oreinabarriga

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19.1.06

Perdemos um amigo

Hoje perdemos um amigo.
O amigo que descia a escada a assobiar, o amigo que abria os braços e um grande sorriso quando nos via a chegar, o amigo que toda a gente conhecia porque a toda a gente falava, o amigo que estacionava o carro sempre ao lado direito do meu carro, todos os dias, o amigo que ainda este fim de semana veio trazer a última prendinha ao nosso filho e nem sempre os olhos são o espelho da alma, ou então apanhou-nos distraídos.
Fugiu de casa sem levar nada que o identifica-se, julgou ele. Dentro do bolso, um papelinho esquecido, havia de nos dar a notícia: O Sr. Fernando atirou-se à linha. O corpo está no Instituto de Medicina Legal. E avisaram a administração do condomínio.
O papelinho era o recibo do pagamento das quotas.
Quando me passará esta angustia? Afinal éramos só vizinhos.
Só?! Os vizinhos moram uns com os outros, partilham o mesmo prédio, a mesma rua, o mesmo código postal, a repartição das finanças, o carteiro, a padeira, o guarda nocturno, o estacionamento, o elevador, são os primeiros a ver a nossa cara logo de manhã e nos avisam que temos uma pintinha de rimel no nariz, umas olheiras de quem dormiu mal, uma mola da roupa agarrada ao casaco (como já me aconteceu, uma mola velha ainda por cima). É com os vizinhos que discutimos as fissuras lá de casa, as humidades, os pêlos do cão, o IVA, as eleições e o campeonato de futebol. É aos vizinhos que perguntamos pelos outros vizinhos.
Eu e o Sr. Fernando éramos só vizinhos.
Eu gostava tanto dele... Acho que foi um valente acto de coragem! O Sr. Fernando foi muito corajoso. Estou orgulhosa. Angustiada mas orgulhosa. Acabou com tudo em três tempos. Os que cá ficarem que pensem agora no que deviam ter feito e não fizeram, na mãozinha que não lhe estenderam (foi parar ao bolso das calças, a mãozinha, ou recolheu-se simplesmente, é o costume).
Os que cá ficarem que chorem, pois um homem não chora, acarta com o coração despedaçado pela escada, e assobia...
Só não me deu tempo para um beijinho daqueles entre neta e avôzinho. Só não me deu tempo para lhe ler a alma e estender-lhe a mão. Bem sei que a minha mão já não chegava, só tardaria a chegada do comboio. Mas ter-lhe-ía dado a mão e arranjavamos ainda tempo para o tal beijinho.
O Sr. Fernando foi muito corajoso...

2.1.06

Mais dentinhos!

Hoje de manhã reparei que já romperam os dentes de cima ao Miguel.
Há uma semana que as gengivas estavam duras e um nadinha inchadas, mas o Miguel nem se queixou nem nada e hoje deu-me logo pela manhã o primeiro sorriso rasgado devidamente acompanhado de mais dois dentinhos!