oreinabarriga

este blogue está protegido pelos direitos de autor © todos os direitos reservados ao autor designado como carmina burana. a cópia não autorizada de conteúdos de propriedade intelectual e criativa protegidos pelos direitos de autor é ilícita e pode fazê-lo incorrer a si em processos civis e criminais ao abrigo da lei 16/2008 de 1 de abril.







este blogue tem Livro de Exclamações

3.3.05

Estou na Lua!

Hoje, 3 de Março de 2005 lá fui eu à eco grafia das 22 semanas. Eu, a avozinha Ana, o avozinho João e o nervoso miudinho. E quando chegou a minha vez, entramos todos lá para dentro, nervoso miudinho incluído e aquilo parecia a estreia de um filme nomeado para todos os Óscares. O interior da minha barriga ia ser projectado em dois televisores de formato grande e aparência sofisticada. O avozinho e a avozinha de pescoço devidamente endireitado para o efeito, eu, deitadinha e com certeza a perguntar ao médico se o meu filho era perfeitinho antes mesmo de sentir o gel viscoso e frio por cima da barriga e antes dele ligar os aparelhos.
A primeira imagem do meu filho mandou o nervoso miudinho para um canto e nunca mais ninguém o viu. Foi uma imagem a 2D. Para sombra, estava incrivelmente nítida. A cabeça muito redondinha, o rosto de perfil, os pezinhos, a linha branca da coluna e o médico a dizer é um rapaz! É um rapaz! E a "desenhar" com o ponteiro do rato os contornos do que tinha acabado de verificar.
Entre os nossos sorrisos embaraçados e a lágrimasinha teimosa a escorregar pelo cantinho do olho, o médico analisava um coração que parecia uma casca de noz, muito bem delineada, com a devida divisão pelo meio a pulsar como uma mãozinha que abre e fecha repetidamente.
Tudo fascinante...
Em breve voltarei a ter só o meu coração a bater cá dentro de mim. A casquinha de noz separar-se-á do meu corpo. Enquanto isso não acontece, vou acatando este privilégio com a humildade de quem se encontra diante de uma grandeza impressionante.
A propósito de grandeza, enfio aqui o meu agradecimento ao Dr. Francisco Noronha que foi o médico que me mostrou o meu filho em todas as qualidades de posições, lhe tirou as medidas, pesou, fotografou a 3 dimensões, filmou a 4, fez trinta por uma linha resumindo e ainda se mostrou um excelente conversador.
É por estas e por outras que nutro um imenso respeito por médicos. Médicos e actores. Duas dignas opções de passar pela vida. Tenho pena que de vez em quando nos calhem uns vigaristas que se introduzem por engano ou por pretensão nestas categorias. Basta uma pessoa estar doente, andar com o coração nas mãos ou com o nervoso miudinho instalado, para se habilitar a dar de caras com um médico que se tenha enganado na vocação.
Mais grave que um actor representar mal o seu papel, a chamada decepção, é um médico não tratar bem e respeitosamente uma pessoa fragilizada, o que já é elevado a uma grande cobardia.
Estou na lua, essa é que é essa! Apetece-me relatar tudo como no futebol. Apetece-me dizer a toda agente que conheço e a toda a gente que não conheço de lado nenhum que o meu bebe é lindo, é perfeitinho!
Saí da clínica com fotografias em tons sépia do meu filho, tal como ele é dentro da minha barriga. Mais parece um extra terrestre fotografado por um satélite da NASA no seu planeta amniótico. Mesmo assim, facilmente se reconhece um sorriso, um bocejo, o meu filho a chuchar no dedo e uma imensa ternura impressa naquele papel escorregadio. Pois a vontade que tive assim que abri o envelope, ali mesmo nas instalações, foi estender aquelas fotos a quem me passava pela frente como se estendem lenços de papel a quem tem um pingo no nariz. Mas vá lá, contive-me. E percebi rapidamente que não estava ninguém a pingar do nariz. Eu é que me devo ter empoleirado no satélite da NASA e estava a ver as pessoas e aquilo tudo do mundo da lua!
" Boa vitalidade fetal" "Não vi anomalias nesta fase" "Peso do feto: 578g". "3 cm's de pezinho" ...
O meu filho a dar no filme que me marcou de certo para sempre. O DVD e os meus pais como testemunha que isto não fui eu a sonhar, a fotografia que hei-de mostrar aos que pingam e aos que não pingam do nariz lá no trabalho, aos meus amigos, a quem o meu filho interessar e inevitavelmente, a um ou outro, para quem o meu filho não tem interesse nenhum, muito menos nesta fase, mas isto é um sentimento tão grande tão grande que não consigo escondê-lo. Não cabe. Enquanto eu andar na lua, este sentimento não me cabe em lado nenhum.
O meu pai, o vizinho João, conta muitas vezes a história dele quando a minha mãe andava grávida de mim. Podiam fazer tudo ao meu pai que ele estava nas tintas. Quem o quisesse chatear que tivesse aproveitado que ele ia ser pai e andava bem disposto. Na lua.
Esta semana dei com o meu carro às bolinhas brancas. Todo ele às bolinhas brancas, um carro que é verde escuro. Aquilo foi alguém que andou a pintar paredes e entusiasmou-se e salpicou-me o carro todo. Fez bem. Gostava até de dizer à criatura que aquilo não teve importância nenhuma. Talvez um dia até goste de ver o meu carro verde escuro às pintinhas brancas. Gostava até de dizer que se precisarem de uns pneus, de dar uma voltinha, de pintar qualquer coisa mais artística nas "paredes" do meu carro, estejam à vontade! É que eu estou grávida, estou à espera do meu filho, estou feliz, como diria o meu pai: Aproveitem agora!

Sem comentários: