Salamanca – Valladolid – Burgos – Vitória Gasteiz (paragem para dormir) – Donostia S. Sebastián – Bayonne (França) – Pau – Tarbes – Toulouse – Albi – Rodez e ... Marcillac.
2 dias de viagem numa carrinha com "control cruise" e ar condicionado, fez-se bem. A cidade de Marcillac, no Sudoeste da França (costa atlântica da França), distrito de Aveyron, é surpreendentemente bela, tradicional e pitoresca. À chegada, tudo me fez lembrar a Gália Celta do Astérix.
Na viagem de regresso a Lisboa, paramos para dormir em Tolosa, no País Basco, foi outra cidade que me surpreendeu, nunca havia ficado no País Basco (país basco é uma denominação estranha, o país é a Espanha, mas faz sentido, neste caso, um país dentro de outro país, esta região, pela cultura e dialeto, é uma 'coisa' realmente à parte...) e se à chegada a Marcillac tudo me pareceu a Gália Celta do Astérix, à chegada a Tolosa, ao ver as primeiras placas de orientação, tive a estranha sensação de que poderia estar na... Holanda?
Apesar do domínio dos romanos, os bascos mantiveram (num acto de invulgar resistência) a língua basca (o euskara ou euskera). É um idioma que só se fala aqui, no país da ETA e no extremo sudoeste da França (em Bayonne por exemplo, mas não dei por isso, foi uma passagem). Não tem qualquer semelhança com o Espanhol (O Catalão, o Galego, nada) e tenho a impressão que ninguém (para além dos próprios bascos, e talvez os Holandeses :)) consegue entender esta língua.
Kaixo (olá) Egunon (bom dia) Ez erre (não fumar) bom para fumar porque não me parece que os Bascos consigam punir alguém por não entender a língua deles. Ura (água) kafe hutsa (café) Já estou habituada a não beber café em território Espanhol. Eskerrik asko (muito obrigado) mesedez (por favor)
ez horregatik (de nada) para além do mais não é simpático, os Franceses usam (infatigavelmente) a deliciosa expressão: "- De rien, c' est un plaisir."
É caso para dizer: "Ez dut ulertzen" (Não entendo) mesmo assim foi um enorme prazer conhecer esta cidade e uma experiência memorável.
E agora fazia tudo outra vez: Salamanca - Valladolid - Burg...
Estou acabadinha de chegar e já tenho saudades... dos queijos (o roquefort é o queijo natural desta região da França), das paisagens (tudo me faz lembrar a Gália Celta tal como na banda desenhada do Asterix...), da educação (finura), extrema civilidade dos Franceses, ao nosso obrigado ou merci (já falei disto), o infatigável: "- De rien, c' est un plaisir"... Uma semana ou duas na França, e regressamos mais requintados, civilizados.

O vinho de Marcillac
Apesar da devastação impiedosa das vinhas pela filoxera e durante a 2ª guerra mundial, nesta região o vinho de Marcillac (região demarcada de Bordeaux) é mundialmente conhecido (como Champagne, Côtes du Rhône, Provence ou Val de Loire). Bordeaux é a região vinícola com mais concentração de bons vinhos e a mais prestigiada da França. Numa visita às caves de vinho de Marcillac, o guia explicou que nenhuma região vinícola do mundo produz tantos vinhos de altíssima qualidade como Bordeaux, a maioria deles são tintos (devido ao alto teor de ferro da uva). E atendendo a que as principais uvas desta região são a Cabernet, Merlot, Petit Verdot, Sauvignon Blanc, Sémillon, Muscadelle e Petit Verdot, acredito nisso tudo, muito embora (eu provei, provei o tinto e o rosé), ainda não tenha sido desta que provei um vinho melhor que o Alentejano (mas o meu primo Quim ofereceu-nos duas caixas de vinho de Marcillac e eu poderei sempre fazer nova prova (com mais calma e concentração).
E o pecado da gula continua... Os Franceses dizem que à mesa (é uma espécie de ditado) não podem faltar o vinho, a charcutaria e os queijos.
Todas as refeições em França terminam com uma tábua como esta (em cima) de queijos: Camembert, Brie, ... e o mais apreciado dos queijos: o célebre Roquefort...
Em cima as caves do célebre Roquefort "Papillon". Em Albi, também nesta região da França, é onde se situam as caves do Roquefort "Société". O Roquefort é um queijo de ovelha e aquelas coisas verdes tipo bolor, que agoniam muita gente (e ainda bem, sobra mais roquefort) é nada mais que um cogumelo que nasce espontaneamente nas caves de Roquefort, nesta região de Aveyron, chamado "Le penicillium Roqueforti fleurit". As caves desta região de França, têm um microclima particular favorável à afinação (apuramento) deste queijo.
Não trouxemos roquefort em caixas na bagagem nem foi por causa do cheiro, foi porque se vende cá em Portugal o (divino) "Societé" em qualquer supermercado.
Igreja de Marcillac no coração da vila.
Um antigo quartel da guarda (esquadra de polícia).

As casas em Marcillac são pitorescas, em arenito rosa, no meio de pomares, vinhas e socalcos, têm balcões e os telhados são de ardósia (talhados à mão pelos ardoisières d’ anglars) de cor azulada. Os telhados de ardósia são uma das características da região pela sua poderosa impermeabilidade (resistem ao frio intenso ou às altas temperaturas, às chuvas fortes e à neve que faz na França).
Todas as casas são assim, todas as janelas são de madeira (de tabuínhas), com canteiros de flores. Todas. Aqui é proibido adulterar (com a célebre e de mau gosto medonho, marquise de alumínio por exemplo) a traça original da vila. E é assim por todo o Distrito de Aveyron.
Catedral de Rodez
Nunca imaginei que pudesse encontrar em Marcillac, Rodez (capital de Aveyron) e em toda esta região, tantas pontes velhas romanas, tantos velhos palácios e castelos medievais, abadias, catedrais, museus, igrejas (igrejas romanas na sua origem e a terminar no gótico por consequência dos vários restauros a que foram sujeitas ao longo dos séculos). Não imaginava um lugar com tanta história, beleza, riqueza de património, deve ser invulgar noutro lugar do mundo esta concentração de tudo isto, até porque foi uma região consequentemente arrasada: pela Guerra dos cem anos, pela filoxera, pela 2ª guerra mundial... É impressionante como das ruínas se ergueu tudo outra vez e se nota por todo o lado o cuidado em preservar a tradição, a história, a cultura, as origens... surpreendente este lugar, levava uma vida para visitar, explorar Aveyron, este tesouro do mundo.
Porta sim, porta não, uma, é do tempo dos Romanos.
Rua pricipal de Marcillac. É a rua de la pâtisserie, boulangerie, pharmacie, des terrasse (esplanadas) enfim, do comércio e dos bares.
Esta região é também a terra Natal de Henri de Toulouse-Lautrec (pintor Francês). Nasceu em Albi.
Espero ansiosamente que os meus tio e primos: Tio António, Quim, Dory, Alexandre, Jean Batiste, Maxime, Dominique, Odillete, venham a Portugal (e o Idefix também :)), para poder retribuir tanta dedicação e hospitalidade, principalmente do Quim e da Dory que estiveram de férias connosco para nos fazerem companhia, para fazerem de nossos guias, vim cheia de mimos, de presentes, de recordações, de saudades! e do Alexandre (nunca esquecerei meu querido, os 200 quilómetros que tiveste que fazer para regressar a casa só para ficares mais umas horas connosco e conhecer o Ricardo e o Miguel).
Je vous ame!
Je suis plein de nostalgie, le fromage, les cousins, l'affection ... (Marcillac) tu me manques...
2009/07 Lisboa