oreinabarriga
este blogue tem Livro de Exclamações
30.5.09
Agora é encontrá-las
Aplausos para o Ator! (Poema intenso)
"
O actor acende a boca.
Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor põe e tira a cabeçade búfalo.
De veado.
De rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.
O que rutila,
o que arde destacadamente na noite, é o actor,
com uma voz pura monotonamente
batida pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca
e retira o adjectivo da coisa,
a subtileza da forma,
e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã
com sua divagação de maçã.
Fabrica peixes
mergulhados na própria labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.
Sorri assim o actor
contra a face de Deus.
Ornamenta Deus
com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus,
e dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave
que atravessa a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Recita o livro.
Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor.
Como a unidade do actor.
O actor é um advérbio
que ramificou de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente do Nome.
Nome que se murmura em si,
e agita, e enlouquece.
O actor é o grande Nome
cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.
Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção da transformação.
Solidifica-se.
Gaseifica-se.
Complica-se.
O actor cresce no seu acto.
Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com sua ossada de base,
com suas tantas janelas, as ruas - o actor com a emotiva publicidade.
Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.
Em estado de graça.
Em compacto estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomina.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.
O actor em estado geral de graça."
"Herberto Hélder
29.5.09
Isso
28.5.09
Eu, sonhadora
Para que não fique nada por dizer
"No processo, a criança já se queixava de algumas agressões físicas da mãe. Mas
esse não é motivo para eu separar uma mãe de uma filha". Perante o que viu na
televisão, admite que Natália (a mãe biológica de Alexandra) não interiorizou
alguns valores importantes enquanto viveu em Portugal. "Mas não havia nada no
processo que apontasse para aquilo", defende-se Gouveia Barros."
26.5.09
O blogue da Alexandra é um movimento criado por seis indignados, que não se ficaram pelo blá, blá, blá, e mexeram a palha toda.
No meio disto tudo...
Sobre a reportagem da SIC, é imperdível a atuação dos pivôs Rodriguo Guedes de Carvalho e Clara de Sousa. O pai afetivo da menina prepara-se para dar uma grande entrevista a uma estação de televisão russa, em horário nobre, daqui a 4 dias e é imperdível sobretudo o momento em que a jornalista Clara de Sousa faz esta pergunta, oportuna, pertinente, ao pai da menina:
É assim um PAI, é assim um PIVÔT de notícias e é assim que se faz JORNALISMO SÉRIO.
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25.5.09
Alexandra, a menina russa (o vídeo)
Agora, condenem o juiz e o estado português por mais esta sentença. Condenem o juiz e o estado português pela cama onde esta menina agora dorme, pela falta de condições em que ela agora vive, pelo frio que faz na russia, pela língua que ela não conhece, pela família que não a ama e vai maltratá-la e sobretudo pela mãe que só por ser biológica, ganhou o direito de ficar com ela e levá-la para a terra dela e fazer com ela o que bem lhe apetecer, ela é apenas a p! que pariu a menina. Só isso.
Eu evitei tanto no post anterior não “ir mais longe”, eu COMI demasiadas palavras naquele post que agora neste VÓMITO, só para não “falar” demasiado a quente. Eu dei o benefício da dúvida, no fundo, mesmo sabendo que o meu 6º sentido nunca me traiu.
Há uma altura no vídeo que a menina chama pela irmã Valéria e a mãe (biológica não é como se diz?) lhe bate, e a menina chora dentro dos braços fechados, isto não transtorna juízes nem instituições como a segurança social, mas transtorna pais como nós.
Extracção de órgãos?! Extracção e comércio de órgãos de crianças fazem as pessoas da raça desta mãe e de prostituição falasse na 1ª pessoa que foi uma mulher que conseguiu permanecer ilegal no nosso país durante 4 anos! e não conseguiu trabalho doutra espécie que não esse.
Este juiz devia ser condenado e o estado português pela sentença (castigo) a que condenaram esta criança.
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21.5.09
Alexandra, a menina russa
"Alexandra, a criança russa que vivia há 4 anos com uma família de
acolhimento portuguesa foi entregue, esta manhã, à mãe biológica. A despedida
dolorosa entre a menina de seis anos e a família que a acolheu aconteceu junto à
Segurança Social de Braga.
Alexandra parte quarta-feira para a Rússia na companhia da mãe no
seguimento de uma decisão judicial. A criança tinha sido entregue a um casal de
Barcelos pela mãe biológica, há quatro anos, depois de ter sido retirada à mãe,
mas o Tribunal da Relação de Guimarães determinou que fosse
devolvida."
Portugal diário 21 de Maio
A Alexandra, a Esmeralda, demasiadas crianças são arrancadas à força aos pais afectivos e entregues à mãe ou ao pai biológico. Mas que Lei é esta? Ou que juízes são estes? Que decidem que prevalece o parentesco biológico ao afectivo? Para quem o interesse da criança (que chora, que está aterrorizada, que não quer ir, quer ficar com a mãe ou com o pai que sempre conheceu) NÃO prevalece sobre qualquer outro interesse manifestado nos autos?
O sangue é matéria e laços de matéria não podem valer mais que afecto e sentimentalidade.
"Durante mais de 30 minutos, família de acolhimento, amigos,
advogado e assistentes sociais tentaram retirar Alexandra do carro. A menina
chorava e não queria sair, acabando por ser levada à força para dentro do
edifício onde a esperava a mãe biológica."
O meu filho tem 4 anos, se agora um Juiz nos separasse era o desespero, o meu filho choraria, teria de ser levado à força, eu choraria, teriam que mo levar à força (era capaz de matar quem mo tentasse levar à força), eu nunca mais voltaria a viver e a última coisa que eu evocaria para que não mo levassem, seria a consanguinidade, porque eu não amo o meu filho por ele ser do meu sangue, eu não amo o meu filho porque andei com ele na barriga, eu amo o meu filho desde aí, desde que ele é sangue do meu sangue e desde o tempo em que o trazia na minha barriga. É diferente.
Não conta para nada a mãe que dá o colo, o banho e os alimentos? Que dá o tempo, a prioridade, a carreira, o carinho, o investimento, a vida se for preciso? Que o leva à escola e o vai buscar? (assegura que tenha direito à educação). Que o leva às vacinas e ao hospital (direito aos cuidados de saúde) e cuida dele e passa noites em claro quando ele está doente? Não conta para nada a mãe que sossega os medos, faz baixar a febre, apanha o vómito? Não conta para nada a mãe que ampara o filho na queda? Ou cuida das feridas? Só 1 mãe é que sabe se o filho tem mais medo do berbequim ou da trovoada, só 1 é que sabe se ele gosta mais do mickey ou dos cars da disney, só 1 sabe dizer quando nasceu o 1º dente, com que idade largou as fraldas, deixou a chucha, disse a primeira palavra, fez a 1ª associação, o brinquedo preferido, a fruta que faz alergia, os sinais na pele, a cicatriz, a música que o acalma, sabe aquela que esteve lá, a que criou. Mas o que mais importa nem é isso! Eu sei que é a mim que o meu filho ama, é comigo que ele quer ficar, se eu não chegar ele chora, é por mim que ele chama de noite quando tem frio, calor, febre, pesadelos ou simplesmente quer confirmar se eu lá estou e apesar de só ter 4 anos, 4! Ele sabe dizer (a um juiz se for preciso) porquê. Por-quê eu.
Não me venham com a genética, o adn, a hereditariedade, a genealogia (o que é que interessam os nomes e os apelidos se encontramos semelhanças e criamos analogias com quem nos quer bem e nunca nos abandonou?).
20.5.09
Jardim Buddha Eden (O jardim da paz)
Eu acho que vivo entre o estado Nirvana e aquilo que é intenso, seja sofrimento ou alegria: a expressão da igreja católica. Mas mais para o lado do intenso.
Para ler o texto na íntegra e ver o vídeo consulte o site da colecção Berardo ."O Jardim da Paz é um espaço com cerca de 35 hectares,
idealizado e concebido pelo Comendador José Berardo, em resposta à destruição
dos Budas Gigantes de Bamyan, naquele que foi, um dos maiores actos de barbárie
cultural, apagando da memória obras primas, do período tardio da Arte de
Gandhara. Em 2001, profundamente chocado com a atitude do Governo Talibã, que
destruiu, intencionalmente, monumentos únicos do Património da Humanidade, o
Comendador Berardo deu início, a mais um, dos seus sonhos, a construção deste
extenso jardim oriental. Prestando, de certo modo, homenagem aos colossais Budas
esculpidos na rocha do vale de Bamyan, no centro do Afeganistão, e que durante
séculos foram referências culturais e espirituais.Pretende-se, que o Jardim da Paz seja um lugar reconciliação.
Sem nenhuma tendência religiosa, abrimos as portas, a todas as pessoas,
independentemente, da religião, etnia, nacionalidade, sexo, idade, condição
cultural ou social, convidando à união, comunicação e meditação, como forma de
redescobrir a felicidade. Ambicionamos, assim, percorrer o caminho contrário à
destruição do ser humano e disseminar a cultura da paz..."Localização: Saida 12 na A8 seguindo os sinais 'Buddha Eden' durante +/- 2km.Entrada: GratuitaHorário: 7 dias por semana, desde o nascer até ao pôr do Sol.
15.5.09
Este filme pode doer
Parto. Esta é a hora h (agá aaaaaaaaaaah! mais precisamente). Dizem que é uma dor que se esquece. As mulheres mais velhas que eu muito provavelmente porque já se passaram tantos anos, é uma dor que já lá vai tão longe, que já nem deve ser delas, outras dizem que é uma dor que se esquece para se desculparem do facto de estarem outra vez grávidas, mas a maioria, que são as mulheres que têm a sorte do parto não lhes doer e as outras que tiveram filhos de cesariana ou com analgesia epidural, dizem que é uma dor que se esquece, porque não foi uma dor assim tão intensa, insuportável que chegasse para cunhar um lugar cativo na memória.
Eu tive um filho de parto "normal". Chama-se assim: "normal" para não se chamar parto eutócico (vocábulo difícil) ou parto vaginal (vocábulo aborrecido porque é um bocado embaraçoso). Tive um filho sem analgesia, nem uma aspirina, digo isto sem nenhuma glória, não fui eu que quis assim, eu pedi a epidural mas ninguém me ligou nenhuma, em relação à dor *#$%!!"! posso dar um exemplo, o meu filho nasceu com 3 quilos, 49 cm de comprimento e 34 de perimetro cefálico, mas eu senti que estava a expulsar uma bola do tamanho de um planeta (de voley, vá) a sangue frio, e às tantas ainda me deram uma tesourada (vão ver a tesourada no vídeo, foi tal & qual) que eu também senti (é que depois ainda há quem diga que a dor do parto anestesia tudo e que aquilo não chega a doer, que é uma coisa que só pode ter sido inventada por alguém que nunca expulsou um planeta por baixo e pelo meio ainda levou uma tesourada) e no fim, está o filho cá fora, a sensação de alívio, a sensação se estar partida ao meio, nunca mais conseguir parar de tremer, chorar e sangrar, mas sentir um alívio enorme e... mais contracções? Não, não vai nascer outro, é a placenta que é outro parto! Mas este enfim, é uma coisa grande e gorda mas é mole, não tem cabeça nem ossos, se parir (parturir) um filho fosse como parir uma placenta então sim, eu diria que é uma dor que se esquece.
Que é a melhor experiência (mesmo quando não queremos voltar a repeti-la), a mais radical e intensa de todas, é. É a soma de tudo (sexo, vida, existência, norte, sentido...) e de todos os sentimentos (dor, amor, brutalidade, medo, intensidade, alivio...). É uma descarga de adrenalina para a corrente sanguínea assim, tipo overdose (o meu filho já tinha nascido à mais de duas horas e eu ainda não tinha conseguido parar de tremer). Dizem que a dor do parto se esquece, mas eu nunca esqueci. Apenas já não me queixo, porque não posso levar a vida a queixar-me de uma coisa que já não sinto.
O vídeo a seguir (videosdahora.com.br), mostra a fase de expulsão num parto normal. Crianças não devem visionar o filme sem estarem acompanhadas de um adulto que vá comentando e possa explicar o que é um parto normal). Homens podem assistir com almofadas à volta (já não é o 1º que cai para o lado).
É um filme que pode doer.
14.5.09
O Quebra-nozes
Um dia destes o meu filho trouxe para casa um papelinho com um trabalho de casa atribuído pelo Prof. Mário João de música:
" Pesquisar Tchaikovsky (rosto, instrumento que tocava...)
Estamos a ensaiar a música do Quebra-nozes..."
Deu-me vontade de rir, aos 4 anos um trabalho de pesquisa sobre o Tchaikovsky... Na verdade achei o trabalho de casa, a escolha do compositor e da música, escolhas perfeitas para crianças tão pequenas (e há a Barbie e o Quebra-nozes que meninos e meninas adoram!) e um acto de grande sensibilidade por parte do professor.
(1840-1893)
Três dessas músicas deram origem a bailados muito famosos: “A Bela Adormecida”, “O Lago dos cisnes” e o mais bonito dos bailados de Tchaikovsky: “O Quebra-nozes” que estamos a ensaiar na nossa escolinha com o Professor de música, Mário João.
É uma história passada na noite de natal. A menina Clara adormece junto à árvore iluminada, ao lado de um boneco que recebeu de presente – o Quebra-nozes, que se parece com um principezinho, e no sonho da Clara o Quebra-nozes ganha vida por amor, e destemido, enfrenta o tenebroso Rei dos Ratos, um exército de ratazanas e soldadinhos de chumbo!
(Eu e mamã dançamos cá em casa, a mamã põe a tocar a marcha do Quebra- nozes e faz de ratazana e eu faço de soldadinho de chumbo).
Ao pesquisar coisas sobre a vida e obra de Tchaikovsky, descobrimos que ele é Russo duas vezes, porque é de origem Russa (um país da Ásia e da Europa), e porque é loiro. A minha mãe diz que na Rússia quase não há pessoas morenas, as pessoas são quase todas loiras e de pele muito clara com olhos azuis ou verdes, porque a Rússia é um país frio, não tem muito sol e as pessoas não conseguem ficar queimadas e escuras.
Ele nasceu a 7 de Maio de 1840 e hoje é 7 de Maio de 2009, estou a fazer este trabalho com a mãe, 169 anos depois de ele ter nascido (tanto tempo! Que engraçado).
O 1º contacto que Tchaikovsky teve com a música foi com um órgão que havia na casa dele e que ele aprendeu a tocar com a ajuda da mãe, tinha 5 anos, eu tenho quase 4 e o meu instrumento preferido é a guitarra (e já sei dizer muitos dos instrumentos que o Prof. Mário João me ensinou, como por exemplo: maraca, trombone, trompeta, baquetas, piano, flauta, … e aquele que é assim para o lado… ai, não me lembro agora como se chama…).
A família queria que ele fosse advogado e por isso estudou direito em São Petersburgo (diz no Google que ele tinha muito boas notas na escola e ainda não tinha acabado o curso já era empregado no ministério da justiça lá na cidade de São Petersburgo), mas o sonho de Tchaikovsky era dedicar-se à música e matriculou-se então no Conservatório. Passados 3 anos já estava a dar aulas de teoria musical e composição.
Descobrimos também que a música “O Quebra Nozes” nasceu de um conto que se chama “O Quebra-nozes e o Rei dos Ratos”, acham o nome do conto esquisito? Então vejam como se chamava o escritor que escreveu a história: Ernesto Teodoro Amadeus Hoffmann! (foi um escritor Alemão por isso tem este nome tão esquisito). Mas foi a versão em língua francesa de Alexandre Dumas (célebre escritor Francês) que inspirou o Tchaikovsky para fazer esta música tão bela e mágica.
Ah! Não me posso esquecer de agradecer ao Prof. Mário João por se ter lembrado de nos dar este trabalho de pesquisa, foi muito divertido e com a Música aprendemos imensas coisas!
Bom trabalho para os meus colegas e para todos.
miguel
9.5.09
Não maltratem os artistas de circo. Os artistas de circo também são animais
ferem o coração de quem não consegue deixar de gostar de circo com animais. Ferem mais, muito mais que aquelas mensagens dos maços de tabaco: "fumar mata" ou aquelas imagens de doentes de cancro do pulmão em fase terminal que já faltou mais para serem impressas nos maços todos de cigarros também, e as organizações de defesa dos animais sabem disso. Imagens como estas imploram para que não olhemos para os animais como palhaços, "Os animais não são palhaços". Assistir a um urso a bater palmas, a um macaco fantasiado de bailarina a andar de bicicleta, ou um elefante a dar piruetas é um espectáculo deprimente e eu nunca disse que não é, é sobretudo indigno para o animal e para o domador também, e é pior que isso. Ridicularizar um animal, achar graça a isso, torna-nos (artistas de circo e espectadores) medievais, mas uma coisa é combater a violência contra os animais, é ser contra a exibição de atuações pouco dignificantes que expoem animais ao ridículo, outra é ser contra o circo com animais porque estamos a partir do princípio que é impossível animais de circo serem bem tratados, viverem com os artistas de circo e viajarem com os artistas de circo como uma família e a família do circo é um conceito fascinante (e talvez único no mundo) de família (e talvez único por ter animais).
Os fundamentalistas desta causa (que o circo com animais é o pior espetáculo do mundo) já se têm infiltrado em companhias de circo para recolher filmes e fotos de maus tratos, violência e escravatura de animais e nunca se deixam apaixonar pela vida do circo, pelos nómadas com animais selvagens pelo mundo a fora. Nunca esses filmes e fotos de maus tratos serviram para ajudar a dignificar o circo, para melhorar as condições muita vezes miseráveis em que os artistas de circo vivem e produzem os seus espetáculos, nem as condições, muitas vezes miseráveis em que se encontram os animais dessas companhias. O circo com animais é uma manifestação de cultura, tal como o teatro, a música ou o cinema. O circo com animais mostra às crianças, algumas pela primeira vez, a outras e sobretudo na província, vez única, animais como leões, zebras, elefantes... Toda a gente sabe que as crianças despertam por meio de fábulas e todos nos deixamos encantar por fábulas), estar em contacto com os animais, tocar-lhes, conhecê-los, distingui-los, observar os animais, contribui para o bom sentido da afectividade da criança e transmite-lhe os mais diversos sentimentos como a alegria, o espanto, a frustração, o riso (às vezes o choro e também importa) e o respeito. E por falar em respeito, os artistas que escolheram esta forma de cultura e entertenimento como forma de vida também e de subsistência, devem ser respeitados. As organizações de defesa dos animais e os órgãos de fiscalização são mais que precisos (são uma fonte de segurança para quem assiste ao espetáculo de circo, ter a certeza que os animais não são escravizados, vitimas de maus tratos, fome, doenças, etc) mas já era altura também de haver respeito pela actividade circense.
E não me venham dizer que os artistas de circo não amam os animais, porque não é por dinheiro que eles são artistas de circo com animais. Os artistas de circo com animais nem têm uma vida boa, nem fácil, é uma vida de sacrifício, não recebem subsídios, sobrevivem às próprias custas. O circo com animais é uma actividade cultural popular, pobre, eu diria, não é o "Cirque du soleil", que custa entre 50 a 90 Euros cada entrada e não tem que suportar despesas incalculáveis com a alimentação, transporte, higiene e saúde de animais como tigres, leões, elefantes... Mas só a corrente do "Novo Circo" é bem vista por todos:
"Na corrente do “Novo Circo” – que tem como opção artística ter apenas a
participação de artistas humanos –, circos como o “Cirque du Soleil”, o “Cirque Plume” e outras grandes companhias de novo circo maravilham o público em todo o mundo, com os seus
trapezistas, malabaristas, actores, palhaços, contorcionistas e outros artistas, que escolheram
fazer parte de um espectáculo admirável onde os animais não devem estar e onde
só podem estar se forem violentamente forçados a isso."
O Circo com animais não.
E eu nem percebo como é que o circo com animais tem sobrevivido a tantos maus tratos por parte de fundamentalistas e organizações já para não falar na vida de sacrifício.
Sempre que vou ao circo observo atentamente a relação animal/ tratador, sempre que vou na rua observo atentamente a relação animal/ dono e no exercício da primeira, que é a que vem ao caso, são muitas as vezes que fico en-can-ta-da. Porque é que só mostram fotografias e vídeos com animais vitimizados pelos tratadores e nunca mostram imagens de gratidão, de satisfação que muitas vezes estes animais demonstram pelos tratadores que os acarinham, alimentam e brincam com eles. Mesmo os leões, os tigres, as zebras e os elefantes gostam de brincar.
No site da animal.org.pt pode ler-se:
"10. Não visite exibições nem espectáculos que envolvam crueldade contra
animais, como touradas, circos com animais, zoos, "quintas pedagógicas", aquários, delfinários e rodeios."
Tirando as touradas, rodeos (e já falei disso) e os aquários (de aquários ainda não falei não vou falar e temo não ter ponta por onde se lhe pegue, também não podemos olhar para peixinhos num aquário?) não me venham dizer que os animais nos zoos e quintas pedagógicas não são bem tratados! Felizmente hoje em dia os zoo e parques estão transformados em habitats semelhantes aos naturais, os animais têm cuidados de saúde prestados por veterinários, a alimentação e o trato está a cargo de nutricionistas e biólogos, estão protegidos (ao contrário do que aconteceria nos seus habitats naturais), dos caçadores e do ciclo da cadeia alimentar, procriam em segurança e com acompanhamento, algumas espécies têm assim assegurada a sua continuação... Quem pode dizer que os golfinhos e as focas no delfinário são mal tratados ou ridicularizados? Quando aquilo a que assistimos são golfinhos e focas em brincadeiras com os tratadores, seja com arcos ou bolas ou com o corpo humano e essa relação é absolutamente fascinante e é fascinante tudo o que ela nos transmite?
Uma das actuações que mais me maravilha desde criança, no circo, é o domador de leões (sempre quis ser uma domadora de leões), aquela parte onde o domador consegue com estalos de chicote apenas (apenas o som) fazer com que as feras saltem por dentro de esferas de fogo, mas da parte que eu gosto mais é quando a fera às vezes, no fim, se aproxima do tratador com uma expressão brincalhona e finge que lhe vai dar uma dentada, são pormenores que parece que mais ninguém repara a não ser eu, nesta pequena garatuja, nesta brincadeira quase infantil entre o homem e um animal (que não deixou de ser) selvagem.
Eu não consigo deixar de gostar de circo com animais, eu não consigo. Eu adoro o domador de leões (eu dava tudo para ser uma), eu deixo-me emocionar pela relação tratador/ animal, eu deixo-me contagiar pela alegria, o espanto, o riso o respeito e todos os sentimentos que os animais nos transmitem, e todas as emoções! O circo com animais tem magia e pode fazer sentido.
Eu já fiz um post sobre o circo, porque tenho alturas que fico num impasse... Eu também tenho cá "os meus dias" e os meus dilemas, o post é este, mas, de-fi-ni-ti-va-men-te sou da opinião que devem haver circos com animais e circos sem animais. E sou da opinião que já chega de maltratarem os artistas do circo com animais! Eles não sobrevivem à custa de subsídios, eles não têm ajuda das instituições, eles não podem contar com o apoio das organizações porque pelas organizações de defesa dos animais o circo com animais pura e simplesmente já tinha sido extinto, e cobram preços pelos bilhetes manifestamente insuficientes para as necessidades que têm, por isso, não os maltratem, é muito, mas muito provável que eles não mereçam, e os artistas de circo, afinal de contas, também são animais.