oreinabarriga

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este blogue tem Livro de Exclamações

24.9.08

E nem me perguntes porquê, não sou capaz e pronto.

Ainda bem que já nem te amo nem tenho tantas certezas como tinha no principio da nossa relação. Ainda bem que és mesquinho e avarento porque são precisamente dois dos defeitos que mais me desagradam num homem. Felizmente que te queixas do teu trabalho de escritório e chegas a casa exausto a falar em guias e em folhas de ponto, não suportaria que chegasses a casa exausto de salvar vidas, ou abatido de nem todas as vidas te chegarem a tempo de serem salvas. Ainda bem que não gostas de ler e só vais ao teatro para me fazer companhia. Não me imagino apaixonada por um homem que lê, na cama, é uma espécie de paixão contemplativa, platónica? Eu deitada ao teu lado, ciumenta do livro que te absorve, de cabeça pregada à almofada a demorar-me nas tuas mãos a segurar uma lombada, a observar pormenores como pelinhos escassos e os teus dedos esguios, lascivos... um arrepio breve a cada página que muda e a minha série preferida a dar na televisão sem eu dar por isso.
Não me imagino apaixonada por um homem que goste de teatro, arte dramática, personagens, voz, expressão corporal, palcos, cenários, palmas, não! Assistir a um filme contigo num final de tarde de domingo é fácil, em casa, com surround à volta, interrompidos pelo nosso filho que nos salta para o colo, pede atenção, iogurtes, bolachas e carrinhos nas cenas que não queremos perder e basta fazermos depois um Rewind, ou um Previous Chapter, é fácil. Sem dramas. Só com o comando.
Abençoada voz a tua, "a voz branca", fraca, destimbrada, as vogais claras são estridentes, as abertas são engrossadas e as nasais nasalizadas demais, provocaria em mim um permanente distúrbio se tivesses uma voz grave, quente, dois tons a baixo, se falasses só na altura certa, se medisses as palavras, se não dissesses f** nem m**** nem tudo o que te vem à cabeça, eu, em vez de discutir contigo, desatinar aos falsetes estridentes, telefonava-te todos os dias, aparentemente sem motivo e quando estivesse contigo encostava provavelmente o ouvido à tua boca porque dirias amo-te em vez de blasfémias pró ar! As pessoas que têm vozes do Sol ao aposto que dizem amo-te com frequência, ninguém diz amo-te aos berros, a desatinar, aos berros e a desatinar dizem-se coisas como "A janela ficou escancarada!" ou "Porra! Deste outra vez com a jante no passeio!" ou "Vê onde pões os pés!" ou "Isso não é para pegar assim!"
Adoro a maneira como exibes os teus defeitos, o teu mau feitio e adoro a maneira como escondes as tuas virtudes, a sete chaves ou cobrindo-as de extractos, faturas, talões de combustível e de multibanco e demais papeis, para eu me admirar quando dou por elas, quando as descubro e me surpreendo (sou péssima a encontrar coisas, até aquelas que estão de baixo do meu nariz quanto mais, de modo que quando encontro algo que ando à procura é uma satisfação enorme), adoro a maneira como as escondes dentro de lugares profundos, que não lembram à anatomia do corpo humano nem a ninguém, e depois espanto-me.
Ainda bem que não espero por ti para jantar, ainda bem que esperas que eu acabe de por a mesa, ainda bem que não espero que desapertes as camisas, tires o cinto, entres na cabine do duche e te demores, depois saias do compartimento envolto em vapor de água quente e não espero que esperes por mim na cama num quarto com cheiro a after-shave entornado, ainda bem que tomas duche e nem dou por isso, é rápido.
Felizmente não gostas da mesma música que eu, do mesmo programa de tv, do mesmo carro, do mesmo quadro, das mesmas cidades, do mesmo desporto, do mesmo prato, da mesma bebida e felizmente eu nem sequer me esforço por gostar daquilo que gostas, não tenho esse poder.
Felizmente não podes beber shots of tequila nem cafés, fazem-te mal.
Eu sei as capitais dos países, os ossos do corpo humano, os planetas, tu sabes cálculo, electrónica, cinema, o que nos dá uma grande vantagem sobre os que sabem das mesmas coisas, a jogar ao Trivial Pursuit.
Graças a Deus não és meigo e compreensivo, nem tolerante, nem sempre sedutor (cheio de charme), não sabes fazer as tarefas domésticas, o teu sentido de humor está quase sempre ausente, a vaidade também, não gostas de mudar lâmpadas, nem fraldas, deixas sempre a tampa da sanita para cima, ainda bem meu Deus! ou eu não teria olhos para mais ninguém e não faria mais que suspirar por ti a toda hora e a todo o instante e trinta por uma linha para fazer as minhas amigas acreditarem que eu vivia com um homem de sonho, um príncipe perfeito.
A tua voz, a tua maneira de ser, tudo, impedem-me de ter vertigens e tonturas (que coisa desagradável!), tudo isto são coisas admiráveis que possuis e que mantêm e controlam o meu equilíbrio emocional, não só aquela parte dos órgãos do equilíbrio localizados no ouvido interno que possuem ligações nervosas com o cérebro e são responsáveis pelo equilíbrio físico, não, tudo isto são coisas admiráveis que possuis e controlam o meu equilíbrio todo, por inteiro.
A mim, basta-me que cheires ao perfume que eu te oferecer, que não cortes o cabelo, e que os teus olhos claros, limpos e grandes brilhem das poucas vezes que te dá para sorrir.
A mim, basta-me isso e pouco mais que isso ou não fosse assim e eu seria obrigada a viver contigo um amor impossível, um amor proíbido e sabes que isso, eu não era capaz. Não sou capaz de viver um amor impossível. E nem me perguntes porquê. Não sou capaz e pronto.

14 comentários:

Gema disse...

Este é dos teus melhores Post’s. Ainda bem que voltaste.

Becas disse...

És a minha McWritter! A minha McWritter.

MiudaCute disse...

ke SAUDADES!

7 Sóis disse...

Não vou perguntar-te porquê. Porque é que não és capaz, de viver um amor impossível.
Talvez porque não te vejo nada inclinada para a tragédia.
Gostei muito de ler (te).

Rainha Reles disse...

Viver um amor impossível é coisa pa dar um trabalhão, só de ler, imaginar (porque uma pessoa tá a ler e imagina não é?) “exausto de salvar vidas, ou perdê-las”, “paixão contemplativa”, “voz, palcos”, “charme”, “vertigem”, livra. Quanto vale um homem avarento e mesquinho! Se for feinho então é um achado!!
Final feliz é mentira, é + provável que acabe em tragédia e tu nem "ar" de Julieta tens.

Carmina Burana disse...

Nem Julieta nem Mariana Alcoforado.

Carmina Burana disse...

Por falar em Mariana Alcoforado, vou à procura das cartas da freira para por no blogue, para vocês verem o que é um amor impossível, para vocês não acharem que eu estou a ironizar quando faço post's assim... ora vamos lá à procura das ditas.

Carmina Burana disse...

"Parece-me, no entanto, que até ao sofrimento, de que és a única causa, já vou tendo afeição. Mal te vi a minha vida foi tua, e chego a ter prazer em sacrificar-ta."

é só um cheirinho
(Soror Mariana Alcoforado)

Anónimo disse...

Tchim Tchim ao teu regresso.

Carmina Burana disse...

Ai que bom, tinham saudadinhas minhas os meus queridos.

Anónimo disse...

Já andava a ler post's do tempo em ke trazias o rei na barriga.

Carmina Burana disse...

Aaaah! Bons velhos tempos...

Carmina Burana disse...

eu sou o mau da fita; desculpem lá o meu feitio mas todos temos o nosso e eu pelo menos já sou tema de post´s.
Ass.
O TERRIVEL "DESPEDAÇA CORAÇÕES"

Carmina Burana disse...

És o mau da fita, és o do mau feitio mas és o único que pode entrar com a minha password. Essa é que é essa.