oreinabarriga
este blogue tem Livro de Exclamações
31.7.08
Hoje é o dia mundial do orgasmo

Acabei de ler um letreiro numa viatura onde se lia isto:
"Este veículo é conduzido por profissionais, qualquer anomalia contacte 800 ... ..."
Profissionais (pensei eu) daqueles que se for preciso até têm carta de condução.

30.7.08
Anatomia de quê?

28.7.08
Bonita para quê?

(a verdade é que vocês já me fizeram rir!)
é só não poder chegar aqui e trocar metáforas pelos verbos que me apetece (verbos lascivos e daqueles com palavrões e tudo).

27.7.08
Se os escritores fossem livres

23.7.08
Nacionalidade Sexual na Cama...
Are You British in bed?
Obrigada Célia (com que então Francesinha? hum...) por partilhares estes momentos connosco, um beijo!

22.7.08
Rita Redshoes "The Beginning Song"
Lembro-me de tudo Fiori! e esta é para ti, espero que gostes da (nossa) escolha (Boas Férias!)
On Tue, Jul 21, 2008 at 19:06PM, maria joão viana wrote:
we will return with a song to Fiori?On Tue, Jul 21, 2008 at 11:09AM, joão spiller ayres wrote:
yes my dear, a music for my fairy godmother..
Rita Red Shoes "Golden Era"

21.7.08
Santa Mónica
Em Santa Mónica no Inverno
Espreguiçam-se as Ruas, sem exigências
Passeio entre a multidão…
Em Santa Mónica bebes o teu café
nas casas mais elegantes da “thirt Street Promenade”,
onde as pessoas se vestem tão bem,
A beleza é inevitável à tua volta.
É aí que eu me sento e
pergunto:
- Que faço eu aqui?
Mas ao telefone sou qualquer um!
Sou qualquer coisa que queira ser!
Poderia ser Top-model ou o Norman Mailer
e tu não saberias a diferença…
Ou saberias?
Em Santa Mónica todas as pessoas têm nomes modernos
como “Jake” ou “Mandy”
e têm corpos modernos também.
Em Santa Mónica no Boulevard
tens que evitar aqueles patinadores em linha
ou eles
atiram-te ao chão!
Nunca me senti tão sozinho…
Nunca me senti tão deslocado…
Nunca quis algo mais do que isto…
Mas ao telefone sou
qualquer um!
Sou qualquer coisa que queira ser!
Poderia ser Top-model ou o Norman Mailer
E tu não saberias a diferença…
Ao telefone eu sou de qualquer tamanho
tenho a idade que me apeteça ter.
Poderia ser um super-herói ou um soldado do espaço
e tu não saberias a diferença…
Ou
saberias?
Santa Mónica – Savage Garden

20.7.08
Mãe, tu vais fazer muitos anos
- Mãe, tu vais fazê muitos anos!
- Achas filho? Quantos anos é que achas que a mãe vai fazer?
- Muitos, muitos, muitos, muitos, muitos, até ficares tonta!

18.7.08
A 'gaja que tinha uma pilha no lugar do coração
- Meu! Já repetiste esse verbo três vezes, desenvolve!
- Passei-me, ia tendo uma overdose!
- Passaste-te ou quê?
- Já te disse que sim.
- Ah pois já.
- O gajo até é fixe. Ele entra para nos dar uma g’ anda bronca, mas depois começa à procura das chaves da caixa do correio e nunca mais se lembra do que ia a dizer. Nem nunca chamou a bófia, nem népia, tás a ver? Eu até simpatizo com o tipo...
- Mas é que aquele tipo parece uma lâmpada! Sempre atarraxado à Verónica, F**. Sempre com os olhos cheios de faíscas a piscar quando se atarraxa a ela.
- Deve ter a lâmpada fundida, naturalmente.
- O tipo empata! Mal sonha que estamos a conversar, lá vem ele, escada a baixo. O Jantar está na mesa, diz. Ontem desceu as escadas nove vezes! Nove meu! Ia morrendo de overdose!
- Gostas mesmo dela.
- Mesmo pá. Gosto mesmo. Podes crer.
- Drogas-te por causa dela?
- Não. Por causa dela deixava de me drogar.
- É a mesma coisa meu. A frase é que está ao contrário!
- O sentido é que muda, não vais lá?
- Aonde?
- Meu, ao sentido...
- Toma lá a cerveja, eu já não vejo sentido nenhum... não estamos a andar em contra mão?
- ... Há muito tempo.
- Aquilo ali é o nosso carro?
- É.
- Ainda é aquele chaço?
- Dá cá as chaves da mala. Hoje não vendemos nada. A feira da ladra já não é o que era.
- Eu cá fiz 2 pintores...
- A sério meu! Vendes-te as tuas inutilidades por 2 pintores! Ena... quem diria...
- As minhas inutilidades estão aqui, dentro da mochila, vendi foi... a ... pá, vendi... umas merdas.
- Que tipo de merdas?
- ... poesia...
- Poesia... pronto, já disse.
- Tu vendes-te os poemas que a Verónica me escrevia? Os que ela me escrevia porque o sacana do marido dela andava sempre a atarraxar-se? As nossas conversas de pé de orelha?
- Tinham um valor imenso! Nenhuma matemática conseguia calcular!
- Valiam mais de 2 pintores?
- Muito mais! Mas muito mais!
- Ena meu... foi a primeira vez que vim à feira da ladra e não enganei ninguém, acredita... É pá, aguenta aí! Aquilo do carro ainda ser este era a brincar. Pá! Olha... pisgou-se. Paciência... vou a pé.
(Dez minutos mais tarde... )
- Ainda bem que voltas-te Carlos. Estou nas lonas. Se me pusesse a andar em vez de andar para a frente, fazia marcha atrás.
- Entra imbecil! A Verónica desapareceu.
- E eu com isso? E tu com isso? Ela gramava-te, tu és doido varrido por ela. Não tem nada a ver!
- Tenho um servicinho para ti. Não penses que fica assim, teres vendido os poemas que ela me escrevia.
- Servicinho? Que servicinho?
- Vais encontrar a Verónica.
- Eu?
- Tu.
- Euzinho?
- Tuzinho.
- É mais fácil encontrar o artista que me comprou os bilhetinhos. Não serve?
- Não serve. Eu quero que encontres a Verónica.
- Mas ela não te quer, meu! Passaste rés vés ao puto meu! Táva na passadeira, eu vi. P’ a que é que uma mulher daquelas quer um pilantra como tu? Ainda nem sequer gravaste um disco.
- Estamos conversados.
- E se ela não quiser vir?
- F**!
- Prontos, não se fala mais nisso. Mas não faças tangentes aos postes d’ alta tensão, estou a ficar maldisposto.
- Põe a cabeça de fora.
- Isso querias tu!
- Põe a cabeça de fora e o resto. Põe-te todo do lado de fora. É p’ a começar já. Toma uma fotografia dela.
- Quê? É a gaja? Nem sequer é gira! Nem tem peitos... maminhas... conteúdo, tás a ver?
- F**!
(Comecei a procurar)
Desci uma rua qualquer com a fotografia dentro do bolso, atravessada na minha cabeça.
A cada esquina vislumbrava uma gaja. Mas nenhuma parecida com a Verónica.
Nem semelhante. A Verónica tinha dentes.
Sentei-me na berma de um passeio também ele desdentado. Já não tinha a calçada toda. dentadura incompleta portanto. Era o passeio de um beco sem saída.
Estes termos rodoviários perseguem-me assim que me sento a puxar da heroína. Sinto-me em contra mão, de marcha atrás, num beco sem saída.
Quero lá saber! Puxei da prata, do isqueiro. Olhei em volta. Ia para snifar aquilo quando dei de caras com uma gaja. Voltei a olhar, mas só na direcção da gaja. Era mesmo a cara da Verónica. De resto, um bocado mais descadeirada. Mas um gajo para a fotografia, costuma endireitar-se todo.
Estava entretida a engatar um calhambeque que parou na estrada.
Aquilo ia demorar. Não há pressa.
Eu também tenho um calhambeque e sei bem q’ aquilo custa a pegar. Snifei. Levantei-me.
A minha cabeça a viajar. Já devem ter inventado o efeito heroína efervescente. Avancei.
- Como é que te chamas?
- Não vês que estou ocupada?
- Diz lá. És a Verónica?
- Não. Põe-te a andar. Não me espantes a clientela.
- Não és mesmo a Verónica?
- Não sou a Verónica e não tens onde cair morto, por isso, andor!
Não tenho onde cair morto.
Se não encontro a Verónica, não tenho onde cair morto.
Foi esta frase a razão de eu continuar a procurar.
- Que horas são?
- São horas de ir para a cama...
Aquela não era mesmo a Verónica.
Os olhos eram saliências mais preponderantes que as próprias maminhas.
Tinha que recorrer ao método de perguntar as horas. Estava a fazer-se noite na minha cabeça. Já não via um palmo à frente do nariz. Mais abaixo, a mesma pergunta. E a mesma resposta.
- Que horas são?
- São horas de ir para a cama.
- Caramba! As horas nunca mais passam.
Numa rua que me pareceu já uma cena repetida, vislumbrei uma paragem de autocarro.
Igualzinha à da outra cena. À espera do transporte estava uma rapariga. Ou era do efeito da heroína efervescente, ou aquela não era nenhuma gaja. Boa moca, boa cintura, boas saliências, olhos reluzentes.
Puxei da fotografia. Comparei.
Não, não era a Verónica, a Verónica não tinha verrugas no pescoço.
Continuei a procurar pela noite dentro.
Tarde das horas comecei a sentir uma erupção dentro de mim.
Tanta gaja num dia só, mais a efervescência... Entrei num estabelecimento daqueles com luzes de néon por cima que piscam ininterruptamente (que é uma coisa que me faz uma aflição, são as luzes a piscar eu a piscar os olhos e fico sem saber de que qualidade é o estabelecimento, tanto pode ser uma pensão reles como uma padaria) entrei (debaixo do braço de um bacano porque o porteiro, era uma discoteca, teimoso mais que a porta, não dizia outra coisa se não: - Lá para trás, vá, lá para trás!
Aquela batida entrou-me pelos ouvidos a dentro. Assim que abri as portas de vento, o coração a querer sair do meu corpo e a esbarrar nas minhas fronteiras, como as moscas contra um vidro.
Mais gajas debaixo daquela batida, a agitarem-se antes de serem bebidas.
Uma delas, veio pousar os braços em cima dos meus ombros.
- Olá.
- ...
- De onde é que nos conhecemos?
- Daqui...?
Deve-me ter confundido com o bengaleiro, mas eu não me descosi.
Pus-lhe as mãos nas nádegas. Apertei aquelas almofadinhas e devo ter sorrido então pelas costuras.
- Tu não te chamas Verónica pois não?
- Chamo-me Xana.
- Xana. Xana. Não serve, tem que ser Verónica.
Nunca mais a vi.
O mesmo foco de luz verde que a trouxe, foi o mesmo que a levou.
Fui sentar-me ao balcão. Pedi uma cerveja fresquinha. A meu lado estava um pintas que me tirou as medidas.
Estranhei. Desviei-me. Caí logo do banco, veio o foco de luz verde, sozinho, implacável, e já em cima de mim, apagou-se totalmente.
Quando consegui abrir a pestana (do olho esquerdo), vi os dedos dos meus pés ao fundo.
Quando abri a pestana do olho direito vi o pintas a fumar uma cigarrilha, os sapatos ao fundo da cama, as biqueiras viradas para cima no mesmo sentido dos meus dedos dos pés.
Dei um salto! Uma verdadeira acrobacia!
Só não fiquei pendurado na lâmpada, porque o tecto não tinha lâmpada.
Concentrei-me a ver se me doía alguma coisa. Nada, Só a cabeça, mas isso era consequência da batida. Da batida no tecto.
O pintas tirava-me as medidas outra vez, agora o comprimento, porque atrapalhei-me a calçar as peúgas e cai sobre comprido na alcatifa.
- Tenho um negócio de mulheres. De mulheres de sonho! Daquelas que não reclamam, não nos levam o guito, não choram por tudo e por nada, não estragam as nossas camisas com lixívia e marcas de ferro de engomar, e coisas do género, não...
- Você a mim não me engana, isso não são mulheres!
- São idênticas, só que a bem dizer, não falam. Têm a boca bem aberta mas não estrebucham. E nunca fecham as pernas. Têm um dispositivo que aquilo, meu amigo, nunca se fecha para obras. É sempre a abrir. Quer ver?
- E tem alguma Verónica?
- Verónica, Anabela, Ludovina Perpétua, o que você quiser!
O pintas deu-me a mão.
O cachucho do mindinho enfiou-se-me por uma falange qualquer a dentro. Levantei-me.
O pintas era a minha safa. O resto, ossos do ofício.
Abriu uma porta que dava para um compartimento escuro, mas cuja lâmpada do tecto se acendeu e deixou à mostra uma quantidade de prateleiras e de caixotes e de sacos do lixo de plástico, verdes, cheias e cheios de gajas igualmente de plástico (PVC. Poli cloreto de vinila. Insufláveis).
Eram de todas as cores, de todas as qualidades.
Aproximei-me melhor.
- Até têm pormenores. – Disse eu a pegar numa com sardas, pelo tornozelo.
- Cuidado com as unhas. O silicone é sensível. Quando a gente as fura, elas emitem um aviso sonoro e voam pela janela às piruetas.
- Que cena!
- Olhe bem para esta beleza. Parece a Pamela, o mesmo silicone...
- Pois parece, mas não serve, a Verónica tem as mamocas assim, do tamanho de pêssegos, precisamente.
- Então tem esta aqui.
- É loira, também não serve.
Mostrei-lhe a fotografia. O tipo, especializado em tirar medidas a olho, esticou a fita métrica ocular.
- Também se arranja, mas só de encomenda, tem que esperar uma semana, nem tanto, mas arranja-se.
- Não vale a pena. Não é para mim sabe...
- Isso é o que todos dizem homem!
- Estou a d’ zer-lhe. Para mim até aquela ruiva ali, desmilinguida servia, mas p’ ó Carlos tem que ser uma Verónica, a verdadeira! De carne e osso!
- Não me diga que ele gosta daquelas que falam, se embonecam todas, choram, riem-se que nem umas perdidas, cuja depilação definitiva dura sensivelmente 2 semanas, não me diga uma coisa dessas!
- Não. Ele gosta mesmo é da Verónica. Da Verónica e mais nada. Estou tramado.
- Não está nada. Ainda há ali outro compartimento.
E nisto, abriu uma segunda porta.
Descemos por umas escadas. Descemos mais ainda.
Continuamos a descer.
Quando estávamos a um metro da Finisterra...
- Aqui vai encontrar certamente a tal Verónica.
- Obrigado pelo apoio psicológico.
Aquele compartimento não tinha porta. Olhei para o lado e um grande espelho exibia um fulano trinca espinhas, de mãos nos bolsos, a ponta dos dedos a mexer fora das calças esfarrapadas e um sorriso da província, bimbo mesmo.
Cumprimentei-me. Retribui a mim próprio aquele sorriso.
- Não tem por acaso um pente que me empreste?
- Por acaso até tenho.
Penteei os bigodes, como tinha visto numa cena, dum filme, na altura que gamava cassetes de vídeo. Só depois reparei que não tinha bigode. Já à muitos anos que não tinha. Desde que ele me apareceu, tinha eu meia dúzia de anos e já fumava.
Penteei a sobrancelha. Sobrancelha ainda tinha uma. A outra queimei-a uma vez, distraído. Nunca mais nasceu.
- Obrigado. Estou mais composto, não acha?
- É indiferente, sabe? Estas mulheres são mais sensíveis, de melhor acabamento, mas não ligam muito a essas paneleirices.
Entramos então numa sala com mesas redondas e cadeiras à volta das mesas. Ao fundo havia um bar, com barmen e tudo e mais espelhos, por todo lado, eu por todo lado, eu e o pintas e gajas. Umas dez. Sentadas nas cadeiras ou em bancos de veludo vermelho encostados aos cantos da sala, com uns reposteiros por trás, dourados a condizer.
- Isto é um mundo! – Disse eu a girar a cabeça à procura da Verónica.
Puxei de um cigarro. Veio logo uma, com um isqueiro estendido.
Acendeu-me a ponta. Traguei. Mandei o fumo para a atmosfera do ambiente.
A gaja engoliu-o e disse, com voz de ventríloquo (eram gajas articuladas, robôs):
- Trago qualquer coisa que tenhas acesa.
Engasguei-me. Tossi.
Veio logo outra dar-me palmadinhas nas costas.
- Também fumas?
- Todas as marcas.
- Quem é, Carlos?
Tirei a fotografia do bolso, aproximei-a da luz de uma vela acesa sobre uma das mesas.
Tinha encontrado a Verónica. A verdadeira. Só tive uma dúvida.
Virei-me outra vez para a gaja que me tinha dado as palmadas nas costas e rematei:
- Diz lá um poema.
E não é que ela disse? Ali, na hora, de improviso?
- Levo esta.
- Muito bem.
O pintas então mandou-a ir buscar as coisas dela, inutilidades de mulher e deu-me um abraço. Era escusado.
- Parabéns! Leva aqui uma mulher de luxo. De luxo! São 100 contos.
- 100 contos! Cem milenas! Cem? Cem?!
- Pronto, não dê mais pulos que ainda se aleija. Faço 99.
Para levar a Verónica dali para fora tive que abrir os cordões à mochila e lhe dar dois relógios que tinha gamado.
Para enfia-la (à Verónica) no autocarro é que foi o cabo dos trabalhos.
Transpirei como nos tempos que andava nas obras.
A custo lá entrou, mas assim que se apanhou lá dentro, estava eu a fingir que picava o bilhete e ela a sentar-se ao colo do motorista, a lamber-lhe os ouvidos e outras reentrâncias. O homem não apreciou.
Estava de serviço. É compreensível.
Lá consegui tirá-la daquela cena e sentei-a bem sentadinha à janela. Mas foi por pouco tempo. Não tardou nada, levantou-se, deitou a língua de fora e foi deireitinha ao motorista. Consequência disto, o autocarro desceu por uma ravina, tombamos todos uns para cima dos outros, alguns aproveitaram-se e tombaram para cima da Verónica, até que a viatura embateu contra um eucalipto.
Atordoado, arrastei a Verónica pela malinha das inutilidades, os saltos altos a encravarem-se-me na biqueira dos ténis, como agulhas, os collans rompidos. As saliências de fora.
O elevador demorava.
Eu a rezar para o Carlos não ter chegado ainda, para poder enfiar a Verónica na banheira, dar-lhe uma enxaguadela, vestir-lhe um pijama, deitá-la na cama...
O elevador demoraaaaaaaaaaaaava.
O baton da Verónica, sabia a remédio. A óleo de fígado de bacalhau ou lá o que era.
O elevador a abrir as portas, nas calmas. Entramos.
A mão dela enfiou-se p’a dentro do bolso das minhas calças, descosido.
Percebo finalmente a alucinação do Carlos por aquela gaja. Arranquei-lhe a mão do bolso, afinal o Carlos era o meu melhor amigo.
Voltei a por a mão dela no meu bolso. Que ça lixe!
O Carlos ainda não tinha chegado. Fui abrir a torneira do chuveiro. Pus a Verónica debaixo do repuxo e comecei a ensaboa-la toda. Esquisito era de cada vez que tocava nas reentrâncias e nas
saliências, parecia que estava a por os dedos na ficha eléctrica. Não curtia nada a sensação, as minhas veias ficavam como os fios dum cabo de alta tensão, em curto circuito, mas aguentei-me.
Enxuguei-a enquanto ela, língua de fora, pontiaguda, me limpava as orelhas dor dentro, como um cotonete.
Que robô mais maluca!
Caímos na cama.
A língua dela, gelada, um friozinho por mim a cima, por mim a baixo. O elevador na escada a anunciar-se e eu não parava de gemer. As unhas da Verónica a cravarem-se-me nas costas, o elevador a abrir as portas, a Verónica a abrir as pernas, e eu sem saída a não ser o beco sem saída da Verónica a engolir-me com as unhas metidas nas minhas costas e o Carlos a meter a chave na fechadura. Gaita! Merda! Merda!
Enfiei-me no guarda-fatos. As portas não se fechavam completamente, o meu sexo entalado nas portas, acabei de gemer, a Verónica pela fresta das portas do guarda-fatos a enroscar-se toda como um parafuso, o Carlos a olhar para ela, embevecido de a ver:
O Carlos com uma lágrima ao canto do olho, feito maricas, a acariciar-lhe os cabelos espalhados pela almofada.
O Carlos ajoelhado na cama, a Verónica petrificada, a língua recolhida, os olhos fechados,
as unhas retraídas, as pernas juntas, hirtas como duas talas.
O Carlos a desfazer-se em lágrimas e em desculpas.
Enxuguei a testa à manga de uma camisa pendurada. O meu sexo todo metido para dentro, o que é que teria dado à gaja?
Abri a fresta do guarda-fatos um nadinha mais para puder ver melhor.
Foi então que o Carlos virou a Verónica de costas.
Desviou-lhe a cabeleira para o lado, encostou a palma da mão à altura dos pulmões, já esvaziados, e encontrou uma caixa.
Devia ser a caixa dos fusíveis. Disse eu para os botões.
(Não morri electrocutado no duche só porque não calhou!)
Afinal, vendo bem, era uma caixa de pilhas.
Nunca vi o Carlos naquele estado.
Nem com alucinações. Nem com a ressaca. Nem quando lhe vendi os poemas da Verónica na Feira da Ladra. Nunca o tinha visto naquele estado: Moribundo, desconsolado, sentido.
Atirou as pilhas para o balde do lixo. Saiu para a rua.
Deve ter ido comprar pilhas novas.
E agora o que é que eu faço? Com uma gaja que tem uma pilha no lugar do coração?

16.7.08
Desmanchar a mamã
(no carro, a caminho de casa)
- Mamã? Posso vê os little people?
- Não Miguel, estás de castigo.
- Posso vê ôtos bonecos?
- Não Miguel, não podes, nem uns nem outros, não arrumaste os brinquedos em casa da avó Ana e do vô João, não vês os bonecos.
- Podes leváme ao jadim?
- Estás de cas-ti-go, jardim? Não, também não podes ir ao jardim, além do mais são horas de irmos para casa jantar.
- E tu vais conseguie?
- Conseguir o quê filho?
- Jantai? Tu vais conseguie jantai assim tão zangada?
O castigo não se desmanchou, já a mamã... (ainda par' aqui está a tentar montar outra vez o ar sério e não é capaz)

15.7.08
E agora o Post do Casamento

Agrupador (leitor) de Feeds

14.7.08
Subscreva este Blogue

12.7.08
FIA 2008 FIL artesanato

10.7.08
Feeds

9.7.08
Variações
"Quando a cabeça não tem juízo, Quando te esforças mais do que é preciso, o corpo é que paga
Deix'ó pagar, deix'ó pagar
Se tu estás a gostar...
Quando a cabeça não se liberta das frustrações, inibições, toda essa força, que te aperta
O corpo é que sofre
As privações, mutilações
Quando a cabeça está convencida de que ela é A oitava maravilha, o corpo é que sofre
Deixa sofrer, deixa sofrer
Se isso te dá prazer...
Quando a cabeça não tem juízo e te consomes, mais do que é preciso, o corpo é que paga
Deixa pagar, deixa pagar
Se tu estás a
gostar...Deixa sofrer, deixa sofrer, se isso te da prazer..."
António Variações

7.7.08
Parabéns Pai

5.7.08
Os Sábados
(tenho que ir para a cama),
de costume
(já são horas de nos irmos deitar),
de falta de ar
de antipatia
(estás a ressonar que m**! pareces um tractor")
Agora, depois de termos juntado os trapinhos, de termos obtado por dormir numa cama de casal (juntos!) eu passo os Sábados com as amigas? na instituição de solidariedade? a pintar? na natação? no cinema? Não. Passo os Sábados em casa a fazer a faxina com um pirralhito de 3 anos agarrado ao tubo do aspirador! e às 5 da tarde estou a beber um merecido refresco na esplanada com a minha comadre Alice e liga o Ricardo para me dizer vamos jantar fora? vamos por o menino nos teus pais e vamos ao teatro? Não. Para me dizer:
- "Estou sentado na escada do prédio à tua espera porque me esqueci das chaves de casa."
Num qualquer Sábado antes do casamento (dos trapos e da cama) a conversa era outra:
- "Onde é que estás? Então eu vou aí ter contigo."
E este é mais um Sábado à noite sem copophonia, sem nada de lascivo, até porque amanhã vamos todos levantar com as galinhas, vamos ao Meco (nadar como viemos ao mundo? Não. passar o dia na casa da Maria José).
(das pessoas inclusive)
e as próprias pessoas, tal como vieram ao mundo.

4.7.08
"No passa nada"
"Cosas VivasNunca quisisteninguna cosa vivaen tu casa.No tenías gato,ni siquieraplantas...... o floresque te hicieran compañía.Por eso me sorprendí un pococuando vi una araña que colgaba del techoy no la mataste."Estela Kallay (poetisa Argentina)Alguém percebeu patavina deste Post?Não?Nem eu.

3.7.08
Faísca McQueen

Eu sei, eu sei
Está desactualizado, descomposto, parou em las Vegas com o comentador de culto deste blogue a ir ao concerto com a Drew vestida de peixe (onde é que isso já vai!). Eu prometo, que quando tiver tempo (à velocidade dos comentários vou precisar de muito! devo ter para aí uns 370 para passar para o Livro de Exclamações) eu actualizo o Blogue, sim?
Se comentarem mais devagarinho ajuda (eu incluída, ó para mim a enfiar a carapuça!)

2.7.08
FELIZ ANIVERSÁRIO FILHO!
É verdade, confesso. Tenho o Rei na barriga. Passo as horas a
olhar para o meu próprio umbigo.O meu próprio umbigo, é o centro do universo.Eu
e o meu filho, havemos de nascer os dois no mesmo dia e enquanto aguardo por
esse acontecimento, vou analisando o centro do universo, num quarto crescente e
peço todos os dias ao anjo da guarda que o proteja.Se pareço que tenho o rei na
barriga, confesso, tenho o rei na barriga, e toda a vaidade. Só eu sei o tesouro
que trago comigo (…)
Quando te vi pela primeira vez, a preto e branco (como
as fotos do Sebastião Salgado ou como as fotografias da avozinha Ana e do
avozinho João, enfim, a preto e branco, como devem ser todas as imagens dignas
de serem registadas na nossa base de dados sentimental), medias 14,5 milímetros.
Ena! Que grande! Grande acontecimento, claro!Dois corações a baterem em um corpo
só. Dois corações a baterem dentro das mesmas fronteiras. É inexplicável a
sensação que quero transmitir-te.Tens 7 semanas de vida (…)
Não calculas a
felicidade que sinto. Está tudo bem.Vim contigo, pequenino, impresso em película
de radiografia, dentro de um saco de papel, a rir-me por dentro pelas
costuras.Só eu sei o tesouro que carrego.
Medes 3 centímetros e tens 9
semanas de gestação (…) Já olhei três vezes para a película (ecografia) desde
que comecei a escrever. Estou embevecida (…)
O meu filho Miguel nasceu no
dia 2 de Julho de 2005 (Sábado) às 19:45 H com 2.895 Kg e 48,5 cm’s. Nasceu de
parto eutócico (ver Link) na Maternidade do Hospital Fernando Fonseca, na
Amadora.Há quem diga que a dor do parto se esquece…A verdade é que quanto maior
é a dor, maior é o alívio (…)
Foi horrível. Mas felizmente, o meu filho
nasceu 5 minutos depois.Já passaram 8 dias, já passaram as dores, não passou a
lembrança.Ainda choro quando me lembro das dores. Ainda choro quando olho para o
meu filho de madrugada e recordo tanta angústia… Não sei se é mágoa, se é
depressão. O resto é emoção por ter o meu filho, tão pequenino, trémulo e quente
como um passarinho dentro dos meus braços fechados, de olhos bem espertos postos
em mim a decorar-me. Dou de mamar com uma persistência infinita, um amor
desmedido e repito para mim mesma, ainda incrédula, que ele é tão bonito, tão
perfeitinho…O meu filho encheu a nossa casa de novos cheiros, de cores que não
havia, das sensações mais nobres. O meu filho é a causa e a recompensa do meu
extremo cansaço.Talvez esteja na altura de eu começar a escrever os nossos dias…
sem chorar.
Hoje descobri a maravilhosa invenção do biberon! Adeus dores nos
rins, adeus mamadas de duas horas, adeus noites em claro. O meu filho bebe um
biberon de leite em 10 minutos e dorme satisfeito com carinha de anjinho (…)
Comecei hoje a tomar a pílula da amamentação embora sexo seja a última das
minhas vontades (…)
A pediatra, a Dr.ª Marinela do Posto Médico, foi a única
pessoa até agora capaz de avaliar o meu cansaço, foi a única pessoa que
reconheceu em mim, um estado quase irremediavelmente depressivo. Só por isso
estou-lhe grata. Só por ter reparado em mim, entender perfeitamente tudo aquilo
por que passei, só por isso, estou-lhe imensamente grata e sinto-me muito
melhor… (…)
Faço hoje 33 anos.Almoçamos na casa dos meus pais. De regresso a
casa o Miguel vomitou. Já tinha vomitado uma vez, mas ao contrário dessa, não
ficou aliviado.A Sandra está grávida. Vou ter mais um "sobrinho", ou será desta
que vai nascer uma menina? (…)
O meu filho faz hoje dois meses de vida. Eu
também dou por terminado o meu primeiro mês como mãe. Parece-me que o vendaval
já passou. As coisas começam finalmente a entrar na rotina e a tornarem-se
simples. Fez-se luz na minha vida. Ando feliz sem liberdade, o tempo que me
cabe, para as minhas coisas é diminuto, mesmo assim, não importa, o meu filho
ilumina a minha vida. Todos os dias me comovo, todos os dias me envaideço, todos
os dias agradeço tanta luz.Quanto à dor do parto, não pensem que me esqueci
dela, não. Não vou é andar a vida toda a queixar-me de uma coisa que já não me
dói (…)
O dia do baptizado do meu filho, foi o segundo dia mais feliz da
minha vida e agradeço do fundo do coração ao nosso querido Frei Albertino por
ter sido também, o segundo dia mais importante da minha vida (...)
Um
brinquedo! Um brinquedo Gigante!
Transportei-o com dificuldade, mas trazia
estampado na cara a alegria imensa que me deu comprar um presente de Natal para
o meu filho. O maior presente da loja!
O Natal é das crianças. E apesar de
eu não gostar lá muito do Natal desde pequena, os brinquedos têm magia. Fazem
magia.
Saí do Colombo a cantar (para dentro, claro): Brinquedos, brinquedos,
eles são a nossa maior alegria! Lá, lá, lá...
Depositei o embrulho azul e
verde, gigante, na sala e fui buscar o Miguel:
- " É da mamã, filho, foi a
mamã que comprou, era o brinquedo maior da loja filho, é para ti!
- " A mãe
gosta de ti mais do que tudo no mundo..."
Ao que ele me respondeu "ã" com um
ar seriamente preocupado.
Eu de lágrima no olho a olhar para o embrulho, o
meu filho a olhar mais para a lágrima no olho que propriamente para o embrulho.
Eu, à espera da noite de Natal.
Eu, à espera da noite de Natal para
oferecer um brinquedo gigante ao meu filho.
Parece mesmo magia dos
brinquedos... (…)
Mas este Natal foi diferente... E eu e o meu filho vamos
mudar o mundo! (Fiquem sossegados, prometemos mudar o mundo em horário
apropriado para não incomodar) Dia 25 continuará a ser Natal, mas vamos os dois
arredar o mundo um nadinha mais para o lado do coração (…)
Hoje fiz anos. 34. E recebi a prenda mais valiosa de todas as prendas de aniversário que recebi
em 34 anos: o meu filho deu os primeiros passinhos. Acredito que a minha mãe e o
meu pai tenham treinado o Miguel para fazer esta gracinha nos anos da mãe, mas
de qualquer forma, se ele não tivesse perdido o medo de vir direitinho aos
nossos braços abertos, pelo seu próprio pé, nada disto tinha acontecido. Ainda
estou de lágrima no olho. E de braços abertos também... (…)
Os legos, quanto
a mim só têm um defeito: as peças não voltam sózinhas para a caixa e dói muito
quando pisamos uma! (…)
A primeira gracinha do Miguel foi mostrar a toda a
gente aonde é que a pitinha põe o ovo. É muito engraçado o dedinho indicador da
mãozinha direita a picar a palma da outra mão. Depois cantamos: A pitinha pôs o
ovo, veio o Miguel e comeu-o todo! E ele ri à gargalhada. Esta gracinha também
serve para seduzir a mãe ou tentar convencê-la a acabar com a refeição da sopa.
Quando o Miguel não está mesmo interessado na sopa toca de fazer a pitinha põe o
ovo sem ninguém lhe perguntar nada (…)
Por incrivel que pareça ontem
perguntaram-me o que é que eu gostaria que o meu filho fosse, quando fosse
grande! Eu fingi que nem ouvi a pergunta (de tão idiota), podia ter respondido
com o meu humor: não sei, mas acho que ele vai ser electricista, sempre se
espantou quando olha para o tecto e descobre um candeeiro, ou então ciclista
porque adora pedalar, mas enfiei outro tema pela conversa a baixo e a pergunta
idiota ficou sem resposta igualmente idiota.
Quero que o meu filho onde meta
as mãos meta a cabeça e que nunca se esqueça o coração é que move mãos e cabeça.
Esta é a resposta, mas para a próxima, é melhor responder médico, também não é
nenhuma mentira e fica sempre bem (…)
O que mais me custa nesta fase?
O meu filho não querer dormir nem quando está a cair de maduro.
A toda a hora,
afinar as cordas vocais.
O meu filho levar as mãos à boca logo a seguir a
uma colher de sopa e todo ele é sopinha de legumes com carninha (quando é
sopinha de legumes com peixinho o Miguel cheira a foca durante uma quantidade de
tempo) ah! e atirar com todos os brinquedos para o chão! (as vezes que eu vergo
a mola cá em casa! Se eu fosse da qualidade que parece que engoliu um garfo,
havia mais chuchinhas e soldadinhos e carrinhos e bonecada pelo chão que chão)
E também me custa não ter tempo para as minhas picuínhices, as minhas
escritas, as minhas leituras, as unhas e os banhos de imersão (...) O meu filho
gatinhou hoje pela primeira vez. Para ser inteiramente verdade, o meu filho
gatinhou hoje pela primeira vez para a frente. Sim, porque ele é um caranguejo
(de signo) e como tal, a influência que os astros exercem sobre o Miguel têm-no
praticamente obrigado a gatinhar e a arrastar-se para trás e para os lados até à
data de hoje, em que finalmente, o astral e o ascendente (há sempre um
ascendente) estavam distraídos e o Miguel lá foi em frente em busca de outros
mundos!A primeira caminhada do Miguel sem a nossa ajuda, vão ser meia dúzia de
passos, com pequenos espaços entre os passos, mas um grande salto que ele dará
para a humanidade. Hoje, quando o Miguel gatinhou pela primeira vez, para a
frente! (Para a frente é que é a humanidade) eu estava lá de olhar atento e
emocionado. Quando o Miguel der os primeiros passinhos sózinho, eu vou lá estar,
de mãos estendidas para o segurar sem ele saber. Espero.
Estarei sempre lá
para o caso de haver quedas e para o caso de eu me emocionar... (…)Depressa cresce outra vez, pois é?
E para além do mais,
não deitei fora os cabelinhos do meu filho, não! Guardei-os num saquinho de pano
dentro da caixinha das recordações, ao pé das chuchinhas que foi largando, da
primeira esponja de banho e das pulseirinhas que trouxemos da maternidade.
A
mesma caixinha para onde qualquer dia, vai um dentinho de leite, um rabisco no
papel, um desenho e claro, mais saquinhos com cabelo para matar as saudades! (…)
“fi - fi, na, na, na... cun - quinha!” Que é como quem canta:Miffy, que
esperta coelhinha...Miffy, que linda coelhinha...É parecido não é? (…)
O
linhão, a fifafa, o cão, o coelhinho, o pato, o sapo, a rã, a minhoca, a vaca, o
mémé, o camêio, o pi-piu... (…)Vuméio, vêde, amaiêio, azui, roxo, laranja, pêto
e banco (…) O melhor das palavras é quando são so-le-tra-das, sentiiiiiidas!
Gua... guague... gaguejadas, o melhor das palavras é quando dão suúluúçaádas,
as, chorá-ádas, as, ou, cantadas lá, lá! (Quem canta bem as palavras são os
fadistas). O melhor das palavras é quando o meu filho não as sabe dizer.
- Vai dar apentaçôin! (*)
- É uma fixiléca! (**)
- Não anda... Não tem zagolina (***)
O melhor das palavras é quando são ditas pelas crianças.
Especialmente naquela fase em que ainda não as sabem dizer. Às
palavras.(*) Apresentações, Traillers(**) Bicicleta (***) Gasolina(...)- Tu sabes cantar o poeta filho?
- xim.
- Tu
decoras-te tudo meu passarinho?
- canta o poeta mãe, canta comigo...
(…)Apesar de ter nascido como mãe vai para três anos, ainda não
me habituei, nem contornei, nem aceitei, nem sou capaz, o facto de ter que me
levantar cedo como se fosse trabalhar aos fins-de-semana. Eu de semana,
levanto-me bem, o meu filho ainda está a dormir, eu vou direitinha à casa de
banho, faço a minha higiene, visto-me e depois vou acordá-lo com miminhos, desde
que sou mãe nunca mais acordei de mau humor porque tenho o meu filho lá em casa,
vou abraçá-lo e enche-lo de beijinhos, acender a luz do dia, ouvir os bons-dias:
- Bom dia mãe, ti dumistes bem? O papá? Já foi pó tabalho? Vamos àvóana? Uvô
Juão tem lá livros?
Mas porque é que isto aos fins-de-semana não resulta? É
que eu aos fins-de-semana acordo por força da maternidade que me chama por volta
das 7 e meia da manhã e à mais de meia hora que está para ali a chamar, main...
main... Mamã. Mamããããããããã!
com uma telha que não calculam!
Depois
levanto-me assim, com a telha, mal humorada, fula, danada, tiro o miúdo da cama
com maus modos
- Bom dia mãe.
- Bom dia? Não achas que ainda é de noite?
- O Miguel já dumiu muuuuito.
- Já, já
Ponho-o em cima dos meus pés
descalços para que ele mal e porcamente chegue à retrete, resmungo enquanto o
xixi não vem, não consigo abrir os dois olhos ao mesmo tempo
- Ti dumis-te bem?
- Faz mas é xixi que a mãe está descalça, vá, asinha, asinha!
Pego
nele ao colo, como a um traste nem os bons-dias, enfio-o cadeirinha a baixo,
aperto com o cinto, aperto o babete à volta do gasganete e não tarda nada estou
a dar-lhe colheres de papa com a telha, mal humorada, fula, danada e o meu filho
com infinita misericórdia espera pelas 9 e meia de sábado ou de domingo, tanto
faz, e quando já estou de chinelos, com os dois olhos abertos, já bebi um café e
dou o ar da minha graça
- Meu filhinho, passarinho da mãe (seguido da
beijoca na bochecha)
aquele anjinho, olha para mim, com o seu sorriso
misericordioso e responde:
- Ti já não tás zangada mãe? (…)
E não é que
este pequeninosinho que eu aqui tenho se ajoelha em frente à coluna e fica a
ouvir o Turandot, o Adagio de Albinoni, o coro dos Escravos da Ópera Nabucco e
tudo o que eu estiver a ouvir, Jorge Palma e tudo e eu digo-lhe: - Sai daí
filho! Não é preciso estares com o nariz enfiado dentro da coluna. - Ao que ele
responde:- É bom! Eu gôto dito!Um pequeninosinho deste tamanho, como se música desta,
leia-se alternativa (às musicas da carochinha) fosse como pão com marmelada...
(…)
Não estava à espera (ninguém está à espera) de voltar a sentir nas
minhas mãos, no meu peito, na minha cara o morno sangue do meu filho. O mesmo
cheiro que se entranhou na minha memória, quando o Miguel acabou de nascer,
ensanguentado como deve de ser e o colocaram em cima do meu coração alvoroçado,
ontem avivou. Foi só um susto. Já passou (ontem era vai passar, filho, a mãe
está aqui, vai passar) (…)
Correu bem. Sem anestesia, sem lágrimas, as
enfermeiras e médicas do Posto (da Venda Nova) umas queridas de volta do
Miguel:- De quem são esses olhos tão lindos?(Gosto do elogio frequente aos olhos
do meu filho, que geralmente é dirigido aos meninos (as) de olhos grandes, ou
muito azuis ou muito verdes, dirigido ao meu filho é por causa do brilho, da
expressão, que é uma coisa que a mim, mais do que a ninguém, inebria...)
(…)

1.7.08
Mika - Grace Kelly
Apetece-me cantar por cima!!

I wanna talk to you...
... The last time we talked, Mr. Smith, you reduced me to
tears. I promise you, it won't happen again...
Do I attract you?
Do I repulse you with my queasy smile?
Am I too dirty?
Am I too flirty?
Do I like what you like?
I could be wholesome
I could be loathsome
Yes, I'm a little bit shy
Why don't you like me?
Why don't you like me without making me try?
I tried to be like Grace Kelly
But all her looks were too sad
So I tried a little Freddie
I've gone identity mad!
I could be brown
I could be blue
I could be violet sky
I could be hurtful
I could be purple
I could be anything you like
Gotta be green
Gotta be mean
Gotta be everything more
Why don't you like me?
Why don't you like me?
Why don't you walk out the door!
(Getting angry doesn't solve anything)
How can I help
How can I help it
How can I help what you think?
Hello my baby
Hello my baby
Putting my life on the brink
Why don't you like me
Why don't you like me
Why don't you like yourself?
Should I bend over?
Should I look older just to be put on your shelf?
I try to be like Grace Kelly
But all her looks were too sad
So I tried a little Freddie
I've gone identity mad!
I could be brown
I could be blue
I could be violet sky
I could be hurtfulI could be purple
I could be anything you like
Gotta be green
Gotta be mean
Gotta be everything more
Why don't you like me?
Why don't you like me?
Why don't you walk out the door!
Say what you want to satisfy yourself
But you only want what everybody else says you should want... You want...
I could be brown
I could be blue
I could be violet sky
I could be hurtfulI could be purple
I could be anything you like
Gotta be green
Gotta be mean
Gotta be everything more
Why don't you like me?
Why don't you like me?
Why don't you walk out the door!
(Humphrey, we're leaving.)
