oreinabarriga

este blogue está protegido pelos direitos de autor © todos os direitos reservados ao autor designado como carmina burana. a cópia não autorizada de conteúdos de propriedade intelectual e criativa protegidos pelos direitos de autor é ilícita e pode fazê-lo incorrer a si em processos civis e criminais ao abrigo da lei 16/2008 de 1 de abril.







este blogue tem Livro de Exclamações

29.2.08

Estou exausta

Reza o código deontológico que se deve rezar a morte. E que se deve chorá-la com exaustão. Ter presente que feliz ou infelizmente quem jaz já não volta e chorar em ambos os casos. O que jaz por baixo desta terra que apanho em punhados e deixo escorrer entre os dedos, nunca mais volta e as lágrimas saltam-me dos olhos cheios de água. As campas devem levar flores, reza a páginas tantas o dito código.
Não vim com flores, mas vim exausta. Percorri dezenas de corredores de epitáfios, ficaram não sei quanto tempo a alternar na minha memória um sem conta de rostos amarelos e castanho avermelhados. Os mortos não deviam levar campas, as campas não devias levar flores, as fotos não tinham que perder a cor original, estes cedros não deviam ser os muros, devia ser proibido chorar a morte. Quem te matou devia estar atrás do código de barras por ter feito do teu corpo crivo em braille.
Não vim com flores, mas vim exausta. Do tribunal aqui foram duas horas e meia de código de estrada. Sobrevivemos a engarrafamentos e acidentes, sobrevivemos à solidão, à infidelidade, à procura de uma farmácia, a haver dias antes e depois das noites, às cuspidelas, aos centenários, às alcunhas, ao fim das coisas. Sobrevivemos codificados. Uns são codificados de trabalhadores outros de drogados, ou infectados, tontos, com a etiqueta do vestido para dentro ou para fora conforme a marca. Não convém apaixonarmo-nos pelas árvores, ou pela rua, ou pelo candeeiro antigo da rua, ou pelas pedras da calçada, convém que seja por um preferencial código genético sexualmente oposto. Sempre é mais fácil excluir que decifrar um determinado código. Vou ligar para o SOS prevenção do suicídio para perguntar se têm uma lista de voluntários para no dia tal, às tantas horas, na capela da nossa Freguesia se possam apresentar e chorar-me. O medo que tenho de morrer, é por ainda não ter acumulado a cifra conveniente de pessoas que me chorem.
Vim sem flores mas com umas poucas coisas que de certo já não te vão emocionar, mas o que é a gente morrer? Se ainda não foi esse código devidamente decifrado? Pelo sim pelo não, trouxe um caderno e um lápis mal afiado, como gostas, gostavas, nunca resistiremos à vontade de escrever pois não?
Trouxe poesia da melhor espécie e algumas gravações do João Villaret, espero que já tenhas tido o privilégio de o cumprimentar aí no fim da terra e que antes, tenhas sacudido bem as mãos. Não trouxe cigarros nem as tuas ceroulas porque se bem me lembro dizias que quando morresses as deixavas de vestir e de fumar. Nunca soube se te agrada receber flores. De qualquer modo, vim sem flores. Mas vim exausta, da sessão do tribunal e do código penal, sabes quando anos de amnistia levou o gajo que deu cabo de ti? Mais do que os de condenação! É verdade.
Vi que tinha revirado toda a terra que apanhava em punhados e deixava escorrer entre os dedos. Parece que está morna... Saltam-me as lágrimas dos olhos cheios de água. Olhei de soslaio para o retrato do senhor defunto do lado. Depositei em cima da campa dele umas folhas do caderno. Talvez lhe apeteça mandar uma carta, escrever poesia, refazer o testamento (está com ar disso na foto amarela. Amarela? Sim, Castanha avermelhada), escrever ele mesmo o seu próprio epitáfio: "Hipocondríaco, pois. E agora? Já acreditam?"
Talvez deva ir às flores. Todas as campas devem levar flores.
Todas as mortes se devem chorar pois não podemos enganar-nos no código. Nem sempre temos três tentativas até acertar, ou não fosses tu ter entrado naquele dia, com a password errada.
Maria João Viana In DN Jovem Tema Códigos 2 de Julho de 2002

Vem-me buscar


Quando digo Vem me buscar, não quero dizer que seja já, assim de repente. Também não quero dizer Vem me buscar e depois nunca mais falar nisso. Não pus este título só para vos obrigar a ler tudo até ao fim, à espera do acontecimento anunciado, que na maioria dos casos, não chega a acontecer. Leiam sossegados, que nesta história alguém me há-de vir buscar. Dar títulos estratégicos aos livros é muito feio. A mim já me aconteceu comprar um livro que se chamava Atlas Geográfico, daqueles livros que têm o cognome de calhamaço, pois não é que li o livro todo, li aquilo tudo até ao fim e ainda hoje estou para saber onde fica o Brismane? O que me vale, (e não me admira nada que o Memorial do Convento seja um livro do António Lobo Antunes e Os Cus de Judas seja de algum anónimo) o que me vai valendo é que um dia destes estou eu descansada a ler um romance da Agustina Bessa Luís e descubro finalmente onde fica o Brismane.
Isto leva-me a crer serem lapsos das editoras, lapsos iguais aqueles cometidos pelos empregados do hipermercado onde eu com infinita misericórdia me abasteço apesar de trocarem as etiquetas com o código do produto e já por uma data de vezes pago um exagero por uma lata de salsichas a vir discriminada como lata de leite em pó para recém nascidos. Ou então, são os autores que se esquecem de tomar os comprimidos para a memória e sabem lá que nome é que vão agora por àquilo, mas que maçada, tenho mesmo que dar-lhe um título? Lembro-me lá agora da história. Isto não pode ir assim? Era só o que me faltava.
O título mais coerente que encontrei nos últimos tempos foi “Sei Lá”. Logo pensei: Ora aqui está um título que faz sentido. Também não li o livro, não fosse com isso arruinar aquele momento. Não fosse a autora às páginas tantas escrever para lá, que afinal até sabia.
Noutro dia estava eu no hipermercado a ler um livro ao
calhas enquanto esperava pela minha amiga Luísa, que é jornalista, num jornal também ele perito em trocar o nome às reportagens, uma por exemplo anunciava a separação dolorosa do Riki e da Bibi, eu que gostava tanto de os ver juntos nas festas, faziam um par tão amoroso e dizia na manchete que agora estava cada um para seu lado. Quando abri o jornal ao meio afinal a história era outra, o Riki não se tinha nada divorciado da Bibi, era mas era irmão gémeo siamês dela e tinham sido separados à nascença. Isto já não se trata de ser um lapso, é mas é uma grande malandrice. O livro que me pus a ler à espera da Luísa era a história de um pastor da Beira alta que um belo dia é atropelado por uma trotinete. Felizmente acudiu-lhe uma ovelha que apesar de coxa porque tinha fugido doutro livro do mesmo autor e teve que atravessar o corredor dos enchidos até chegar à prateleira consegue salvar o pastor e levá-lo na trotinete para o hospital Amadora Sintra onde deu entrada apenas com um pequeno ferimento na testa. Entretanto chega a Luísa, que me pergunta: Que estás tu a ler?
- Eu?
Ora eu, para não ter que enfastiá-la contando-lhe a história toda, fui à lombada do livro para arrumar com o assunto, para saber que raio de nome tinha o autor dado aquela historieta. Nada mais nada menos que “O paradeiro do detective”. Mais curioso ainda é que na capa havia uma gravura que não ilustrava nem as ovelhinhas a pastar num campo verdejante, nem o pastor a passar pelas brasas enquanto a trotinete lhe passava por cima, nem sequer o detective, mas sim, uma cegonha, empoleirada no pára raios duma moradia, com uma pata só. Tive que improvisar:
- Trata-se da história de um detective, que foi electrocutado por uma cegonha e salvo por um por um pára-raios que ia a passar de trotinete.
Respondi-lhe com a mesma segurança com que me lembro dos vencedores dos globos de ouro. Agora, antes de sacar um livro da prateleira do hipermercado e por via das dúvidas, dou uma olhadela por trás do ombro e espreito atrás da estante dos CD’ s e dos DVD’ s não vá o autor estar por ali agachado, escondido, a rir-se, à espera de me enganar outra vez. Ó enganas. Se ele lá estiver, vou direitinho à secção dos livros traduzidos. Sempre são mais fiáveis e é pouco provável que o autor lá esteja. A maior parte daqueles títulos não têm tradução que os valha para a língua portuguesa. Não nos sentimos tão defraudados. Até compreendemos.
Agora estou para aqui à espera que se faça justiça ao título desta minha história. Estou pronta. Não ando cá para enganar ninguém. Estou pronta à que tempos. À mais de vinte minutos que estou à espera que me venhas buscar. Fiz as compras que tinha a fazer, já dei um toque para o telemóvel como combinado. Trouxe as salsichas, devidamente classificadas como outra coisa qualquer, e um livro, “As páginas brancas”, na esperança do autor, que é um bom autor, ter escrito alguma coisa nelas. Já fumei um cigarrinho… Bem sei que podia ir de táxi, não é pelo dinheiro, é porque tenho a certeza que combinámos aqui de me vires buscar. Ou teria sido do outro lado?
- Olhe, desculpe, é capaz de me informar se este hipermercado tem outra entrada? Não tem pois não? Obrigada.
Se bem que eu tinha a certeza que estava no lugar exacto. E de ter combinado às sete da tarde, precisamente. Dia dezoito de Fevereiro, às sete da... Dezoito? Hoje é dia dezoito?!
- Desculpe, é capaz de me dizer a quantos estamos hoje? Dezanove?! Tem a certeza? Tem?
É pá, então, nesse caso, desculpem lá mas tenho mesmo que ir de táxi, vamos ter que alterar o título para “Vou de táxi”. Pode ser? “Vou de táxi” também não fica mal pois não? Não se importam? Desculpem lá a maçada, ter lido isto tudo até ao fim, eu bem sei aquilo que custa, mas acreditem, não foi por mal, moro para lá da Rinchoa, a estação dos comboios ainda fica a uns dois quilómetros, estou para aqui cheia de sacos, carregadíssima e se lhe for telefonar para o telemóvel, ainda têm que esperar três quartos de hora que ele atravesse o IC 19 e ainda é capaz de chegar aqui e começar a discutir, és sempre a mesma coisa, nunca se pode combinar nada contigo, ainda ontem aí estive até às tantas e não apareces-te, estão a ver?
Desculpem lá. É que eu estava capaz de jurar que hoje era dia dezoito.

Imorredouro


Porque escrevo? Quando nem sequer acredito que alguém me vá ler. Porque escrevo? Talvez seja um mero egoísmo.
Quero que outros me interpretem bem, mesmo que por outras
palavras. Definitivamente o que eu quero é escrever. E acho lamentável haver dias antes e depois das noites e não poder levar a vida toda a escrever. Definitivamente o que eu quero é dizer e tornar única a sensação do meu monólogo. Não quero que se desfaçam de mim, vendendo-me outra vez, na Feira da Ladra, também não quero que me entalem entre os outros, alinhados na mesma prateleira, não sei se mereço. Uma coisa ou outra. Há quem leia livros como quem lê uma notícia, com a mesma ideia de que tudo é efémero. Outros lêem de passagem, enviesado, às avessas, às pressas. Outros fingem que lêem. Outros não. Fazem notas a lápis, dobram as folhas nos cantos, há até os que sublinham com caneta fluorescente uma ou outra frase, ou colam um post’ it na página onde certamente nunca mais voltarão. A minha avó guardava folhas de prata de bombons entre os livros, e nunca encontrei nada de destaque nas páginas marcadas. Só mais tarde soube que o fazia apenas para espalmar a prata dos chocolates. Só isso e mais nada. Há livros que se guardam na estante e na memória. Há livros que só existem na nossa memória. Não mais os voltaremos a ler para não estragar esse acontecido. Há livros que são doutra nossa época, traze-los à luz do dia que estamos a viver agora era como reavivar um nosso antepassado e dar-lhe um bilhete de metro para ele ir à Baixa ver como aquilo está por lá. Há filmes a serem melhores do que os livros, mas nisso eu não acredito. Mas isso tudo que importa? Há um momento para quem lê e para quem escreve, que os une pela mesma vontade de se manterem vivos, de se prolongarem para além do espaço que lhes coube. Viajar. Há um momento em que se procura dentro nós aquilo que se possa escrever e o momento em não escutando nada, a boca entreaberta, engole as nossas palavras. Quem nos lê engole as nossas palavras, tem que ser. Gostava que ficassem umas poucas guardadas para sempre, encostadas umas às outras como os livros na prateleira, alinhadas entre as vossas memórias.
Mas não acredito que me vão ler.
Se bem que escrevo porque tenho mesmo que escrever. Se não escrevo, passo mal. Posso adoecer. Escrever desembaraça-me nós que trago na garganta. Mesmo que ninguém me leia, mesmo que ninguém me engula, me beba, me absorva, eu escrevo na mesma e logo me sinto melhor da garganta. Preciso de liberdade. Não outra liberdade que esta de saber que existe um espaço infinito, todo em branco, num ecrã, ou numa folha do caderno, onde me posso transpor. Gosto de escrever ao entardecer e prolongar-me pela noite, sonhar antes de adormecer.
Perante a certeza de sermos todos mortais, perante a certeza de sermos os únicos a escrever, a falar, a equilibrar-se sobre as patas, temos que ser algo mais, queremos fortemente, ser algo mais para além de mortais. Houve quem o conseguisse. Na literatura, na música, na representação, noutras artes. Houve quem por obras valorosas, se foi da lei da morte libertando...

Desassossego


Eu que não volto a ler um livro que gostei. Eu que não volto a lê-lo porque dele guardei as melhores memórias e não se deve remexer nas memórias (nem nos ex namorados nem nada)para que permaneçam no mínimo limpas. A segunda vez não é como a primeira. Não podemos esperar dela que produza o mesmo efeito, que dilate o mesmo encanto. A última vez que me pus a ler um livro que no passado tinha gostado imenso, acabei a achar o livro particularmente estúpido e a pensar por que raio gostei eu de ter lido aquilo e ter guardado tão fantasiosas memórias e claro, o resultado foi que o autor era um bom autor, o livro era um bom livro, a boa lembrança era uma boa lembrança e foi-se tudo por água a baixo, as personagens ficaram as últimas sobre as primeiras, tomaram-lhes o lugar, enfim, não foi bonito. Aconteceu-me depois com o Casablanca, andei anos a dizer Ai é o meu filme preferido, adorei, emocionei-me, um dia passou na tv e resolvi vê-lo outra vez, sei dizer que para além de me dar vontade de rir (que é precisamente o contrário de dar vontade de chorar) ao segundo intervalo mudei de canal e nunca mais o Casablanca foi o filme da minha vida. Agora é o Zorba. E será o Zorba porque é coisa que eu jamais voltarei a repetir.
Não volto a ver um filme ou uma peça que me impressionou ó voltas. Não é a mesma coisa, repetir não é a mesma coisa, a fome já não é a mesma inevitavelmente, ou já não é surpresa e tantas vezes destrói essa boa lembrança. Aquela que nunca devia ter sido remexida, é que de certa forma acontece uma sobreposição, já para não acontecer coisa pior.
Eu que não volto a ler o mesmo livro, que não volto a ver o mesmo filme, que não volto a segunda vez para assistir à mesma peça, estou prestes a fazê-lo. Há imensas forças que me fazem um apelo. A força do Teatro, das peças boas, dos bons actores, dos autores Portugueses. A Comuna repôs O Desassossego. Para meu desassossego. Justamente. Sou capaz de passar horas infinitas a ouvir o Carlos Paulo, a recitar, a falar, a representar, apetece-me sempre repetir. Passaram-se sete anos da primeira vez. Sete anos é um 'ror de tempo. E se as imagens ficam sobrepostas? E o deslumbramento se perca? A a voz não se entranhe e o Desassossego não me parta nos mil bocados que tive de juntar para voltar a ser eu? E se a lembrança ficar velha, velha não, antiquada?
Lembro-me da personagem a Criança a chamar pela mãe, perdidamente. Da cama. Do quarto solitário ou apenas um quarto da alma. Uma criança que perdeu os pais, tremendamente perturbada.
A peça começa com o desalento de um guarda-livros, um escriturário, (evocação de Pessoa num fiel registo auto biográfico) a mim trouxe-me à lembrança o poema de Ramos Rosa, o funcionário cansado, que tanto gosto. O espelho, um homem que vestia metade homem-metade-mulher e reflectia (os espelhos reflectem) sobre as relações humanas. O mendigo, o palestrante. O palestrante tem uma banca e convence as mulheres a serem fiéis com o corpo mas infiéis com o pensamento e eu que estava sentada mesmo na primeira fila, a mim o palestrante convenceu-me de imediato.
Depois de ver esta peça percebi porque é que nunca gostei do silêncio, das coisas quietas. As coisas quietas metem medo. São a ausência de vida ou de recordações. A paz que sempre queremos alcançar ou que julgamos sentir, não é mais do que desassossego.
Saí sem voz, com um embaraço na garganta. Com os olhos a transpirar como o corpo transpira de nervoso, de estafa. Feita em mil bocados, aqueles que depois tive que ordenar e juntar para funcionarem as pernas e os braços, assim como estes mecanismos todos cá dentro, de relógio suíço, só quando isto se desmonta tudo é que se dá o devido valor ao trabalho de por tudo outra vez no sítio e no fim ficar tudo a funcionar como dantes.
Decepcionada não fico. Está lá um grande actor em cima de um grande palco e o Fernando Pessoa também lá está, que os homens grandes nunca acabam (citação de Almada Negreiros).

mas que imagens se sobreporão ao primeiro desassossego? Se eu for mesmo capaz de quebrar o preceito?







"Do Desassossego" Autor: Fernando Pessoa sob o heterónimo de Bernardo Soares Encenador: João Mota Interpretação: Carlos Paulo (em seis personagens) e Hugo Franco Comuna Teatro de Pesquisa Praça de Espanha De 1 de Janeiro a 8 de Março de 2008 De 4ª a Sábado às 21:30 - Domingo às 17h 10 Euros ou 5Euros (4as e 5as) Telefone: 21 722 17 70 http://www.comunateatropesquisa.pt/

A memória do meu rádio

107.4 tsf
100.4 antena 3
89.3 antena 2
87.9 antena 1

28.2.08

Como se fosse laranja

- Expreme a mãe filho, como se a mãe fosse uma laranja.
E o Miguel dá-me um abraço com toda a força que é capaz.
- Já estás expemida mãe? Já?

27.2.08

Publicidade

http://www.nilton.tv/

Site bem humurado este. Sugiro que se faça um intervalo. E visitem o site. Gosto particularmente da Janela Publicidades. Porque adoro Publicidade. Reclames como diz a minha mãe. É nos intervalos da programação que vejo tv, para ver se apanho anuncios como estes. É quando a maior parte dos tele-espectadores muda de canal, faz zapping, vai ao wc, ver os miúdos, mexer o tacho, ver se já chove, fazer um telefonema, que eu assisto à publicidade. Alguma dela são curtas metragens de bom cinema, de comédia, ou que obrigam a pensar, ou com imagens que valem mil palavras e claro, há as que não valem nada, que são produzidas por e para gente parva, muito limitada, que não é o caso, mas eu, nos intervalos dos programas, vejo a publicidade mais ou menos como janto um belo peixe, tiro-lhe as espinhas.

A Ninhada do Herman

A prol. Os seus filhos. Os sucessores. As heranças...
As Produções Fictícias.

http://pftv.sapo.pt/

Ele é Os Gato Fedorento, ele é o Herman, ele é o Contra Informação, ele é o Eixo do mal, o Programa da Maria Rueff (manel), há vida em Markl, há o Cinema Paraíso (com o António Feio, o José Pedro Gomes, a Carla Salgueiro, o Carlos Curto, o Marco Horácio, o Nuno Lopes e o Miguel Melo. Imperdível. Hoje estou de bom humor, pudera!

O que me faz rir pelo caminho

Denise e Maria Delfina Com Maria Rueff e Ana Bola

De Segunda a Sexta, 08h20m.
Repete às 12h10m e 18h20m.
Compacto semanal aos domingos, às 12h10m
Na TSF (http://www.tsf.pt/) Frequência de Rádio: 107.4 FM

e o

Tubo de Ensaio - Com Bruno Nogueira

De Segunda a Sexta, 09h20m.
Repete às 16h45m e 18h20m
No mesmo sítio

Para quem se vestem as mulheres?

O meu amigo David dizia que as mulheres "não se vestem para os homens, vestem-se para as outras mulheres. E quando as mulheres deixarem de fazer isso, ficarão muito, mas muito mais atraentes."
Eu encontrei assim, sábia resposta para o facto do J. A. ter reparado um dia numa mulher que passou na rua, de calças pretas apertadas, de cintura subida e sapatos de salto alto. Na altura, vi a mulher a passar e pensei: Aí está um modelito que eu nunca usaria. Nem morta! O J.A., pela expressão que não conseguirei jamais descrever mas não esquecerei, pensou de certo: Aí está uma mulher que se veste para os homens e está nas tintas para o que as mulheres pensam.

26.2.08

Aos meus amores


Era de madrugada, metemo-nos no carro, tu conduzes e atravessamos o pontão, uma língua sobre o mar, que eu achava que ía dar algures onde pudessemos parar e namorar e contemplar a maré. Nenhures. A língua foi dar a nenhures. O mais assustador é que ele sabia.
- E agora? Tu és louco ou quê? O que é que fazemos?
- Voltamos para trás?
- A nado??
- Não necessariamente. Podemos fazê-lo de marcha atrás.
- Tu já fizes-te isto?
- Nunca. Vai ser a primeira vez...
O L. ainda quis contemplar a maré.
- Está baixa, vá lá, deixa de estar assustada. Quando quisermos voltamos para trás. Está uma noite tão linda. Não está?
O L. tentou o beijo, todos os beijos, tentou a carícia, todas as carícias, mas a Cleópatra no sarcófago estava certamente mais molinha que eu.
360 metros de marcha atrás, devagar mas sem hesitações, como se tivesse sido a milésima vez e não a primeira vez. Eu apertava uma mão na outra e depois trocava, só pensava que não me tinha despedido de ninguém, nem mãe, nem pai, nem dos colegas da C.S.
- Tira o cinto.
Ainda hoje não sei se estava a brincar quando disse:
- Tira o cinto.
Se foi para me assustar ainda mais, se precavia que fossemos a qualquer altura, num deslize, findar no fundo do mar.
Com os pés em areia firme, amuei e fumei um cigarro, não disse uma palavra. O L. roçava os lábios dele em mim e a pontinha do nariz, por trás no remoinho a cima da primeira vértebra.
- Se não houvesse maneira de voltar atrás, ficavas lá comigo para sempre? - E apontou com o braço inteiro a terminar no dedo em riste, mais um nada e pareceu-me que tocava na pontinha da língua, até onde tínhamos chegado.
- Ficavas lá comigo para sempre? Ficavas?
Eu não disse uma palavra. A boca dele esteve sempre lá, mesmo durante a pergunta, a cima da primeira vértebra. Ao cabo da outra mão, que não apontava para lado nenhum, segurava também um cigarro, um cigarro que cheirava a tabaco e a eternity ao mesmo tempo... Eu não disse uma palavra, mas desde então, sabes bem. Sabes bem que nunca regressamos. Que não estás aqui e eu, eu nunca mais voltei. Sim, fico lá contigo, para sempre meu amor.

Queimar as estrelas

Quando a conversa acabava e parecia que mais nada havia para dizermos uma à outra, queimávamos estrelas com a ponta dos cigarros.

Prémios Carmina Burana

0
12 3
45 6
78 9
10 11 12
13 14 15

16 17
18 19 20

21 22
23 24 25

2627



... e são Eles, para a Categoria de...


Melhor voz do Fado: Mísia, Camané, Marisa e Ana Moura ex equo
Melhor voz da Canção: Pedro Barroso
Melhor voz de sempre: Carlos Paulo e João Villaret
ex equo
Melhor Actor: Mário Viegas
Melhor Humorista: Raul Solnado, Herman José, ex equo
Melhor actor Comédia: Ribeirinho, Vasco Santana, António Silva, ex equo
Melhor actor Drama: Mário Viegas, Carlos Paulo, Isabel de Castro ex equo
Melhor Arquitecto: Óscar Nyemaier (Brasil)
Melhor Fotografia: Sebastião Salgado (Brasil)
Melhor Jornalista: Paulo Portas
Melhor Corpinho: Paulo Pires, Joaquim
ex equo
Melhor Palminho de Cara: Paulo Pires, Joaquim ex equo (bis)
Categoria Teatro, A melhor Peça: D' O desassossego, Comuna Teatro de Pesquisa
Categoria Cinema, O Melhor Filme: Zorba, O grego
Categoria Crónica literária: António Lobo Antunes in Visão, Miguel Esteves Cardoso in K, ex equo
Melhor escritor: Luís de Camões
Melhor programa de Rádio: Parodiantes de Lisboa
Melhor livro: Can-Can, Colectânia
Melhor Compositor: Carl Orff, Chico Buarque, Carlos Tê, José Carlos Ary dos Santos, ex equo
Melhor Música de sempre: Ser Benfiquista, é ter na alma... brincadeira, eu a apresentar os Óscares também era capaz de ter piada ó julgam que não? Carmina Burana. O vencedor é Carmina Burana.




0Carlos Paulo 1Antony Quinn no filme Zorba 2Herman José 3Raul Solnado 4Pedro Barroso 5Camané 6Mísia 7Miguel Esteves Cardoso 8Do Desassossego, Comuna Teatro de Pesquisa 9António Lobo Antunes 10Chico Buarque de Holanda 11Paulo Pires 12Joaquim 13Rui Andrade (Parodiantes de Lisboa) 14António Silva 15Óscar Nyemaier 16Vasco Santana e Ribeirinho 17Mário Viegas 18Ana Moura 19Marisa 20João Villaret 21 Isabel de Castro 22 Luís Vaz de Camões 23 José Carlos Ary dos Santos 24 Carlos Tê 25 Sebastião Salgado 26paulo Portas 27Carl Orff

A carne - Diário da decomposição


Morrer. Passar-se. Morto e enterrado. Comer as alfaces pela raiz. Ir para o céu. Ir para os anjinhos. Sete palmos abaixo da terra. Marar . Bater as botas. Esticar o pernil. Dar o peido mestre. Falecer. Passar para o outro lado. Dar a alma ao criador. Deixar-nos. Apagar-se. Fenecer. Ir para o inferno . Bater às portas do paraíso. Ir para o maneta. Expirar. Dar o berro. Dar de comer às minhocas. Quinar . Finar. Esvaecer. Esmaecer . Perecer. Ir desta para melhor NA MORTE:
O seu coração parará, perderá o pulso e você deixará de respirar. Ficará pálido, todos os seus músculos se relaxarão e o seu corpo começará a perder calor à razão de O,7°C por hora.
Após MEIA HORA:
A sua pele vai perdendo cor, à medida que o sangue desce sob o peso da gravidade. Se estiver deitado de costas, o sangue afluirá à zona das costas e à parte inferior dos seus membros. Qualquer pressão sobre a pele irá torná-la branca, porque o sangue se dispersará. As suas extremidades tomam-se azuis. Os olhos começam a afundar-se.
Após QUATRO HORAS:
Serão agora evidentes os primeiros sinais do rigor mortis. Antes do resto do corpo, as pálpebras, o rosto, o maxilar inferior e o pescoço tomar-se-ão rígidos. Um esforço violento ou uma electrocução pouco antes da ocorrência da morte acelerarão o rigor mortis. Este será retardado se a causa da morte for asfixia ou envenenamento por monóxido de carbono. Depois de se ter espalhado a todo o corpo, começará a desaparecer pela mesma ordem com que se instalou. Em trinta horas, todos os seus músculos ficarão relaxados.
Após VINTE E QUATRO HORAS:
O seu corpo arrefeceu até atingir a temperatura ambiente. A menos que seja conservado no frio, a sua pele começará a tomar tons vermelho acastanhado. Em cerca de uma semana, esta descoloração alastrará ao peito, às coxas e, gradualmente, à totalidade do corpo. As suas feições poderão estar irreconhecíveis e você exalará um cheiro intenso a carne apodrecida. Temperaturas quentes ou uma morte súbita acelerarão o processo de decomposição. Se for conservado a uma temperatura amena e num ambiente seco, o seu corpo poderá mumificar, o que dará à pele uma aparência seca e encerada.
Após TRÊS DIAS:
No interior do seu corpo, começará a formar-se gás, que poderá provocar o aparecimento de bolhas de líquido avermelhado com cerca de oito centímetros de diâmetro e o seu escorrimento através dos seus orifícios. Tudo isto confirma a história do corpo da rainha Isabel I: inchou tanto que rebentou o caixão.
Após TRÊS SEMANAS:
A sua pele, cabelo e unhas estarão agora soltos, tanto que seria fácil arrancá-los. Mais cedo ou mais tarde, a sua pele rebentará expondo os músculos e a gordura. É nesta fase que os insectos e os vermes começarão a comer a sua carne. A temperatura ambiente determina a velocidade a que você ficará reduzido a um esqueleto.Num ambiente quente e fechado, demoraria um mês até se tornar um esqueleto; ao frio e no exterior, levará mais tempo.
Teoricamente, o seu esqueleto poderá sobreviver eternamente.



Adaptado de um artigo da Esquire inglesa Junho 1991In K nº 16, A carne: diário da decomposição, Janeiro de 1992

Agradecimento

Venho por esta forma agradecer aos três senhores que estavam hoje nas Bombas da Galp em Alfornelos (cavalheiros) por volta das 18 horas e que me assentaram com uns valentes piropos. (Eu era aquela pequenina de mini saia de ganga e perninhas de alicate, isto para o caso de terem deitado piropos a mais alguém). Obrigadinha.
O Brasileiro foi dos três o mais original, como já vem sendo apanágio, nunca me esquecerei do Brasileiro bonito que quando me viu passar no largo da Princesa fez alusão a um reclame de tv que passava na altura às pastilhas Chicletes onde um rapaz perguntava: "Qué distraí sua boca? Pega uma chiclete da caixinha..." e daí o Brasileiro disse para mim: "Ei princesinha, qué distraí sua boca?" Um dia ainda ganho traquejo e quando encontrar outra vez o Joaquim na FNAC do Colombo ou o Paulo Pires no Teatro Aberto cá vai disto. Qué distraí sua boca? (Pode ser que eles se lembrem do reclame... é claro)
O Brasileiro foi de novo o mais original (êta povo original, criativo, caloroso e amigo)
-“Olha qui coisa maiz liiinda! Dá uma voutchinha prá mim, dá?” - Piropou distraído, com a biqueira dos ténis apontados à bomba mas o resto do corpo em sentido contrário, a apontar para mim, com um sorriso todo grandgi (deve ter atestado até ao gargalo). Obrigada irmão. E desculpa lá não ter andado às voutchinhas só para te agradar mas palavra d' honra que ontem estava mesmo derreada das cruzes (eles a pensar que era o meu andar sexy, antes fosse). O outro devia ser Espanhol porque à parte de deitar o piropo ao mesmo tempo que abanava só os ombros, bamboleava as omoplatas, não sei se estão a ver, queria deitar a manápola, eu é que tropecei no tubo do ar por duas vezes e ele não me deitou a mão. O terceiro ía a sair da bomba mas Oláááááá- espera-que- isto-promete e toca de imobilizar a viatura atrás da minha e ali ficou a apreciar os meus modos de meter 2.2 bares de pressão de ar em cada pneu, com uma mini-saia de ganga enfiada por mim a baixo (é sempre assim, quando se me esvaziam os pneus estou de mini-saia, é preciso ter sorte).
Este último era Africano (outro povo muito dado aos calores) a certa altura, pôs o braço e a fachada de fora e disse qualquer coisa do género: “ - Até dói” Ao que eu pensei: Como é que será que ele adivinhou que me doem as cruzetas? Mas um amigo meu já me disse que eu era ingénua por demais, o que até dói eram os t… do preto, tu vê lá se acordas! Desce como ele diz, desce daí. Eu cá, ingénua ou não, acho que o Africano não fez por mal, ou decerto adivinhou (podia ser o professor mambo, porque não?).
Um piropo é uma coisa que só se pode agradecer já um gajo (uma gaja, neste caso) vai longe e de preferência através do blogue porque nunca na vidinha deles vão adivinhar que eu lhes agradeci a gentileza, a cortesia, o miminho, numa coisa que se chama oreinabarriga tudo pegado ao post 475.
O meu marido é que é engraçado. Dos dois primeiros comentou Naaaa, eles ali era para meter gasolina e tal e do terceiro:
"- O homem queria era meter ar nos pneus e estava à tua espera." (como quem diz, qual piropo qual quê! Tu não vês que estavas mas era a demorar? A estorvar?)
Agora, sempre que o meu marido me telefonar para o emprego a dizer assim:
"- Querida, vai meter gasolina nas Bombas da Galp de Alfornelos que dá para descontar o talão do Continente e dão-te outro para descontar… blá, blá, blá…. "
Eu respondo:
"- Ó querido, está descansado, vou assim que sair do trabalho lá direitinha."
E como quem não quer a coisa, passo antes por casa, dispo as calças, visto a mini-saia, esvazio um ou dois pneus do carro e com sorte, hei-de estar boa das cruzes para ir à Bomba.
Mais uma vez um grande bem há-ja aos três. E já agora agradeço também à


Galp
Continente, Hipermercados
Continente, Africano
Junta de Freguesia de Alfornelos
Tiago Almeida (que faz do amigo neste episódio)
H&M (patrocinador da minha mini-saia)
e ao Brasil, no geral.

Post seguinte

Que é como quem diz, domingo a seguir, episódio que se segue:
- E essa aí dentro do vestido? És mesmo tu?

Esse vestido é novo?

Casei com um homem que vive comigo (erro dos erros, erro número um e daí em diante). Que dorme comigo, que conhece todos os meus pijamas e nenhuma da roupa que visto. Quando sai de casa estou a dormir, de mola no cabelo, quando regressa já estou dentro do mesmo pijama e adornada com a mesma mola no cabelo. Casei com um homem que conhece as minhas borbulhas, pontos negros, olheiras, pêlos supérfluos, cieiro labial e mau hálito. E desconhece a minha "moca", o meu decote, quão compridos estão os meus cabelos, pretos e macios. Daí que aos Domingos (e não são todos) que é quando ele me vê vestida (e não é sempre), calçada (deverá ler-se sem chinelos azuis turquesa felpudos) com o cabelo à solta (entenda-se sem mola), ergue a sobrancelha empertigada (geralmente a esquerda) e sai-se com esta:
- Esse vestido é novo?
Vejam bem. Um vestido que tenho há um ror de anos!

Isto em contos

Tenho saudades do escudo. Com o escudo podia-se brincar. Mil escudos eram uma milena. 500 escudos eram quinhentos paus. Na feira da ladra um livro custava um pintor, 2 pintores... Caramba com o Euro não se pode brincar. Ou com o Euro não se brinca, vai dar ao mesmo. O gajo foge a sete pés, é a primeira. Aquilo que ainda assim vai tendo alguma piada (a mesma que tem a pronuncia do norte) é que raramente se encontra um Português que saiba dizer Euro correctamente. Éro. Aério. Euru. O Euro não dá para nada. Nem para brincar. Que coisa séria o Euro.

"Rapidinhas Culturais"

Compreendemos que ninguém tem tempo e que, quando o há, temos coisas mais engraçadas que fazer do que ler um livro, por muito bom que ele seja. Ver vídeos, dar uma volta, embebedar-se, pecar em geral, são de facto actividades mais divertidas e mais rápidas.
Por esta e outras razões pomos a nossa extensa cultura ao serviço de todos os ignorantes que nos lêem. Para poupar tempo e dinheiro aqui estão alguns tesouros da literatura universal em poucas linhas e ao alcance de qualquer besta.
Marcel Proust. À Ia recherche du temps perdu. Paris, Gallimard. 1922 (I.ere edition) - À procura do tempo perdido. Livros do Brasil Colecção Dois Mundos). 1965Resumo: Um rapaz asmático sofre de insónias porque a mãe não lhe dá um beijinho de boas-noites. No dia seguinte (pág. 486. I vol.), come um bolo e escreve um livro. Nessa noite (pág. 1344. VI vol.) tem um ataque de asma porque a namorada (ou namorado?) se recusa a dar-lhe uns beijinhos. Tudo termina num baile (vol. VII) onde estão todos muito veIhinhos e pronto.
James Joyce. Ulysses. Paris, Shakespeare Co.. 922 - trad. portuguesa (obrigatório dizer e é má) de João Palma-Ferreira. Resumo: Um dia na vida de um judeu chamado Bloom que vai cagar no primeiro capítulo. Um estudante chamado Daedalus masturba-se na praia. O judeu bebe uns copos e fala com o sapato. A mulher do judeu (que é cantora) lembra-se de como fornicou o dia todo com o seu amante. Termina com a palavra «Sim», prova indiscutível de que se trata de um livro inteiramente positivo. Júlio Dantas, A Ceia dos Cardeais, Lisboa, Lello, 1908 - tradução portuguesa de David Mourão-Ferreira. Resumo: Era uma vez três cardeais. Um era português, o outro espanhol e o outro francês. Estavam a jantar no Vaticano e lembraram-se de comparar engates. O francês tinha muita lábia, o espanhol muita basófia mas o português é que a sabia toda.No fim, os outros baixaram a bola e reconheceram como é diferente (e melhor) O amor à portuguesa. Ou, como disse no fim o cardeal inglês. «Portuguese do it best». Leão Tolstoi, Guerra e Paz, (1800 páginas)Resumo: Um rapaz não quer ir à guerra e por isso Napoleão invade Moscovo. A rapariga casa-se com outro. Fim. Luís de Camões, Os Lusíadas (várias edições), versão portuguesa de João de Barros) Resumo: Um poeta com insónias decide chatear o rei e contar-lhe uma história de marinheiros que, depois de alguns problemas (logo resolvidos por uma deusa porreiraça), têm o justo prémio numa ilha cheia de gajas boas. Gustave Flaubert, Madame Bovary, (378 páginas) Resumo: Uma dona de casa engana o marido com o padeiro, o leiteiro, o carteiro, o homem do talho, o merceeiro, e um vizinho cheio de massa. Envenena-se e morre. William Shakespeare, Hamlet, Londres, Oxford Press Resumo: Um príncipe com insónias passeia pelas muralhas do castelo, quando o. fantasma do pai lhe diz que foi morto pelo tio que dorme com a mãe, cujo homem de confiança é o pai da namorada que entretanto se suicida ao saber que o príncipe matou o seu pai para se vingar do tio que tinha matado o pai do seu namorado e dormia com a mãe. O príncipe mata o tio que dorme com a mãe, depois de falar com urna caveira e morre, assassinado pelo irmão da namorada, a mesma que era doida e que se tinha suicidado. Anónimo colectivo, Antigo Testamento (2 vol.) Resumo: A mesma história tem dezenas de versões. Trata-se da saga de uma família através de várias gerações. Uma história de poder, luxúria, paixões incandescentes, ambições desmedidas, crimes hediondos e sexo. Anónimo colectivo. Novo Testamento (4 versões)Resumo: Uma mulher com insónias dá à luz um filho cujo pai é uma pomba. O filho cresce e abandona a carpintaria para formar uma seita de pescadores. Por causa de um bufo, é preso e morre.
in K, nº20, Rapidinhas Culturais, Maio de 1992

Poema de António Ramos Rosa

Poema dum Funcionário Cansado

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só
num quarto só com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
Soletro velhas palavras generosas
Flor
rapariga
amigo
menino
irmão
beijo
namorada
mãe
estrela
música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida num quarto só.

Poema de euzinha

Ainda que...

Ainda que morra em mim
o que de ti resta
Ainda que morra em mim
já sem vontade
Ainda que tarde
mas amanheça
e eu me arrependa
Ainda que seja o que morre em mim
Que te envaideça

maria joão viana

É delicioso...


Diz o Miguel pró iogurte:

- Hum... é delicioso... e saudável!

21.2.08

É amar-te assim...

Para meu espanto descobri que o meu filho sabe de cor o "Ser poeta" da Florbela Espanca.
Bem sei que lhe canto os versos da Florbela (como na música dos Trovante), ainda o meu filho flutuava na minha barriga.
Uma noite destas, aproveitamos que o pai estava na reunião de condónimos e fomos os dois para a cama, aninhados, contar histórias e como sempre, ele acabou por me pedir: mãe, canta o poeta! Foi quando para minha surpresa, o meu filho me acompanhou, cantando comigo, terminando os versos primeiro que eu!
- Tu sabes cantar o poeta filho?
- xim.
- Tu decoras-te tudo meu passarinho?
- canta o poeta mãe, canta comigo...
Quando eu era pequenina decorei a Salvé Raínha porque a minha avozinha Maria José a dizia para mim todas as noites antes de eu dormir, ainda hoje a sei, mas o Ser Poeta? É tão difícil... o Miguel quase nunca diz os Érres (os érres que vêem no meio das palavras não diz) e a dizer O Poeta diz os Érres: "É ser rei do reino de aquém e de além dor..." "... morder (cá está um érre no meio da palavra) como quem beija, é ser mendigo e dar como quem xeija... é ter garras, asas de condôí... e é amaaaaaaar-te axim, perdidamente e é sês alma e xangue e vida em mim e dizêu cantando, a toda a geeeeeeente..."

Paula Rêgo, a Perturbadora



A Pintura é bela, monstruosa, inocente, horrorosa, inocente e grotesca. Está lá o génio. O pastel com os dedos. A invulgaridade. Paula Rêgo põe o dedo em todas as feridas. Em todas as culpas. Aborto. Submissão. Redenção. Pudor. Pedofilia. Perturbante. Paula Rêgo é terrivelmente perturbadora, até naquilo que diz, quando fala. Eu fico-me pela pintura, não gosto nada das histórias que conta e que vai buscar a contos e lendas tradicionais, são coisas enfurecidas, macabras, não lembram a ninguém. Os quadros também não. As histórias, pelo que conta, são o que os quadros querem dizer, são a nascente, onde tudo germina, mas a mim, parecia-me bem que não fossem reveladas as fontes.
Paula Rêgo pinta os pesadelos com os dedos, os pesadelos que não temos coragem para ter, os fantasmas que nunca vimos naquela perspectiva de... crueldade? Prazer? São quadros que nunca mais acabam, como os sonhos e os pesadelos, se continuarmos a dormir, é preciso acordar. Ás vezes é assustador, quero acordar e ainda não analisar todo o quadro, há mais, ali no cantinho, o que é aquilo? Foi a Lila que se mexeu... Deixar de olhar e não posso, quero levantar-me e não sinto as pernas, voar e não sou capaz, fico de repente demasiado velha, estou velha, quero voar e não consigo. É demasiada carga e no entanto, considero-a umas das melhores pintoras de sempre. (No fundo eu sou a noiva, "a mulher do vestido que a aperta como um casulo")
Chega a despertar o ódio, aquilo que está cadáver em toda a gente. Como se fosse sobrenatural esta força entre Ela e nós.
"As avestruzes querem voar e não conseguem".
Querem voar mas não conseguem, estão velhas, ficam apenas a assistir...



Paula Rêgo para levar para casa
The Pillowman

20.2.08

A Periférica

A Periférica é outra que tal, extinto, já estava a gostar e acabou-se...

http://www.periferica.org/


Ao menos disseram para onde íam...


Rui Ângelo Araújo: Os Canhões de Navarone
Fernando Gouveia: Não tenho vida para isto
Paulo Araújo: El Gran Masturbador
J. Rentes de Carvalho: Tempo Contado

Revista K





A Revista K era provavelmente a melhor revista do mundo. Eu era fanática (eu que não sou fanática por coisissima nenhuma era fanática pela K) .
Depois de a ler lia o meu pai, que também era fanático (o meu pai que não é fanático por coisissima alguma, era fanático pela Revista K), depois voltava para mim. Leva-a para todo o lado, andava comigo nos transportes públicos, nas férias, ía comigo para a cama.
A Revista K foi fundada e dirigida por Miguel Esteves Cardoso que também escrevia nela com um sentido de humor genial e invulgar e escritores e jornalistas como Vasco Pulido Valente, Carlos Quevedo, Rui Zink, Hermínio Monteiro (editor da Assírio & Alvim que morreu recentemente), Nuno Rogeiro, Constança Cunha e Sá, Pedro Rolo Duarte, Agustina Bessa-Luís, Paulo Portas (criador também ao lado de MEC d' O Independente), a mãe do Paulo Portas (Helena Sacadura Cabral), Rui Vieira Nery e outros, colaboravam com artigos absolutamente inovadores (ficaram-me sempre na memória inesquecível as "Conversas de ir ao bip", "A carne, diário da decomposição", um artigo sobre os hotéis sado-masoquistas em Portugal e um outro sobre as drogas, fugiram-me os títulos destes dois últimos, o resto não) absolutamente irreverentes para o panorama da imprenssa na altura (Anos 90 eu tinha para aí 18 anos e 18 anos naquela autura equivalem hoje a ter uns 11,12 anos) e mesmo nos dias de hoje uma vez que não houve outra igual e será difícil voltar a haver nas bancas uma revista de rara qualidade como aquela, cada página era de um grafismo surpreendentemente original, até a qualidade do papel era muito boa, era uma revista insoburdinada, arrojada, indecorosa às vezes, impossível, ou voltar a haver um fundador como Miguel Esteves Cardoso capaz de juntar tanta gente desta casta numa só invenção. Era uma revista culta, de culto, para gente culta.
A revista durou apenas três (coleccionáveis) anos.
Agora há-a em blogue. Não é a mesma coisa. Tenho saudades do formato em papel, da K fisicamente. Da textura das folhas, é preciso ver que eu ía com ela para a cama.
A Revista durou apenas três (coleccionáveis anos). Porque provavelmente era a melhor Revista do mundo e Portugal não é o melhor País do mundo nem os Portugueses são os melhores leitores do mundo e talvez não merecessem ter a melhor Revista do mundo.







19.2.08

Diabos e papoilas

Obrigada João A.

Re: Percebi sim. Claro que percebi.

18.2.08

Bob

Esqueci-me de publicar entretanto que o Miguel passou o dia de carnaval mascarado de Bob, ou foi o pai? Foram os dois. O Miguel com a farda, o pai com a máscara e todos os meninos no Parque do Alvito a aproximarem-se de um fininho de gabardine cinzenta e com a cara do Bob e a chamar: Bobe! Ó Bobe! Tu é que és os Bobe?
Para o Miguel os outros meninos não estavam a brincar ao Carnaval, eram mesmo as personagens dos desenhos animados ao vivo! Até acho que ficou desiludido com algumas, havia muitos noddy's mas nenhum era tão engraçado como o da tv. O batatoon é que estava o máximo, melhor que o original! O Miguel gostou muito do marinheiro também, andou atrás dele o tempo todo para saber de que bonecos é que ele era com certeza, em que canal é que dava e a que horas.
Foi muito divertido. Quando chegamos a casa foi dormir das 6 e meia da tarde às 8 da manhã do dia seguinte! Ser Bob dá muiiiiiiiito trabalho!

14.2.08

Dia dos namorados

O diabo bem soprou, soprou.
Ele foi buscar um fole, uma ventoínha, ele ligou para o telemóvel do Adasmastor, o Adamastor veio, àquela hora, para ajudar a soprar, mas nada. Voaram telhas, bateram portas com a corrente de ar e nada...
O homem avisou logo que estava "à rasca da garganta" e a mulher "à rasca das artroses" nem se mexeu, para não se partir".

11.2.08

O homem é feito de fogo, a mulher é feita de estopa,

vem o diabo e sopra.

4.2.08

O CAF

O CAF diz que é uma espécie de estrutura comum de avaliação para a qualidade total, das administrações da União Europeia. O CAF é uma espécie de questionário de auto-avaliação, o CAF diz que vai para uma espécie de Universidade Católica (parece-me que só os católicos, os muito católicos, os católicos praticantes é que se metem nisto, nesta espécie de tratamento de dados).
O CAF, todo ele tem piada. São 25 páginas à razão de meia dúzia de perguntas por casa página o que dá uma média de 150 perguntas engraçadas. Quem elaborou o CAF foi alguém com sentido de humor e que promove e fomenta o bom ambiente e a alegria nos serviços públicos por forma a dar a tal qualidade total às administrações da União Europeia como pode e sabe, ou seja, criando questionários CAFES.
Ora o CAF diz que é anónimo. "Este questionário é de natureza confidencial e anónima. Obrigado pela sua colaboração". Obrigado de nada, ora essa, obrigado eu, não é todos os dias que nos fazem rir desta maneira. Quanto à sua natureza confidencial e anónima contituiu logo motivo de risota, é que na caracterização estatística do colaborador, sou obrigada a colocar cruzinhas em tudo o que me identifica, ora, gaja do sexo feminino, entre os 36 e os 40 anos, há mais de dois e há menos de cinco ao serviço deste Agrupamento de Escolas, com a categoria profissional de administrativo quem é que queriam que fosse? O Noddy? Não, euzinha mesmo. Só não perguntam o nome. Deve ser para efeitos de dizerem que o CAF é de natureza con... confi... (deixem-me rir). Ainda se o CAF fosse directamente para a Universidade católica...
Nas perguntinhas da qualidade Critério "1 - Liderança", foi tudo corrido a zeros (a pontuação é para dar de 0 a 10, querendo dizer o zero que não há acções nesta área ou não temos informação ou esta não tem expressão e o 10 querendo dizer precisamente o contrário, que tudo o que se faz nesta área é "planeado, implementado, revisto e ajustado regularmente e aprendemos com outras organizações". Ora, como o Conselho Executivo não faz reuniões com o pessoal não docente, népia, nem reuniões nem muita conversa, nem muita confiança, o essencial, os bons-dias, vá, nem para nos avaliar o desempenho, reune connosco. Como também não promove acções de informação sobre as decisões que toma, não dá cavaco, portanto, não define claramente o papel e a responsabilidade das pessoas, o que interessa é estar feito, não é quem fez, se foi o mesmo, por exemplo, não interessa, interessa que está feito e exportado, como o conselho pedagógico se está borrifando para o plano anual de formação do pessoal não docente, porque a trabalhar é que se aprende não é nas acções de formação que só nos metem coisas na cabeça (minhocas), de modo, que como estava dizendo, foi tudo corrido a zeros. Passei então ao critério 2, o do "Planeamento e Estratégia", aqui em vez de por a cruzinha do zero, pus do NS, que é como diria o meu filho: Na xei. Eu sei lá o que é o Plano Anual de Actividades e o Projecto Educativo. Eu sei o que é a Segurança Social, a relação dos descontos, o mapa dos vencimentos, o de segurados, o dos subscritores da Caixa Geral de Aposentações, o classificador das gratificações e dos suplementos remuneratórios, eu sei o que é o Mapa da Requisição de fundos, o da Aplicação de verbas, agora o Anual de Actividades? Nunca vi. Palavra de honra, não é de eu ser distraída, isso não há-de ser uma coisa tão pequena, nunca vi.
Quando me veio esta pergunta aos olhos: "O Conselho Executivo tem criados canais de comunicação interna para divulgar objectivos, planos e actividades da escola?" lembrei-me logo de três ou quatro lambe-botas mas pus zero, que é a mesmissima coisa. Que teve piada a pergunta teve. Não foi bem a pergunta, foi a metáfora. A metáfora estava de facto muito, muito bem imaginada. O critério 3 coube às Pessoas. Pessoas. Ora as pessoas estão sempre a reclamar do serviço, dos colegas, dos chefes, dos miúdos e dos pais dos miúdos e perguntam uns aos outros ininterruptamente: Já veio a minha aposentação? Ora isto quer dizer que o pessoal anda desmotivado porque não é valorizado o seu trabalho, anda cada vez mais aos papéis porque não há (in) formação, o que se fazia há 20 anos continua a ser verdade e adequado, não nos é reconhecido o esforço nem o mérito nem o sucesso porque não sei, digo eu, devem pensar que um gajo depois fica todo inchado, com os elogios e é pior, depois não quer é fazer nenhum daí para a frente. No ponto 4: "Parcerias e Recursos" lá consegui dar uns oitos e um 9 na gestão de recursos, uma vez que ainda estou para saber como é que um conselho executivo gere uma escola deste tamanho e desta complexidade pelo meio socio-cultural onde está inserida, onde a lista das necessidades básicas é como daqui a Miranda do Douro, com a verba insuficiente que lhe concede o Ministério, que praticamente dá para mudar de lâmpadas quando elas de fundem. Ao Plano 5 que são os processos não lhe achei grande piada. Já o ponto 6, que são perguntas relacionadas com o "grau de satisfação de necessidades e expectativas de alunos e encarregados de educação relativamente à prestação de serviços da escola", tenho que dar um zero na "sinalização e orientação para pessoas que não conhecem a escola", pois falta sinalectica de todo o tipo: cuidado, não caia da escada; atenção não tropece nas raízes das árvores, por favor puxe o autoclismo, a secretaria é para ali; sim, isto é uma escola. (esta última parece-me da maior impotância, querem maior evidência que a gente estranha que passa à nossa porta, perguntar: Quê? Isto é uma escola? É de facto necessário colocar um letreiro a dizer em letras garrafais: SIM ISTO É UMA ESCOLA, AFASTE-SE, PERIGO DE DERROCADA)
O horário de atendimento não é do conhecimento público porque a funcionária a) dentro do periodo da manhã pode chegar a qualquer hora, a funcionária b) a qualquer momento pode sair mais cedo, o funcionário x) é atrasadinho, o mais certo é não conseguir dizer-lhe em que horário é que está a funcionar, a funcionária y) não é dessa área, não sabe ou não responde e assim sucessivamente.
"Os serviços da secretaria têm instalações adequadas para o atendimento ao público em termos de espaço e acessibilidade?" Outra pergunta deveras engraçada. Espaço não deve ter pois as professoras e educadoras que entram por aqui a dentro ficam umas em cima das outras e todas em cima de nós, funcionárias, a acessibilidade também deve ser muito má porque já não é a primeira professora ou educadora que vamos buscar à casa de banho dos homens.
Ponto 7 (aqui já me começou a doer a barriga de rir) o CAF pergunta assim: "Nesta escola existe um manual de acolhimento, actualizado, para os novos funcionários?" Esta é muito boa, é uma pérola do humor, nem os Gato Fedorento nem os Parodiantes de Lisboa, nem o Humberto Madeira, nem a Ivone Silva algum dia me fizeram rir com tanto gosto, manual de acolhimento é muito bom, um cofre (lê-se cofrê) permumé há venda nas perfumarias, por exemplo, ou uma bolsinha com preservativos, toalhetes, uma tesourinha, uns tampões para os ouvidos, aspirinas, anti-estamínicos e mercúrio-cromo, escova e pasta de dentes descartável, ou um estojo com uma lapiseira, uma agenda, um calendário e, rebuçados, caramelhos espanhoélhes! Um envelope com as boas vindas dos colegas num postal dos ursinhos carinhosos com um cheque da FNAC, hein? Quando se fala em manual de acolhimento actualizado, repito, actualizado, quer dizer que no caso dos cofres parfumés, das aspirinas, nos anti-estamínicos e mercúrio-cromo, bem como as agendas e calendários teriam que ser observados regularmente os prazos de validade dos mesmos. Não se vai agora dar as boas-vindas ao colega novo com um frasco de mercúrio dos anos 60, um calendário do ano passado ou um cofre da givanchi mas cheio de musgo. Verdete.
"Ponto 8: Impacto na sociedade."
Na sociedade não sei. Na minha vida teve um impacto extraordinário. Qualquer coisa como ter sido atropelada por um camião cisterna, que ainda hoje estou à procura de alguém que tenha tirado a matricula. "A Escola tem um horário de atendimento e de funcionamento que corresponde às necessidades da população?" Não. É zero outra vez. Ás horas que a secretaria atende estão a dar as melhores telenovelas, O Conselho Executivo marca reuniões com a Associação de Pais em dias de jogos relevantes para o campeonato, as funcionárias que deviam acompanhar os miúdos, às refeições, no recreio, durante os amassos atrás do pavilhão, durante todo o seu percurso pós puberdade, escolar, durante toda a vida, educá-los portanto, até se fazerem homens e mulheres casadoiras, quer dizer, os pais metem os putos na escola para eles serem educados e não terem que se preocupar com isso nem com o sase, mas não, os miúdos vão muitas vezes fazer xixi sózinhos porque a funcionária foi almoçar, e quando se aleijam e vão para o hospital a funcionária tem que chamar o desgraçado do paizinho que está no centro de emprego a responder a uma oferta para serralheiro mecânico em Belmonte, por 14 dias, para substituir o serralheiro mecânico que está de baixa só porque está sózinha no bloco, a colega acabou de saír, o horário dela era às 5. Com franquesa. E muitas mães vêm deixar os meninos de manhã, à escola, de roupão, quando as funcionárias deviam passar pela casa dos miúdos, para os recolher, antes de entrar ao serviço. Assim é que era um horário de funcionamento e um atendimento em condições. Não era chegar à escola sem os alunos e atrasadinha ainda por cima.
"A escola empenha-se para que o nível educativo e formativo da comunidade melhore?" Não. é zero. Nunca vi a escola correr à vassourada o ajuntamento de familiares ao portão da Escola quando acaba a telenovela ou antes de começar o jogo para beijarem as criancinhas e certificarem-se que alguém e o sase e o sócrates tomam conta delas. Não, nunca vi nenhum utente mal criado e mal formado, com os copos, ou parvo, ser mandado para casa para se lavar, ou ao barbeiro para cortar a gedelha nem ao centro de emprego para se oferecer.
"A comunidade é incentivada a colaborar nas actividades na escola?" Não. É zero. A comunidade é incentivada a mandar pedras. A própria estrutura, aquitectura da escola incentiva. Puxa. Dá vontade.
Tudo isto acaba no 9º episódio, que são perguntas sobre "o resultado do desempenho chave". Todas neste episódio têm graça, mas aquela em que se pergunta se "a escola controla o atraso e as faltas do pessoal não-docente" é a melhor. Ainda se fosse o Porteiro, o Sr. Vitor, ou o cartão magnético, ou os funcionários da carpintaria mesmo em frente ou até o Sr. da oficina, mais afastado, mas se lhe pedissem, era capaz de controlar, ía soldando e controlando, ía pintando de metalizado e controlando, alisando a chapa e controlando, um olho na viatura, outro na entrada da escola, agora a escola? A escola em si? O edifício? Os blocos de puro cimento? A falar? A chamar à razão um funcionário atrasado ou que se esqueceu de vir trabalhar noutro dia? Até me ponho a imaginar: a fenda mais grossa do Bloco A a fazer uma boca, as janelas do conselho executivo uns óculos todos ranhosos, e as caganitas das rolas a fazerem de olhitos, os braços das árvores os braços do Sr. bloco A e o resto como se fosse um fato todo rasgado e velho e a porta de entrada uma barguilha aberta? A Falar. A chamar assim, o funcionáriosinho atrasado, Ó psit! Ó palermazeco! Isto é que são horas de chegar? Voltas a repetir a gracinha e passo-te o papel para o fundo de desemprego.
Ai.... Ai, ai....
Vistas bem as coisas não tem assim tanta piada. O CAF está bem feito, a Lei está bem feita, a Senhora Ministra tem razão, isto está a precisar de uma grande reforma, ela está no caminho certo, ela não tem é culpa daquilo que vai na consciência de cada um.

1.2.08

Carnaval

Aqui vou eu em busca da fantasia do Mickey!
- Dona Preciosa, tem cá alguma fantasia do Mickey?
Recordo-me de em miúda ver por altura do Carnaval e a caminho da escola, meninos e meninas da minha idade, de cara emburrada, bochechas cheias de vento e braços cruzados com raiva à volta do peito, bufafam para as franjas do cabelo quando alguém parava e dizia: - Ai que índiosinho tão engraçado! E íam cheios de vergonha para o colégio e morriam de inveja quando viam mascarados os amiguinhos com as suas fantasias preferidas.
Antigamente e mesmo nos dias de hoje, há pais que mascaram os filhos com as suas próprias fantasias e não com as fantasias das crianças. Era melhor que estivessem quietos.
- Gostas do Noddy? Mas vais de mexicano que é mais barato, é metade do preço! ou
- A Branca de Neve já não havia, vais mascarada de criada ou de sevilhana que é para aproveitar os fatinhos que a tua prima Isaura lá tem, estão novinhos!
O Miguel já tem as suas preferências.
Se não for de Mickey pode ser de Bob, de Noddy, de leão, ...
- Ó Dona Preciosa, tem cá o fato do Mickey? Não? Nem do Bob? E de Leão? Também não? Ó diabo... vou ter que esquecer a máscara, que é carnaval e levar o meu filho ao cinema. De Zorro é que não, de jeito maneira.