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4.2.08

O CAF

O CAF diz que é uma espécie de estrutura comum de avaliação para a qualidade total, das administrações da União Europeia. O CAF é uma espécie de questionário de auto-avaliação, o CAF diz que vai para uma espécie de Universidade Católica (parece-me que só os católicos, os muito católicos, os católicos praticantes é que se metem nisto, nesta espécie de tratamento de dados).
O CAF, todo ele tem piada. São 25 páginas à razão de meia dúzia de perguntas por casa página o que dá uma média de 150 perguntas engraçadas. Quem elaborou o CAF foi alguém com sentido de humor e que promove e fomenta o bom ambiente e a alegria nos serviços públicos por forma a dar a tal qualidade total às administrações da União Europeia como pode e sabe, ou seja, criando questionários CAFES.
Ora o CAF diz que é anónimo. "Este questionário é de natureza confidencial e anónima. Obrigado pela sua colaboração". Obrigado de nada, ora essa, obrigado eu, não é todos os dias que nos fazem rir desta maneira. Quanto à sua natureza confidencial e anónima contituiu logo motivo de risota, é que na caracterização estatística do colaborador, sou obrigada a colocar cruzinhas em tudo o que me identifica, ora, gaja do sexo feminino, entre os 36 e os 40 anos, há mais de dois e há menos de cinco ao serviço deste Agrupamento de Escolas, com a categoria profissional de administrativo quem é que queriam que fosse? O Noddy? Não, euzinha mesmo. Só não perguntam o nome. Deve ser para efeitos de dizerem que o CAF é de natureza con... confi... (deixem-me rir). Ainda se o CAF fosse directamente para a Universidade católica...
Nas perguntinhas da qualidade Critério "1 - Liderança", foi tudo corrido a zeros (a pontuação é para dar de 0 a 10, querendo dizer o zero que não há acções nesta área ou não temos informação ou esta não tem expressão e o 10 querendo dizer precisamente o contrário, que tudo o que se faz nesta área é "planeado, implementado, revisto e ajustado regularmente e aprendemos com outras organizações". Ora, como o Conselho Executivo não faz reuniões com o pessoal não docente, népia, nem reuniões nem muita conversa, nem muita confiança, o essencial, os bons-dias, vá, nem para nos avaliar o desempenho, reune connosco. Como também não promove acções de informação sobre as decisões que toma, não dá cavaco, portanto, não define claramente o papel e a responsabilidade das pessoas, o que interessa é estar feito, não é quem fez, se foi o mesmo, por exemplo, não interessa, interessa que está feito e exportado, como o conselho pedagógico se está borrifando para o plano anual de formação do pessoal não docente, porque a trabalhar é que se aprende não é nas acções de formação que só nos metem coisas na cabeça (minhocas), de modo, que como estava dizendo, foi tudo corrido a zeros. Passei então ao critério 2, o do "Planeamento e Estratégia", aqui em vez de por a cruzinha do zero, pus do NS, que é como diria o meu filho: Na xei. Eu sei lá o que é o Plano Anual de Actividades e o Projecto Educativo. Eu sei o que é a Segurança Social, a relação dos descontos, o mapa dos vencimentos, o de segurados, o dos subscritores da Caixa Geral de Aposentações, o classificador das gratificações e dos suplementos remuneratórios, eu sei o que é o Mapa da Requisição de fundos, o da Aplicação de verbas, agora o Anual de Actividades? Nunca vi. Palavra de honra, não é de eu ser distraída, isso não há-de ser uma coisa tão pequena, nunca vi.
Quando me veio esta pergunta aos olhos: "O Conselho Executivo tem criados canais de comunicação interna para divulgar objectivos, planos e actividades da escola?" lembrei-me logo de três ou quatro lambe-botas mas pus zero, que é a mesmissima coisa. Que teve piada a pergunta teve. Não foi bem a pergunta, foi a metáfora. A metáfora estava de facto muito, muito bem imaginada. O critério 3 coube às Pessoas. Pessoas. Ora as pessoas estão sempre a reclamar do serviço, dos colegas, dos chefes, dos miúdos e dos pais dos miúdos e perguntam uns aos outros ininterruptamente: Já veio a minha aposentação? Ora isto quer dizer que o pessoal anda desmotivado porque não é valorizado o seu trabalho, anda cada vez mais aos papéis porque não há (in) formação, o que se fazia há 20 anos continua a ser verdade e adequado, não nos é reconhecido o esforço nem o mérito nem o sucesso porque não sei, digo eu, devem pensar que um gajo depois fica todo inchado, com os elogios e é pior, depois não quer é fazer nenhum daí para a frente. No ponto 4: "Parcerias e Recursos" lá consegui dar uns oitos e um 9 na gestão de recursos, uma vez que ainda estou para saber como é que um conselho executivo gere uma escola deste tamanho e desta complexidade pelo meio socio-cultural onde está inserida, onde a lista das necessidades básicas é como daqui a Miranda do Douro, com a verba insuficiente que lhe concede o Ministério, que praticamente dá para mudar de lâmpadas quando elas de fundem. Ao Plano 5 que são os processos não lhe achei grande piada. Já o ponto 6, que são perguntas relacionadas com o "grau de satisfação de necessidades e expectativas de alunos e encarregados de educação relativamente à prestação de serviços da escola", tenho que dar um zero na "sinalização e orientação para pessoas que não conhecem a escola", pois falta sinalectica de todo o tipo: cuidado, não caia da escada; atenção não tropece nas raízes das árvores, por favor puxe o autoclismo, a secretaria é para ali; sim, isto é uma escola. (esta última parece-me da maior impotância, querem maior evidência que a gente estranha que passa à nossa porta, perguntar: Quê? Isto é uma escola? É de facto necessário colocar um letreiro a dizer em letras garrafais: SIM ISTO É UMA ESCOLA, AFASTE-SE, PERIGO DE DERROCADA)
O horário de atendimento não é do conhecimento público porque a funcionária a) dentro do periodo da manhã pode chegar a qualquer hora, a funcionária b) a qualquer momento pode sair mais cedo, o funcionário x) é atrasadinho, o mais certo é não conseguir dizer-lhe em que horário é que está a funcionar, a funcionária y) não é dessa área, não sabe ou não responde e assim sucessivamente.
"Os serviços da secretaria têm instalações adequadas para o atendimento ao público em termos de espaço e acessibilidade?" Outra pergunta deveras engraçada. Espaço não deve ter pois as professoras e educadoras que entram por aqui a dentro ficam umas em cima das outras e todas em cima de nós, funcionárias, a acessibilidade também deve ser muito má porque já não é a primeira professora ou educadora que vamos buscar à casa de banho dos homens.
Ponto 7 (aqui já me começou a doer a barriga de rir) o CAF pergunta assim: "Nesta escola existe um manual de acolhimento, actualizado, para os novos funcionários?" Esta é muito boa, é uma pérola do humor, nem os Gato Fedorento nem os Parodiantes de Lisboa, nem o Humberto Madeira, nem a Ivone Silva algum dia me fizeram rir com tanto gosto, manual de acolhimento é muito bom, um cofre (lê-se cofrê) permumé há venda nas perfumarias, por exemplo, ou uma bolsinha com preservativos, toalhetes, uma tesourinha, uns tampões para os ouvidos, aspirinas, anti-estamínicos e mercúrio-cromo, escova e pasta de dentes descartável, ou um estojo com uma lapiseira, uma agenda, um calendário e, rebuçados, caramelhos espanhoélhes! Um envelope com as boas vindas dos colegas num postal dos ursinhos carinhosos com um cheque da FNAC, hein? Quando se fala em manual de acolhimento actualizado, repito, actualizado, quer dizer que no caso dos cofres parfumés, das aspirinas, nos anti-estamínicos e mercúrio-cromo, bem como as agendas e calendários teriam que ser observados regularmente os prazos de validade dos mesmos. Não se vai agora dar as boas-vindas ao colega novo com um frasco de mercúrio dos anos 60, um calendário do ano passado ou um cofre da givanchi mas cheio de musgo. Verdete.
"Ponto 8: Impacto na sociedade."
Na sociedade não sei. Na minha vida teve um impacto extraordinário. Qualquer coisa como ter sido atropelada por um camião cisterna, que ainda hoje estou à procura de alguém que tenha tirado a matricula. "A Escola tem um horário de atendimento e de funcionamento que corresponde às necessidades da população?" Não. É zero outra vez. Ás horas que a secretaria atende estão a dar as melhores telenovelas, O Conselho Executivo marca reuniões com a Associação de Pais em dias de jogos relevantes para o campeonato, as funcionárias que deviam acompanhar os miúdos, às refeições, no recreio, durante os amassos atrás do pavilhão, durante todo o seu percurso pós puberdade, escolar, durante toda a vida, educá-los portanto, até se fazerem homens e mulheres casadoiras, quer dizer, os pais metem os putos na escola para eles serem educados e não terem que se preocupar com isso nem com o sase, mas não, os miúdos vão muitas vezes fazer xixi sózinhos porque a funcionária foi almoçar, e quando se aleijam e vão para o hospital a funcionária tem que chamar o desgraçado do paizinho que está no centro de emprego a responder a uma oferta para serralheiro mecânico em Belmonte, por 14 dias, para substituir o serralheiro mecânico que está de baixa só porque está sózinha no bloco, a colega acabou de saír, o horário dela era às 5. Com franquesa. E muitas mães vêm deixar os meninos de manhã, à escola, de roupão, quando as funcionárias deviam passar pela casa dos miúdos, para os recolher, antes de entrar ao serviço. Assim é que era um horário de funcionamento e um atendimento em condições. Não era chegar à escola sem os alunos e atrasadinha ainda por cima.
"A escola empenha-se para que o nível educativo e formativo da comunidade melhore?" Não. é zero. Nunca vi a escola correr à vassourada o ajuntamento de familiares ao portão da Escola quando acaba a telenovela ou antes de começar o jogo para beijarem as criancinhas e certificarem-se que alguém e o sase e o sócrates tomam conta delas. Não, nunca vi nenhum utente mal criado e mal formado, com os copos, ou parvo, ser mandado para casa para se lavar, ou ao barbeiro para cortar a gedelha nem ao centro de emprego para se oferecer.
"A comunidade é incentivada a colaborar nas actividades na escola?" Não. É zero. A comunidade é incentivada a mandar pedras. A própria estrutura, aquitectura da escola incentiva. Puxa. Dá vontade.
Tudo isto acaba no 9º episódio, que são perguntas sobre "o resultado do desempenho chave". Todas neste episódio têm graça, mas aquela em que se pergunta se "a escola controla o atraso e as faltas do pessoal não-docente" é a melhor. Ainda se fosse o Porteiro, o Sr. Vitor, ou o cartão magnético, ou os funcionários da carpintaria mesmo em frente ou até o Sr. da oficina, mais afastado, mas se lhe pedissem, era capaz de controlar, ía soldando e controlando, ía pintando de metalizado e controlando, alisando a chapa e controlando, um olho na viatura, outro na entrada da escola, agora a escola? A escola em si? O edifício? Os blocos de puro cimento? A falar? A chamar à razão um funcionário atrasado ou que se esqueceu de vir trabalhar noutro dia? Até me ponho a imaginar: a fenda mais grossa do Bloco A a fazer uma boca, as janelas do conselho executivo uns óculos todos ranhosos, e as caganitas das rolas a fazerem de olhitos, os braços das árvores os braços do Sr. bloco A e o resto como se fosse um fato todo rasgado e velho e a porta de entrada uma barguilha aberta? A Falar. A chamar assim, o funcionáriosinho atrasado, Ó psit! Ó palermazeco! Isto é que são horas de chegar? Voltas a repetir a gracinha e passo-te o papel para o fundo de desemprego.
Ai.... Ai, ai....
Vistas bem as coisas não tem assim tanta piada. O CAF está bem feito, a Lei está bem feita, a Senhora Ministra tem razão, isto está a precisar de uma grande reforma, ela está no caminho certo, ela não tem é culpa daquilo que vai na consciência de cada um.

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