oreinabarriga

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18.12.10

Caiu o 1º dente!

Na verdade não caiu, foi puxado por uma linha. E com grande habilidade.
(as coisas que eu sou capaz de fazer como mãe, deixam-me impressionada :))
À dias pensava eu

(a propósito do Miguel ter dois dentinhos a abanar)

que a educadora Julieta é muito boa a tirar dentes de leite, de modo que quando os do Miguel quisessem cair eu entregava o meu filho à Julieta de manhãzinha, como de costume e "tens aqui dois dentinhos de micróbio para arrancar que eu cá essa história da linha..." e arrumava o assunto, mas afinal, lá passei mais um teste com distinção e, modéstia à parte, estava muito bem feito o laço, e o dentinho, saiu à primeira!



O meu filho pendurou-se no meu pescoço feliz e agradecido!

(eu feliz e agradecida de ter conseguido arrancar um dente de leite porque ser mãe é isto mesmo: andar sempre parva)

Logo, logo fomos colocar o dentinho numa caixinha.
Agora o meu filho está a dormir, vem aí a fada dos dentes para buscar o dentinho e amanhã quando ele acordar, na caixinha, no lugar do dentinho vai estar um presente.

(um carrinho da Disney?)

A Representação da Menina Gorda

Todas as crianças ouviram "A menina gorda" muito atentas com risinhos...

... e foram adoráveis! Ao longo da manhã passavam por mim e reproduziam: "... a menina gooooooooooooooooooorda, goooooooooooooooooooooorda, gooooooo..." fazendo caretas e enchendo as bochechas.
 "- Olha! É a mãe do Miguel! É a menina gooooorda goooooorda!"
 
A Menina Gorda a abraçar o filho, no final...

Eu, sou a única pessoa que conheço, que emagreceu 50 quilos depois de dizer um poema :)

7.12.10

Festa de Natal na escolinha do Miguel



Todos os pais foram convidados a fazer uma pequenina representação: recitar um poema, fazer uma palhaçada, dar uma pirueta, tocar um instrumento, sei lá! na festinha da escola do Miguel.
Cativar uma criança é das coisas mais difíceis que conheço (cativar 20 é obra), fazer com que ela pare, escute e olhe e pelo menos no dia a seguir se lembre de nós numa figura. Como eu não sei dar piruetas, não me atrevo a cantar, não toco nada (já nem o "Pour Elise" de Beethoven ao piano nem nada e também não vai haver piano na sala) há bocado tive uma ideia: vestir-me com uma roupa XXL e encher(me) de almofadas, fazer umas grandes tranças com lã para por no cabelo presas com ganchos e recitar a "Menina Gorda" de um poeta brasileiro que nunca me lembro o nome, só me lembro da voz do João Villaret a dizer "Como esta minina istá gorreda! Búnita! (será Rui Ribeiro Couto? ou José Alencar?) eu só me lembro da voz cheia (cheia de cheia, cheia de fulgor), inconfundível, inesquecível, do João Villaret, de ouvir isto em criança vezes sem conta porque cativar uma criança é das coisas mais difíceis que eu conheço e o João Villaret tinha uma voz tão cheia que eu criança parava. E ficava encantada a escutar.


A MENINA GORDA

Esta menina gorda, gorda, gorda,

Tem um pequenino coração sentimental.

Seu rosto é redondo, redondo, redondo;

Toda ela é redonda, redonda, redonda,

E os olhinhos estão lá no fundo a brilhar.

É menina e moça. Terá quinze anos?

Umas velhas amigas de sua mamãe

Dizem sempre que a encontram, num êxtase longo:

“Como esta menina está gorda, bonita!”

“Como esta menina está gorda, bonita!”

E ela ri de prazer. Seu rosto redondo

Esconde os olhinhos no fundo, a brilhar.



Às vezes no quarto,

Diante do espelho;

Ao ver-se tão gorda, tão gorda, tão gorda,

Ela pensa nas velhas amigas de sua mamãe

E também num rapaz

Que a olha sorrindo,

Quando toda manhã ela vai para a escola:

“– Ele gosta de mim… Ele gosta de mim.

Eu sou gorda, bonita…”

E os dedos gordinhos pegando nas tranças

Têm carícias ingénuas

Diante do espelho.



Rui Ribeiro Couto




O poema é tão lindo (é tão aparentemente simples e no entanto há cambiantes por todo o lado), que se as crianças fugirem todas da sala pela janela e os pais das crianças forem todos para baixo de uma mesa a culpa não é do poema, nem do poeta, é minha, toda minha. Isto foi só uma ideia
 
(escondo os olhinhos no fundo, a brilhar)
 
A mãe vai tentar... 

Para ti filho, um poema de Joseph Kipling

"Se podes conservar o teu bom senso e a calma

No mundo a delirar para quem o louco és tu…

Se podes crer em ti com toda a força de alma

Quando ninguém te crê…Se vais faminto e nu,



Trilhando sem revolta um rumo solitário…

Se à torva intolerância, à negra incompreensão,

Tu podes responder subindo o teu calvário

Com lágrimas de amor e bênçãos de perdão…



Se podes dizer bem de quem te calunia…

Se dás ternura em troca aos que te dão rancor

(Mas sem a afectação de um santo que oficia

Nem pretensões de sábio a dar lições de amor)…



Se podes esperar sem fatigar a esperança…

Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho…

Fazer do pensamento um arco de aliança,

Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho…



Se podes encarar com indiferença igual

O triunfo e a derrota, eternos impostores…

Se podes ver o bem oculto em todo o mal

E resignar sorrindo o amor dos teus amores…



Se podes resistir à raiva e à vergonha

De ver envenenar as frases que disseste

E que um velhaco emprega eivadas de peçonha

Com falsas intenções que tu jamais lhes deste…



Se podes ver por terra as obras que fizeste,

Vaiadas por malsins, desorientando o povo,

E sem dizeres palavra, e sem um termo agreste,

Voltares ao princípio a construir de novo…



Se puderes obrigar o coração e os músculos

A renovar um esforço há muito vacilante,

Quando no teu corpo, já afogado em crepúsculos,

Só exista a vontade a comandar avante…



Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre…

Se vivendo entre os reis, conservas a humildade…

Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre

São iguais para ti à luz da eternidade…



Se quem conta contigo encontra mais que a conta…

Se podes empregar os sessenta segundos

Do minuto que passa em obra de tal monta

Que o minuto se espraie em séculos fecundos…



Então, ah ser sublime, o mundo inteiro é teu!

Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!…

Mas, ainda para além, um novo sol rompeu,

Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.



Pairando numa esfera acima deste plano,

Sem receares jamais que os erros te retomem,

Quando já nada houver em ti que seja humano,

Alegra-te, meu filho, então serás um homem!…"


"Se" de Joseph Rudyard Kipling
(poeta Britânico, prémio nobel da literatura em 1907)



Quando souberes ler (e escrever), faz uma cábula e guarda-o num bolso, podes não saber o caminho a determinada altura, o rumo a tomar, o sentido ou a resposta, e cada verso deste poema é uma saída.

(e porque devemos trazer sempre poesia nos bolsos, para quando nos formos render)