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12.3.08

Eu e a vida falamos (explicação)

Eu e a vida falamos por meio de Figuras de Estilo. Quando eu tinha a idade do meu filho (só tenho um, gostava de ter pelo menos mais um filho, só para poder dizer assim: o meu mai novo. Em vez de: Quando eu tinha a idade do meu filho, não, dizia assim: Quando eu tinha a idade do meu mai novo) falava através de ondas de rádio. Eu não me lembro, a minha mãe é que conta isto, que eu fazia muito ruido, de modo que creio que era por meio de ondas de rádio. Eu e a vida, hoje em dia, falamos por meio de Figuras de Estilo. Ninguém deve ter dado por isso mas eu estive a falar com a vida. Ao mesmo tempo que falo convosco estou a falar com ela, não é a dispersão que é uma figura de estilo, não, eu posso muito bem estar aqui a falar convosco, com o boneco (que é o mais certo) e ainda com os meus botões, a figura de estilo está na anáfora. Quantas vezes repeti a mesma frase? Contaram? Lá está. Estava a falar com a vida, por meio de anáforas. Também falo muito com ela pela via das metáforas, aliás, a minha fronteira entre o mundo real e o imaginário é uma fronteira aberta, uma espécie de espaço Schengen, onde circulam livremente, a lógica e a intuição. Já a vida quando fala comigo utiliza muito as comparações, hoje por exemplo olhei de manhã para o céu, o céu estava cheio de nuvens, uma parecia o Gato das Botas, outra um barco, uma outra mais distante era parecida com o boneco da Michelin, estão a ver? É assim que a vida fala comigo. Eu respondi-lhe com ironia (que é outra figura de estilo, caso não saibam e pensem que ironia é ironia e não é uma figura de estilo, porque é), respondi-lhe: - Com essas nuvens estás mas é a querer chover. Quando a vida e eu nos pomos na galhofa, a fumar um cigarrinho, a contar piadas e a beber um copo, dá-se uma alegoria, ou seja, uma sucessão de comparações, de metáforas, de imagens, uma coisa semelhante a ... fogo de artifício?
A minha mãe fala comigo por antítese. É verdade. Se eu lhe perguntar: - Ó mãe, fizes-te sopa para eu levar? Ela responde: - Fiz e não fiz (que é como quem diz, fiz mas é d' ontem)
A minha mãe fala comigo por antítese e com toda a gente, se a vizinha lhe perguntar: - Então Dona Ana está boazinha? A minha mãe responde: - Estou e não estou (que é como quem diz, estou bem da perna, doí-me um dente.)
Eu e a vida por acaso antítese não usamos muito... Para a vida perceber por exemplo que só trabalho na Escola desde Novembro de 2003, ainda não posso pedir a aposentação, mas às vezes estou farta daquilo e que casei muito antes disso (e não posso pedir o divórcio por causa das tralhas que estão para lá na arrecadação, cada vez que olho para aquilo penso se eu me separo tenho que fazer uma limpeza a isto, os discos de vinil são meus, as pastilhas suplentes para os travões são tuas, o melhor é estar quieta) e às vezes já estou farta, digo-lhe assim: - Estou aqui há séculos nesta escola! Parecem séculos os anos que estou casada! -Para a vida perceber isto, por exemplo, recorro à hipérbole. Ou seja, exagero um bocado.
A vida fala que se farta e quando fala pela via da personificação, quase sempre é para me lixar. E eu amuo. A vida já foi capaz de me por as pernas a tremer que nem varas verdes, ou seja personificou as varas e estragou-me o encontro com o Paulo Pires, aquele momento em que eu me aproximava dele e e dizia: - Paulo, tu és um bom actor, mas o que eu aprecio mesmo em ti... não tivesse eu ficado com as pernas a tremer que nem varas verdes e o coração a bater como um cavalo (outra personificação desnecessária).
É certo que a vida nem sempre se ri ou fala para mim (agora fora de animismos que esta agora do ri e do fala foi sem intenção) se ela me prejudica, me magoa, amuo e quando me leva alguém que amo, grito que não lhe perdoo, que nunca mais lhe perdoo! Mas depois ela vem com eufemismos, do género: - Ninguém morreu, ele foi mas foi para o céu e agora é mais um Anjo-da-guarda que tens. E eu, que não sou capaz de amuar por mais que três dias consecutivos com a minha mãe, com ninguém, muito menos com a vida e porque para suportar viver, depois de uma coisas destas por exemplo, tenho que tomar os eufemismos todos da caixa, deixo que ela (a vida) me abrace e acabamos por fazer as pazes.

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