oreinabarriga

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26.1.05

Se eu não ouvisse o teu coração a bater...

Hoje conhecemos uma nova enfermeira no posto médico: a enfermeira Ana.
Graças a Deus a enfermeira Filomena, que está sempre muito irritada com o expediente, deve ter tido uma dor de cabeça e recolheu-se. A enfermeira Filomena entende como grávidas, umas criaturas que vão para ali cheias de barrigas e precisam ser pesadas e medidas e esclarecidas de suas dúvidas o que representa uma grande maçada.
A enfermeira Ana pesou-me, mediu-me e esclareceu as minhas dúvidas sem se irritar. E foi ainda buscar um aparelho para ouvir-mos o teu coração! Esta foi a parte melhor!
Eu, deitadinha, de orelhas empertigadas para o efeito e uma espécie de sonar a detectar a presença de golfinhos dentro da minha barriga. E pelo menos um golfinho se aproximou…
O barulho do teu coração não é propriamente uma melodia relaxante como a dos golfinhos quando falam connosco, mas para mim, qualquer som de batedeira eléctrica vindo de ti, são violinos.
O teu coração a bater... alvoroçado, como deve de ser...
Nada mais tem importância, qualquer importância, quando tenho um sinal de ti.
Se eu hoje não tivesse ouvido o teu coração a bater, estava aqui que ninguém me podia aturar, capaz de ir parar às urgências da maternidade!
Beijinhos à enfermeira Ana, que foi uma querida.
Claro que a Dr.ª Rafaela não achou necessário fazer uma nova ecografia por esta altura, com
16 semanas de gestação. A que eu fiz às 9 semanas devia ter feito às 12 e agora só te vejo outra vez lá para Março, às 22. Contas são contas, eu é que estou a ficar ecografia-ó-depedente! Se pudesse, fazia uma ecografia todos os dias antes de me deitar!
É a isto afinal que chamam ser mãe. Felicidade e tristeza. Alegria e agonia ao mesmo tempo. Esperança e medo. Coragem e pequenez.
Se eu hoje não tivesse ouvido o teu coração a bater…

25.1.05

O sonho

Amanhã vamos visitar a Dr.ª Rafaela do Posto de Saúde que é a nossa médica de
família.
Ando sempre a pensar em ti, se estás bem. Ou é porque a barriga parece que encolheu, ou sobretudo porque nunca me deste um sinal. Um enjoozito matinal, uma tonteira, um olá mãe, não me vês mas cá estou eu. Nadinha.
A Dr.ª Rafaela não é médica de muitas falas. Eu com o coração nas mãos, ela impávida e confiante que não me dando grande importância, está a fazer um belo serviço.
Algumas grávidas que conheço são inspeccionadas toda a vez e hora e saem dos consultórios carregadíssimas de comprimidos e de credenciais e documentários em vídeo dos seus próprios filhos, na sua vida intra uterina, em cenas de um filme mudo. Pois eu, venho de lá com o coração nas mãos, tal como entrei. Nem um calmantezinho de folha de alface para os nervos.
A ansiedade que sinto agora por exemplo, dá-me uma imensa vontade de chorar… e se não estiver tudo bem?
Estás dentro de mim mas não estás na minha mão. Se estivesses, eu descansaria…
O pai também acha que está tudo bem e que eu me preocupo demais.
Está tudo bem, está tudo bem, e dão-me palmadinhas nas costas.
A semana passada sonhei que te tinham mergulhado num aquário, na maternidade, porque tinhas nascido ainda embrião(!) As enfermeiras taparam o aquário com um pano preto e ficaram encostadas à parede a repetir que estava tudo bem. Tu, dentro de água, sem luz, como se ainda estivesses na minha barriga e eu, sem te poder ver, tal como agora.
De vez em quando tentava destapar-te (só um bocadinho) de modo a saber se realmente mexias, mas as enfermeiras vinham, cheias de certezas, reprimir-me. Eu dizia, só um bocadinho e elas repetiam: não seja teimosa que está tudo bem.
Pois aqui está a resposta a todos os que me repetem que está tudo bem.
Têm toda a razão. Porque é que não haveria de estar tudo bem? Sei que tenho andado nervosa, sem paciência, tenho fervido em pouca água, quando na realidade está tudo bem. Eu é que não vejo, entende Dr.ª Rafaela? Entendes cônjuge? Entendem enfermeiras do meu sonho do outro dia? Entendem todos? O problema aqui é que EU NÃO VEJO!

Principais factos no mundo: Faz por esta altura 60 anos que os Soviéticos libertaram o mais conhecido campo de concentração do mundo: Auschwitz, na Polónia. Mais precisamente, no dia 27 de Janeiro de 1945. Mais de 1 milhão de pessoas morreram neste campo de extermínio, nas mãos dos nazis. Morreram queimados em fornos, à fome, ou de trabalhos forçados.
Principais factos por cá: Está um frio de rachar. Não chove. Não me lembro de um inverno assim. Às vezes ponho-me a pensar que por este andar, vai invernar em Julho e ainda vais nascer num dia de chuva.