em massa das Milícias Fascistas Portuguesas: Brigada Naval, Mocidade Portuguesa e claro, a parada das tropas nazis em figuras em massa de fabrico Alemão LINEOL e ELASTOLIN c. 1935 e tal como diz o Luís Perdigão na zona dos comentários, não fossem as vitrinas que nos separam deste cenário (o imaginário fantástico) não resistíamos a "agarrar nos soldados todos e brincar aos exercitos ali mesmo no chão".
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Aqui, João Arbués lembrou-se de nos contar que tinha adquirido uns soldados nazis de uma colecção particular e quando chegou a casa não encontrou lugar para os arrumar e decidiu esvaziar a estante de livros da sua mulher Ana e arrumar ali a sua mais recente aquisição.
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"Quando a Ana deu por isso, ralhou comigo, porque a casa já estava cheia de brinquedos, e eu tinha substituído os livros dela por soldados, mais soldados!" ao que eu lhe respondi: São soldados nazis, como sabes os nazis ocupam tudo."

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Palmira Bastos (actriz)
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No 3º piso do museu, onde podemos ver bonecas: as shirley temple, as barbies as de porcelana, as bailarinas japonesas, os toucadores e as camas em madeira, os serviços de vidro e porcelana (miniaturas que apetece brincar com todas às casinhas), os fogões, os ferros de engomar, as arcas que se abrem e se transformam em lojas de chapéus,... encontra-se uma peça em madeira de fabrico Português c. 1900 um aparador com acessórios que parecem de loiça mas são de madeira, oferecido a João Arbués pela actriz Palmira Bastos e a descrição da estima que nutre por aquela peça desenrolou mais uma história: Um dia em pequeno e certamente na brincadeira, João Arbués deu uma bofetada na actriz, esta, ao invés de retaliar dando-lhe também uma palmada, mostrar-se ofendida ou zangando-se com ele, resolveu castigá-lo de outro modo
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"Cada vez que a acompanhava ao camarim, ela fazia questão de dizer a toda a gente que eu tinha sido o único homem a dar-lhe uma bofetada! Eu ficava envergonhadíssimo, e aprendi a lição".
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Miguel ao lado da reprodução de uma estação de comboios com locomotivas em folha litografada

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Aqui a observar uma colecção de carrinhos.

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O Miguel é uma criança que sabe perfeitamente distinguir um museu, mesmo este, de brinquedos, duma loja da Toy "R" us. Na loja de brinquedos pode mexer e até pedir para comprar (levar para casa), no museu tem a noção (mesmo sem ninguém lhe dizer nada: as advertências) que as aquisições ali são contemplativas e que tudo se pode guardar sem tocar em nenhum objecto. Está habituado a visitar museus apesar de só ter 3 anos, pelas mãos do avozinho (meu pai) que (e talvez não por acaso seja apenas coincidência, porque lhe encontro mil e uma semelhanças) tal como o avô de João Arbués Moreira, fundador do museu, também é o avô materno do Miguel, e também se chama João.

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Obrigada PAI por este dia (por todos os dias), pela emoção de ver os teus brinquedos expostos, por teres enchido o meu quarto e a minha infância de brinquedos (percebes agora que não foi má ideia?) Eu tive as ferramentas (eu tenho as ferramentas) para transformar os sonhos em coisas práticas.

Obrigada João e Ana Arbués Moreira por este dia, por este museu(a fundação de todos os sonhos).

16 comentários:

Gema disse...

Caramba. Obrigada nós!

Eu, Claudia disse...

Que menino tão bem comportado :) que delicia o teu filho. Pois os meus querem sempre por as mãos em tudo, as mãos e a boca! São daqueles que lambuzam vitrinas! Visitei esse museu 2x com as crianças que não ligaram muito, nem em pequenos nem mais tarde com 7/ 9 anos, acharam alguns brinquedos mais aliciantes que outros mas depressa perdiam o intetresse por não poderem tocar-lhes, fizeram correrias e a Ana Arbués (que reconheci de imediato na foto) levou-os para uma área do museu onde eles ficaram entretidos a brincar, a fazer jogos e a desenhar acompanhados de uma educadora, é uma particularidade interessante desse museu, assim podemos apreciar melhor, reviver a nossa infância, assimilar alguns conhecimentos, porque quando os miudos não estão para aí virados, é melhor não insistir na "aula de história".
Este teu post deu-me uma certa nostalgia, mas nostalgias à parte, já tive a portunidade de visitar o Pollock's aqui em Londres, um museu criado em homenagem a Benjamin Pollock que fazia teatros de brincar, conta com imensos teatrinhos e a colecção é bastante centrada nos brinquedos tradicionais ingleses, também já estivemos no museu do brinquedo de Praga (Hracek muzeum) o espólio deste museu é considerado um dos mais importantes do mundo, registei as marionetas, objectos com que as crianças brincavam na Grécia antiga e uma imensa colecção de barbies, tenho ideia de ser mais pequeno que o museu de Sintra (menos vitrinas, dois andares), a colecção de João Arbués constitui de facto um espólio grandioso pela quantidade de brinquedos mas sobretudo pela variedade. São mais de 40 mil brinquedos?
A exposição do teu pai é muito, muito original, com a mais valia interessante de serem brinquedos feitos à mão e com materiais naturais, recicláveis.
Tal pai tal filha (mãos criativas as vossas!)
Um beijo aos dois e ao menino que está habituado a museus e à arte contemplativa.

Anónimo disse...

Tens a certeza que o teu filho não é feito de pasta de papel?

david

Anónimo disse...

Parabéns ao PAI pela exposição e à filha. Ao pai pela originalidade e por não precisar mais que um torno e um pedaço de madeira ou papel para criar um brinquedo, à filha pela mesma originalidade e por não precisar mais do que "um espaço todo em branco".

david

Becas disse...

Quando regressar à patria (não resisto) e vou lá ver a exposição do PAI.
Com sorte ainda me cruzo com o dono do museu, levo com o maior agrado uma lição de história e depois peço-lhe para tirar a vitrina à parada nazi (e à dos carrinhos de corridas).

Carmina Burana disse...

100Abrigo: O espólio de mais de 40 mil brinquedos é variado e do maior interesse porque a selecção é criteriosa, não são 40 mil brinquedos escolhidos à toa. Um dos nossos assuntos de conversa foram as doações, um incalculável número de pessoas vão ali mostrar ou depositar brinquedos e objectos, muitos sem nenhum valor histórico, ou fora do contexto do museu que depois a directora Ana Arbués reencaminha (para instituições por exemplo), isto para dizer que a intenção não é reunir um espólio de brinquedos nunca visto, nem sequer expor objectos de familiares ou amigos que não constituam valor para o museu, trata-se de um grande amor pelo coleccionismo e trata-se se um homem bastante sabedor, instruído e sensível que sabe perfeitamente distinguir uma peça de valor histórico, documental, sentimental (não meramente sentimental) doutra que apenas seria mais uma e não encaixaria nas outras dentro deste sonho.

Carmina Burana disse...

Eu e o meu filho dedicamo-nos muito à arte contemplativa ;)
Tem que ser.
A maior parte das coisas apetecíveis não podemos tocar-lhes (ou não devemos) de modo que não tocamos, não saboreamos (aqui aplica-se o lambuzar vitrinas também!) mas guardamos, usamos os sentidos que nos restam para isso mais o 6º!

Carmina Burana disse...

Olá David!
Não conhecia esse teu lado… contemplativo?

Não, o meu filho não é feito de massa de papel, nem é tão bem comportado como aparenta, as diversas formas d’ arte é que o acalmam, eu diria.

Anónimo disse...

O "um espaço todo em branco" foi a minha homenagem ao teu "Imorredouro". Gostaste?

david

Rainha Reles disse...

Já tenho programa para domingo, por causa da exposição do teu pai lá vou eu levar outra vez com os bonecos de celulóide, que maçada (e aqueles que estão numa cena de praia reparaste?), os fogões de plástico iguais ao que eu tive em pequenita, o ET, a Shirley temple! … Não sei se aguento. E o pior ainda são as casinhas de bonecas, com cenários da vida real em miniatura, as mobílias, os acessórios, toda a vida sonhei perdão, toda a infância sonhei como uma casinha daquelas, tive uns All-Star, umas camisolas da Cenoura e uma Barbie mas uma casinha de bonecas como aquelas nunca ( e fiz mais chinfrim que pela Barbie mas acho que são muito caras, digo, eram mesmo muito caras… )
Vai ser um domingo horrível mas a exposição do teu pai vale a pena.

Carmina Burana disse...

Vale a pena o sacrificio vale.

Carmina Burana disse...

Reparei na cena da praia com bonecos em pasta de papel sim.
(são de fabrico português e têm + de 50 anos)

Carmina Burana disse...

Gostei. (David) E tu? Gostaste do "Imorredouro"?
Mas não me chega um espaço todo em branco, preciso também de um teclado e de um rato novo.

Gema disse...

Em relação ao teu comentário lá de cima: "a maior parte das coisas apetecíveis não podemos tocar-lhes, ou não devemos"
Faz como eu, às escondidas, ou à espanhola, quando ninguém está a ver ponho os dedinhos, lambuzo a vitrina (não subestimo sentidos).

Carmina Burana disse...

Creio que estás a falar de bolos.

Gema disse...

Gula claro. Luxúria não, gula.