oreinabarriga

este blogue está protegido pelos direitos de autor © todos os direitos reservados ao autor designado como carmina burana. a cópia não autorizada de conteúdos de propriedade intelectual e criativa protegidos pelos direitos de autor é ilícita e pode fazê-lo incorrer a si em processos civis e criminais ao abrigo da lei 16/2008 de 1 de abril.







este blogue tem Livro de Exclamações

25.5.08

Romantismos

Era mais romântico escrever-te com uma pena sobre o papiro. Era mais romântico desenhar letra a letra, à luz de um fio de azeite ou das brasas candentes postas numa lareira. Acho que vou mandar-te rosas secas dentro de uma carta lacrada (pena que só tenha na jarra uns malme-queres já velhos. Murchos). Pego numa garrafa e envio enroladas as folhas que te escrevi. Coloco uma rolha bem metida e lanço-a ao mar na esperança que... ao mar?! Corri para a janela da sala e pendurei-me no parapeito a olhar lá para baixo. A garrafa tinha acertado num peão. Veio gente de toda a parte que ficou com os olhos postos nas janelinhas do meu prédio a tentar detectar-me. Escondi-me atrás das cortinas a roer as unhas. Nisto tocou o telefone. Deve ser da esquadra. É melhor ignorar que está a tocar. Não sou capaz.
- Ah, és tu amor...
E ele do outro lado:
- Alugamos um filme ou quê?
- Pode ser. Pode ser o Cyrano de Bérgerac?
E ele claro, a dizer que é lá isso! vai alugar o “O exterminador vinga tudo”. É sempre do contra. Salvo seja quando eu sou do contra, nesse caso, ele é a favor. "Ó amor tira-me uma foto" Re: "Lá mais à frente, lá mais à frente, isto aqui não tem graça nenhuma."
"Gostas das minhas sandálias?" Re: "Gostava mais das outras."
"Mas tu nunca gostaste das outras!" Re: " Ah... Até nem são feias de todo."
"Podes mudar para o canal dois?" Re: "Não." E consegues percorrer todos os canais da parabólica sem atingir o canal dois. Só para contrariar...
... Ponho a tocar um disco de 78 rotações que ainda não vendes-te na Feira na Ladra porque estou farta de te dizer que detesto o disco, não o posso ouvir, para além disso é de vinil, é de 78 rotações, já não se usa, está riscado e é remédio santo, tens vendido todas as minhas coisas mas o vinil ainda não.
Fumo um cigarro (cá em casa não se fuma. Tu não fumas. Se eu não fumasse, fumavas, só para me atirares o fumo à cara quando encontrasses tudo perfeito). O fumo parece que dança a valsa triste de Sibelius. Comecei a sonhar que estava nos braços de um cavaleiro andante, entre a espada e o coração. Devo ter adormecido. Ouvia por vezes uma orquestra de violinos e fazíamos amor num palco de Shakespeare. Caía o orvalho de todas as folhas e de todas as flores, sobre mim e sobre ti. Molhados e entre beijos, corremos pelos campos a fora onde a terra cheirava a mirra e a madeiras orientais. Não. Não eram madeiras orientais... Eram madeiras queimadas! A beata tinha tido tempo de apagá-la mas o castiçal tombou com a força do vento que arrombou a janela. Abafei as chamas com uma manta, mas elas vingaram-se. A luta ainda demorou até que as cortinas esfarrapadas parecessem vigílias de um castelo assombrado. A campainha da porta insistia, é o exterminador vinga tudo, era só o que me faltava, fui atender.

- Vi o fogo da minha janela. Julguei-a morta.
- Não foi nada. Tem lume?
- Como diz?
- Deixei apagar-se o fogo todo e agora não tenho como acender este cigarro.

Admirei-lhe a figura magra. Os olhos da cor da cinza que estava no chão. As mãos bonitas a aproximarem-se da minha boca, com dedos longos (de pianista?). Longos e sensuais a terminarem num fósforo insistentemente aceso. Beijei-o. Com a intensidade de deixar de sentir os pés no chão. Só o coração. Nem cavaleiro andante, nem espada, só o coração. Shakespeare já não sei quem era e um violino é uma orquestra rara. O orvalho caiu de um palco e eu sobre ti, molhados e entre beijos, corremos pelos campos a fora até tu cheirares a mirra e eu a madeiras orientais.
Abracei o meu príncipe não fosse ele encantado. Senti-lhe uma elevação anormal à altura da nuca. Um alto. Um 'galo' e ele riu-se.

- Foi uma maluca que atirou pela janela cartas de amor dentro de uma garrafa!

4 comentários:

Carmina Burana disse...

Fui ler o Post que acabei de escrever e lembrei-me que ti a propósito da personagem ter pedido ao "príncipe" para lhe dar lume... Lembras-te de dizeres aqui nos comentários à Rainha Reles que fumavas “durante”? Podes explicar melhor? Mas quando estiveres bem dispostinho está bem? Que hoje, tenho receio da transparência da tua explicação.

João Ayres disse...

Mas para não pensares que estive (imune, ausente, zangado)eu que acredito em Anjos, vi o filme, é tocante sim, é comovente, é excelente a representação da Meg Ryan e do Nicolas Cage, a banda sonora está no meu iPod (agora está no lugar mais bonito que eu conheço), fiz um Post para ti:

The aurora borealis are a phenomenon that is not completely understood. The legend tells us that the lights are spirits playing in the sky. Another legend describes the lights as flaming torches carried by travellers to other life.
Even a Wending March can erase the beauty of an aurora borealis.
I was always sure of that, Don’t worried, I was just playing whit you.

João Ayres disse...

Eu disse que fumava durante?
(E tu pensas-te que tenho alguma tara? Não tenho, sou tara perdida)
É que a Hellen quando eu estou a fumar é que lhe apetece. É só isso.

Carmina Burana disse...

(é a última lição que te dou)
Sim, senhor professor.