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7.4.07

Portugal dos Pequenitos










































3.4.07


Todos os que caem


"A primeira impressão que chega ao olhar dos espectadores é a da
poeira que parece pairar no ar envolvendo todo o cenário - um estúdio de rádio.
A segunda impressão advém da presença esmagadora da personagem central, Mrs
Rooney, figura desconcertante, amarga, irónica, comovente, trágica, gorda -
gordíssima -, magistralmente interpretada por Maria do Céu Guerra. A peça
chama-se "Todos os que caem" e é nada mais nada menos do que a primeira incursão
pelo teatro radiofónico de Samuel Beckett, que a escreveu em 1956. A encenação
que se pode ver na Comuna Teatro Pesquisa, em Lisboa, é assinada por João Mota,
que deste modo se estreia com um texto de Beckett. Um sonho antigo agora tornado
realidade como forma de assinalar o centenário do dramaturgo irlandês que terá
lugar no próximo dia 2 de Abril. Nesta data, "Todos os que caem", cujos ensaios
para a gravação podem ser vistos na Comuna, terá transmissão numa emissora de
rádio portuguesa."Esta é uma peça de grande rigor que prima pela excelência da
palavra. O teatro é isto", diz João Mota no final de mais um ensaio, a fórmula
encontrada para tornear a proibição de Beckett que impede que o texto conheça
qualquer outro tipo de adaptação cénica que não a de se destinar à radiodifusão.
Assim, na Comuna, foi erguido um esboço de um estúdio de rádio e cada
representação é de facto gravada. "No fundo, o que se pretende é que o público
assista àquilo que podem ser os ensaios para a gravação. O ambiente sonoro -
vozes de animais, o som da chuva e do vento - são criados com a ajuda dos mais
diversos utensílios, desde passadores domésticos de legumes, trituradoras
manuais , sacos de plástico, palhinhas". Além da dupla Maria do Céu Guerra e
Carlos Paulo, a peça conta com interpretações de Álvaro Correia, Alexandre
Lopes, Ana Lúcia Palminha, João Tempera, Miguel Sermão, Sara Cipriano, Hugo
Franco e Victor Soares."Todos os que caem", que remete para um salmo do Antigo
Testamento - O Senhor ampara todos os que caem e ajuda a erguer todos aqueles
que Ele determinou que se curvassem - , "é uma peça que retrata as misérias da
condição humana com um humor patético e cúmplice".A história desenrola-se a
partir de um casal de idosos, o cego Mr Rooney (interpretado por Carlos Paulo) e
a sua mulher, Maddy (Maria do Céu Guerra), que o vai esperar à estação de
comboios. Aliás, como sublinha João Mota, "esta é uma peça purgatorial sobre o
declínio e a queda, onde o tema da espera, já anteriormente assumido por
Beckett, com a peça de Godot, assume aqui uma forma mais activa". O encenador
lembra que "Todos os que caem" não é uma das peças mais conhecidas do autor de
"À espera de Godot". E isto porque Beckett nunca permitiu que a mesma conhecesse
outras formas de encenação que não fossem as destinadas a radiodifusão. A única
excepção em vida do autor foi a da realização televisiva francesa da peça em
1963, mas esta experiência cavou ainda mais fundo o cepticismo de Beckett que
não permitiu mais interferências cénicas e chegou a ponto de recusar uma
proposta feita pessoalmente pela dupla Laurence Olivier/Joan Plowright. Este
ensaio levado à cena na Comuna é também marcado pelo facto de Maria do Céu
Guerra, da companhia A Barraca, trabalhar pela primeira vez com o encenador João
Mota."
Não fui eu que escrevi esta sinopse, está bom de ver, foi extraída integralmente da página do Jornal de Notícias e transcrevia para aqui porque diz tudo (tudo o que eu gostava de ter dito/ escrito sobre a peça claro).
"Todos os que Caem" ficou a habitar em mim. Ao pé das memórias dos livros que mais gostei e das outras peças de teatro que também me marcaram. Existem em mim prateleiras cheias de livros e caixas cheias de peças. Gavetas com filmes e papeis e fotografias soltos e soltas por todo o lado, agora povoam também o meu interior sentimental, as fotografias do meu filho e outras tantas páginas soltas dedicadas só a ele, ao maior acontecimento da minha vida, ao melhor lugar reservado só para as coisas do meu filho, um lugar tipo, aqueles da despensa, mais resguardados da luz e do calor, das formigas e do pó, a prateleira mais alta, mais forte, mais difícil de qualquer um lá chegar assim, sem mais nem menos. Eu sou pequena, até de largura sou pequena, mas armazeno para aqui coisas dentro de mim, que não calculam, às vezes ando cheia, empanturrada, volta e não volta faço uma arrumação a isto, mas como tenho dificuldade em mandar coisas fora, antiguidades e coisas de grande valor que depois mandava fora e ninguém apreciava ou reaproveitava, de modo que vou empurrando para os lados e não devo ter alma pequena, não senhor, porque isto apertadinho cabe cá tudo. E quando me sinto cheia apetece-me sempre dizer: Graças a Deus.