oreinabarriga

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9.3.05

O Gatuno e o Pisa-Papéis

O Gatuno passava pelas brasas em cima das notícias de sexta-feira. Mais precisamente, em cima de um soldado Israelita na faixa de Gaza.
Tenho que lhe mudar os jornais da alcofa...
Já o Pisa-Papéis é pouco dado a actualidades. Raramente o vejo metido na guerra Israel-o-Árabe ou a comer os biscoitos em cima do orçamento rectificativo. Não dorme na Assembleia da República o que por si só faz deste gato uma espécie rara. De modo que fazendo jus ao nome que lhe pusemos fui encontrá-lo em cima da escrivaninha a remexer com as patas os meu talões do multibanco e as minhas facturas do gás e da electricidade.
- Pisa-Papéis, sai já daí!
Ao que o gato levantou a cabeça e me fixou com olhos de contabilista depois de ter avaliado as minhas contas, como que a dizer que por este andar, vamos acabar por ter que dividir a malga do leite e dos biscoitos em cima das notícias da semana passada e andarmos por aí à noite, de gatas, para poupar luz eléctrica.
- De qualquer modo, se eu não te tivesse dado uma pilada naquele dia que me espetei com a bicicleta contra os caixotes do lixo, ainda hoje andavas aos papéis! E mais, quem é que forra a tua parte da alcofa com papel desportivo? Quem é? Quem é tolerante e amigo quando vai para calçar os chinelos e não sabe de que lado é que o pé entra no chinelo? Quem é que noutro dia comprou paté de caviar quando se armou em VIC (leia-se very important cat) e enjoou as sardinhas? Ai o menino... saia já daí de cima, já disse!
Nisto, entra-me a minha sogra pela porta a dentro. A minha querida sogra que está-se nas tintas de me entrar pela porta a dentro e eu em cuecas à vontade. Mete a chave na ranhura e lá vai ela direitinha ao nosso quarto, às nossas mesinhas de cabeceira, fazer a prova dos naprons.
- O que é que achas destes Alberto, com bilros? Ai filho, estás tão magrinho! Ficam aqui bem, não ficam? Devias era mudar de candeeiros que isto já não se usa.
- O quê, os naprons?
- Não filho, estes candeeiros. Onde está o Gatuno?
- A última vez que o vi estava na Cisjordânia.
- Trouxe-lhe aqui umas espinhas de bacalhau, aquilo dele roubar as visitas, coitadinho, não faz por mal...
- É. Nós até estamos a pensar em mudar-lhe o nome.
- Ah, sim?
- Cleptomaníaco.
- Eu sempre achei Xaneco um nome muito bonito, ou então Marco Paulo que é um nome distinto. Mas vocês é que sabem.
E lá vai ela agora para a sala de estar, com as chanatas a sapatear pelo mosaico a fora, a sacola dos naprons e dos crochés a vazar por fora.
- Não me digas que o Pisa-Papéis voltou a roer o napron que estava em cima da televisão!? E as almofadas que ainda a semana passada as cosi, não me digas!?
- Não minha sogra, isso, fui eu que roí tudo!
- Estás sempre na brincadeira...
Fui para mudar os jornais à alcofa do Gatuno e do Pisa-Papéis, enquanto os naprons eram substituidos e as almofadas entravam dentro da sacola para serem cozidas, mas apaguei-me.
- Vai à tua vida, filho. Tu não te empates por minha causa. Anda que eu mesma faço um cházinho. Que ervas são estas aqui por cima dos pickles? Pode ser que com um cházinho se me vá esta azia. Já não me ouve, querem ver... Oregãos? Tens a certeza? bem, talvez não me faça mal...

E adormeci ali mesmo, dentro da alcofa.

- Môr? Levanta-te daí que temos que ir ao El Corte Inglés comprar os cortinados para a marquise!
Ao que a velha responde:
- Deixa estar o teu marido Dora e vamos nós as duas. Não é que ele bebeu o leite todo, comeu as espinhas de bacalhau e adormeceu em cima da primeira liga do campeonato!? Devia estar exausto, coitadinho...

E isto contaram-me, porque eu já não dei por mais nada.

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