
A Pintura é bela, monstruosa, inocente, horrorosa, inocente e grotesca. Está lá o génio. O pastel com os dedos. A invulgaridade. Paula Rêgo põe o dedo em todas as feridas. Em todas as culpas. Aborto. Submissão. Redenção. Pudor. Pedofilia. Perturbante. Paula Rêgo é terrivelmente perturbadora, até naquilo que diz, quando fala. Eu fico-me pela pintura, não gosto nada das histórias que conta e que vai buscar a contos e lendas tradicionais, são coisas enfurecidas, macabras, não lembram a ninguém. Os quadros também não. As histórias, pelo que conta, são o que os quadros querem dizer, são a nascente, onde tudo germina, mas a mim, parecia-me bem que não fossem reveladas as fontes.
Paula Rêgo pinta os pesadelos com os dedos, os pesadelos que não temos coragem para ter, os fantasmas que nunca vimos naquela perspectiva de... crueldade? Prazer? São quadros que nunca mais acabam, como os sonhos e os pesadelos, se continuarmos a dormir, é preciso acordar. Ás vezes é assustador, quero acordar e ainda não analisar todo o quadro, há mais, ali no cantinho, o que é aquilo? Foi a Lila que se mexeu... Deixar de olhar e não posso, quero levantar-me e não sinto as pernas, voar e não sou capaz, fico de repente demasiado velha, estou velha, quero voar e não consigo. É demasiada carga e no entanto, considero-a umas das melhores pintoras de sempre. (No fundo eu sou a noiva, "a mulher do vestido que a aperta como um casulo")
Chega a despertar o ódio, aquilo que está cadáver em toda a gente. Como se fosse sobrenatural esta força entre Ela e nós.
"As avestruzes querem voar e não conseguem".
Querem voar mas não conseguem, estão velhas, ficam apenas a assistir...
Paula Rêgo para levar para casa
The Pillowman