oreinabarriga

este blogue está protegido pelos direitos de autor © todos os direitos reservados ao autor designado como carmina burana. a cópia não autorizada de conteúdos de propriedade intelectual e criativa protegidos pelos direitos de autor é ilícita e pode fazê-lo incorrer a si em processos civis e criminais ao abrigo da lei 16/2008 de 1 de abril.







este blogue tem Livro de Exclamações

30.12.08

Bom ano!

Bom ano! aos amigos, aos que vão estar comigo na passagem e aos que não vão estar comigo na passagem (estão na minha cabeça, coitados, no meio desta grande confusão e estão no meu coração que é parte boa, ao menos podem mexer-se à vontade, o coração é de tecido muscular e elástico). Aos amigos virtuais, aos comentadores, aos leitores, aos novos leitores (é tão bom ter novos leitores!), aos que estão perto, aos que estão longe, à distância de um oceano ou de uma fronteira (a ausência presencial só tem alimentado este amor intenso que sinto por vocês). Bom ano! à minha família (eu não tenho chatos na família, digo isto, mesmo que ninguém acredite, porque há sempre um chato na família, um que seja, costuma haver, mas eu não tenho chatos na família, nem do lado do pai, nem do lado da mãe), é sempre uma dor enorme quando perdemos um, é sempre uma alegria imensa quando nasce mais um (e há tantas crianças na nossa família! mas não são chatas, digo isto mesmo que ninguém acredite porque as crianças são todas chatas, mesmo as mais anjinhas costumam ser todas chatas mas na minha família não há crianças chatas, nem do lado do pai, nem do lado da mãe) e é sempre um prazer quando nos encontramos (a propósito, quando é que fazemos o tal encontro? anual? de primos? ã?), quando há chatos na família, estes, estão sempre a combinar almoços e jantares e depois há aquela coisa de retribuir (obrigação?), nós, aparecemos e é sempre uma surpresa, é sempre uma surpresa boa (mas arranjarmos para aí uma data para o encontro de primos também era boa). A minha família é unida. Não é peganhenta. É unida. Bom ano! aos meus colegas todos e em particular aos meus ex-colegas todos porque os meus colegas levam comigo todos os dias e podemos chamar a isso "ossos do ofício" os meus ex-colegas levam comigo na mesma e não sei o que hei de chamar a isso e à vezes nem sei o que fiz para o merecer. Bom ano! aos médicos dos hospitais e aos médicos sem fronteiras, aos enfermeiros, aos bombeiros e aos missionários. E desejo a todos que para o ano dêem mais, gostem mais, beijem mais, liguem mais (aos pormenores, a quando estiverem bem, às lembranças, ao céu e ao cimo das coisas, andamos sempre de cabeça baixa na rua, de repente se nos perguntarem, somos capazes de nem saber a cor do prédio do lado, nem saber da beleza que há numa varanda de ferro forjado ou num candeeiro antigo, não damos pelas cegonhas fazerem o ninho nas chaminés das fábricas nem as andorinhas nos beirais, e tudo isto tem tanta importância como reparar nas pedras da calçada e em todas as flores e aves pequeninas. Se a olhar para cima pisarem cocó é sinal de sorte, dizem que é sinal de sorte), riam, chorem mais também, porque viver assim é a única maneira que eu conheço que funciona, para ser mais feliz, receber a dobrar e para terem mais coisas boas.
..
P.S.: voltem para o ano, voltem sempre, venham sempre, aqui, não é por nada, é só porque eu tenho medo, sempre tive, de estar sózinha, só isso.


29.12.08

Trabalho? Qual trabalho pai?

O meu pai tem dito por estes dias uma frase mais ou menos assim:

- O pai está a dar muito trabalho não é filhica?

Não pai, não estás a dar trabalho nenhum. E se um dia deres, não faz mal, eu estou cá pai. Mas não, não tens dado trabalho nenhum, tu só me dás alegrias pai (fazes-me rir! e andar em frente) e eu estou feliz onde tu estiveres, e sou feliz se tu estiveres bem e estarei sempre contigo porque tu estás à frente, estás à frente do meu trabalho, estás à frente das outras coisas, tu és tu pai, o meu paizito! O meu paizito.

Trabalho? Qual trabalho pai? Ai, ai...

As coisas boas e as coisas assim assim

O meu pai (o avô João) foi operado no dia 17 de Dezembro, salvo pequenas complicações, foi uma coisa boa. Bloco operatório, uma noite nos cuidados intermédios e regressou a casa no dia 18 bem humorado e sem queixinhas (o meu pai está sempre bem humorado e nunca faz queixinhas, eu e a minha mãe - a avozinha Ana, temos que adivinhar se lhe dói alguma coisa, o que vale é que temos um dedo que adivinha).

Dia 22 a enfermeira Joana do posto médico fez uma cara feia ao meu pai quando lhe viu os pontos. Voltámos à cirurgia B do hospital. O cirurgião, a olho, disse ao meu pai que "estava tudo bem", não foi bem a olho, o meu pai diz que também foram umas apalpadelas (mas o meu pai nunca se queixa e deve mas é ter sido um dedo que o médico pensa que tem, daqueles que adivinham). Ontem foi domingo e era domingo de tirar os pontos, para complicar um bocadinho aquilo que parecia simples (porque "estava tudo bem") um dos pontos infetou e como o cirurgião estava de banco fomos parar às urgências do hospital...


"As Urgências dos Hospitais públicos da região de Lisboa
estão entupidos, com grandes períodos de espera e tudo devido a um surto de
gripe (...) O Hospital Amadora-Sintra regista um tempo de espera de 12 horas
para os casos urgentes e muito urgentes (...)"


fonte rtp.

"A gripe está a provocar o caos nas urgências dos centros de
saúde e hospitais portugueses (...) As autoridades pedem prudência e bom
senso à população (...) 17 mil episódios de procura nos hospitais e 20 mil
nos centros de saúde, são números que estão a deixar a unidades à beira da
ruptura. A Direcção-Geral de Saúde (DGS) apela para que "se deixem os serviços de
urgência libertos para os doentes prioritários que podem correr risco de vida
(...)".


fonte radioclube.clix.pt

E o cirurgião manda o meu pai para as urgências para apanharmos todos gripe?! perdão, digo: para tratar de um ponto infetado??

Assistimos de facto a um surto de gripe, muitas ambulâncias a largar crianças e idosos nas urgências do hospital. Haviam os acidentes graves, de viação, das bulhas, vasculares cerebrais e cardíacos mas também (faz parte) haviam por ali umas dores num pré molar esquerdo que migravam até ao joanete do pé direito, umas insónias... O nosso mal até pode ser menor, mas agrava-se com as horas que ali passamos de pé, ou de um lado para o outro, a enganar o estômago com um chá da máquina, sobretudo os meus pais que têm 70 anos (os meus pais nunca se queixam, nem de fome, nem de espera nem de terem 70 anos, mas eu tenho um dedo que adivinha, que adivinha que a tensão arterial está sempre a subir, a diabetes do meu pai também e o cansaço...), o nosso mal até pode ser menor mas agrava-se a assistirmos ao sofrimento dos outros, às entradas na reanimação, às visitas que choram ao telemóvel... Os vigilantes, auxiliares e pessoal administrativo do hospital são todos simpáticos e prestam todas as informações que precisamos, são os que "levam" com as reclamações, com os gritos e ameaças das pessoas que no meio de algum desespero, se revoltam e mesmo que não tenham razão, têm desculpa porque "aquilo dá cabo dos nervos", "aquilo dá cabo da paciência", "aquilo dá cabo de nós". Quanto aos médicos, os que têm a faca e o queijo, os que têm a ciência e a força necessária para pôr aquilo tudo a andar sobre rodas, a funcionar em condições, sem esperas, melhor organizado (não havia uma sala de tratamentos em todo o hospital onde o médico pudesse tratar de um ponto infetado? tinha que ser no banco de urgências? apesar do alerta da DGS para que se deixem libertos os serviços de urgência para os casos mais graves?), quanto aos médicos, são os que caminham devagar pelos corredores e reagem devagar na sala de consultas, são os capazes de não destapar um penso para ver melhor, são os capazes de nos mandar embora, dizer que está tudo bem e nem sequer é para darem cabo da fila de espera lá fora, são os capazes de ir mudar de bata às 11 horas e só regressarem às 4 da tarde, são os que têm a faca e o queijo na mão e pouca vontade, parece-me, mas como tenho um respeito enorme por médicos e enfermeiros e auxiliares, por bombeiros e porque o meu pai é que quem tem um ponto infetado e lhe quiseram espetar com uma gripe em cima e não se queixa, eu também não me quero aqui queixar (apenas ando um bocado cansada), prefiro acreditar que esta maneira "sossegada", "despreocupada" de serem tem mesmo que ser assim, é um mecanismo de auto-defesa para se manterem bem, porque se eles (médicos, enfermeiros) não estiverem bem, quem cuidará de nós? Prefiro enaltecer-lhes o dom (quase todos têm o dom, a maior parte eu diria) e a faculdade. Por "este" e por "aquele" motivo (não gosto de falar em doenças), temos recorrido quase diariamente (e alternadamente) ao posto médico e ao hospital, este mês de Dezembro tem sido assim e ainda não terminou a romaria, de modo que parece-me mais justo ser-lhes grata, até porque estamos na época do ano em que todos os que têm família desejam estar com a família (e estão com a família), daqui a nada estamos no ano novo que é época do ano em que todos os que têm amigos querem estar com os amigos (e vão estar com os amigos), e vão sobrar os médicos, os auxiliares, os enfermeiros, os bombeiros (...) que estão lá sempre, a trabalhar, por nós, a zelar por todos e se for preciso, a salvar as nossas vidas, a nossa família e os nossos amigos.
A reclamar, prefiro reclamar que fui a três ou quatro casas de banho no hospital e na primeira faltava sabão para lavar as mãos e papel higiénico, na segunda faltava sabão, papel higiénico e as torneiras, e por aí a adiante (caramba! num hospital não há sabão para lavar as mãos??) e também me apetece dizer Bolas! e agora quem é que me ajuda a fazer o meu trabalho (eu trabalho!) no emprego? depois de todas as tardes e dias inteiros passados no posto médico e nas urgências do hospital a testar a minha (nossa) resistência aos vírus da gripe?
Foram as coisas boas e as coisas assim assim do meu Dezembro (que me fizerem andar um bocadinho longe do blogue também e este post não é melhor porque eu não gosto de falar nisto).
Este ano o meu Feliz natal! foi para Eles (médicos e pessoal dos hospitais). Este ano, o meu bom ano novo! vai para Eles (e para a minha familia, lá chegarei. Os amigos estão sempre presentes de uma maneira ou de outra, não preciso fazer um post, pois não? :)).

26.12.08

Televisão desligada, crise apagada.

A televisão acende sempre na miséria humana. Mudo de canal e está um casal com 4 filhos à mesa a lamentar-se de ter prescindido do carro, do telemóvel e das bolachas de marca. Em rodapé lê-se que a situação de crise levou mais uma fábrica a fechar e a levar centenas de trabalhadores para o desemprego antes do subsidio de natal, trata-se de uma fábrica de cortiça (quando não é de cortiça é têxtil, ou de calçado, ou de peixe, é daquilo que sabemos fazer melhor, não, aquilo que sabemos fazer melhor, antes da cortiça, dos sapatos, ... é dar cabo daquilo que temos de melhor). Tive mesmo que desligar o aparelho. Ainda esperei que a notícia do rodapé volta-se a dar em rodapé porque achei que tinha lido mal, quem deve ter levado a fábrica à falência foi o patrão da fábrica mas não li mal não, foi mesmo uma tal de "situação de crise". Tive mesmo que desligar o aparelho. Estas coisas pegam-se. Esta espécie de gripe dos jornalistas pega-se de uma maneira que se não desligamos imediatamente o aparelho o vírus contamina-nos e ficamos como o aproveitador do governo, que vê aquelas coisas na televisão (e chamem-no lá parvo) e ameaça logo que 2009 é ano de "apertar o cinto", "vêm aí tempos difíceis" como quem diz: o governo é bom, toda a desgraça a partir de agora é culpa da crise europeia e mundial. Pior! Podemos ficar como os empresários e donos de bancos, que aproveitam a espécie de gripe dos jornalistas, os primeiros para despedir os trabalhadores, não aumentar os salários nem dar formação ou melhores condições de trabalho, os segundos para pedir injecções de capital (chamem-nos lá parvos).

Experimentem desligar a televisão. Protegerem-se da espécie de gripe. Protegerem-se dos aproveitadores. Experimentem. E não sentirão crise nenhuma de especial. A gasolina está mais barata que nunca, as taxas de juro estão em queda livre (somos um país atrasado, quando a crise europeia e mundial cá chegar já o resto do mundo está em pé, curado e esquecido, com a vantagem que a crise é como um furação, arrasa tudo e vai perdendo força, se não ligarmos a televisão neste entremeio, quando a crise chegar já vem fraquinha, podemos pegar nela e mete-la num frasco e por uma rolha bem metida no frasco e despachá-la) e há subsídios de todas as qualidades e não é preciso ir à junta, nem à escola, nem à rodoviária, nem à segurança social fazer o pino, é só levantar a mão (e fazer um ar desolado, não se perde nada em fazer um ar desolado quando se trata de pedir um subsidio, se quiserem também podem lamentar que já só comem bolachas sem ser de marca, mas garanto que não é necessário chegar a tanto).

15.12.08

Carros mal estacionados

É carros mal estacionados por todo o lado! É impossível circular!
Há espaço, há lugar, há garagens, há garagens com andares e é carros por todo o lado!
É na sala, é na casa de banho, é na cozinha é no escritório, no quarto do Miguel então nem se fala (para além de carros há aviões e comboios, tratores, todos mal estacionados). É impossível circular cá em casa (sim, o Miguel já está bom da infeção urinária e a constipação também já está a passar). Eu cá não apanho os carros porque as mulheres são atadinhas a estacionar. O pai diz que as mulheres não sabem arrumar carros, o Miguel também não sabe, se soubesse estacionar, quando acabasse de brincar, estacionava os carros todos como deve de ser, como não sabe é o pai que logo quando vier do trabalho, vai estacioná-los todos (já que as mulheres são umas aselhas e ele é o melhor a arrumar um carro em condições).

12.12.08

O que mais custa: quando os filhos (pequeninos, com 3 anos) nos batem a chorar porque nos querem dizer "Porque é que não me tiras esta dor mãe? Porquê? Porque é que não me ajudas?"

A infeção

O Miguel tem uma infeção urinária. Passámos um dia no hospital a fazer exames e desde ontem que está medicado, vai passar, hoje acordou constipado (muito constipado), depois do que passámos por causa da infeção urinária: o xixi que ardia, as dores insuportáveis, uma constipação...

- Isso filho, faz sofrer a mãe.



9.12.08

Parabéns mãezinha

A minha mãe faz anos hoje. 73. A minha mãe é a avozinha Ana do Miguel. A minha mãe é tão importante na minha vida, nas nossas vidas... representa a força e também o nosso colo, é a nossa fortaleza. Nós somos uma árvore e ela é o tronco dessa árvore. Nunca se cansa. A minha mãe nunca se cansa. Ontem foi feriado e eu podia ter dormido até ao meio-dia, o Ricardo e o nosso menino tinham ido para a Sertã e a minha mãe fez o favor de cá vir a casa ainda não eram 10 da manhã para me entregar uns pratos e umas travessas que tinha lá em casa e eu que não durmo até ao meio-dia desde que o meu filho nasceu e também ainda não foi desta porque a minha mãe tinha lá uns pratos e umas travessas... coisas de enxoval, coisas de mãe! e quando me tocou à campainha ainda não eram 10 da manhã só me apeteceu... bom, adiante, este post é para dizer que amo a minha mãe e podes acordar-me de dia, de noite, podes trazer os pratos que tenhas lá em casa à hora que te der na veneta, tudo o que faço por ti, até acordar miseravelmente a um feriado de manhã por causa dos pratos que ainda por cima são uma coleção medonha de pratos, não representa nenhum sacrifício, é por amor mãe.

A propósito...

... do que os olhos não vêem o coração não sente, acho condenável vestir ou usar peles de animais que são propositadamente mortos para aquele fim (muitos em vias de extinção), os olhos não vêem mas toda a gente sabe disso, acho condenável usar produtos que são testados em animais que não seres humanos voluntários para esse fim. Até a industria farmacêutica e o campo das ciências e da medicina já evoluíram nesse aspecto apesar de serem áreas que lutam pela sobrevivência e salvação da nossa espécie, mesmo assim estão a tomar consciência que nem isso constitui legitima defesa para cometer tamanho crime.

Circo





(Circo Vitor Hugo Cardinalli, Lisboa 6-12-2008 fotos captadas por carmina burana)

Eu gosto do circo. Dos animais, dos trapezistas, do domador de leões e dos palhaços. Da arena, do vermelho, das gargalhadas das crianças, da magia do circo. Mas é um dilema. Gostar do circo é um permanente conflito interior.
Só vejo circo em Portugal (tenho uma certa simpatia pelo circo Cardinalli), e assistiria ao de Monte Carlo, claro, em outros lugares do mundo temo que os animais ainda sejam explorados pelo homem, vitimas de maus tratos. Quando era pequena o circo eram apenas os leões, os elefantes e os póneis, os trapezistas, o domador de leões, os palhaços, a arena, o vermelho, as gargalhadas das outras crianças e a magia! O resto era uma memória indefinida (incerta, desfocada), de animais magriços e com um ar doente. Mas o que constituía já um conflito interior. Passava o ano inteiro sem saber dizer se gostava realmente do circo e chegava o natal deixava-me ir na magia do circo. A minha primeira desilusão com contornos definidos foi a primeira vez que vi um palhaço desmaquilhar-se (desfazer-se em homem) fiquei inconsolável. Apagou-se a gargalhada com um algodão macio, apagou-se do espelho sem se despedir de ninguém, a porta do camarim fechou-se e trancou-se. Não havia palhaços de verdade, eu é que achava que sim, eram todos homens por dentro afinal, e isso, nada tinha de engraçado. Além do mais, apagou-se a gargalhada com um pano macio e o homem tinha uma cara tremendamente séria. Decidi que já não gostava de palhaços. E durante o ano não gostei de palhaços mas quando veio o natal seguinte e fui ao circo, como todas as crianças, como todas as meninas, fiquei à espera dos palhaços.
Eu gosto do circo. Dos animais, dos trapezistas, do domador de leões e dos palhaços, da aren... Mas não gosto que se treinem animais para fazerem habilidades. Odeio ver cachorrinhos e focas amestrados por domadores do circo a dançar, com bolas e baquetas penduradas no nariz ou até mesmo vestidos ou com plumas (as focas treinadas por tratadores nos zoo's por exemplo já não me chocam, estão num habitat natural e adoram brincar), só me fascinam os leões a saltar por dentro de uma roda de fogo, porque todos os animais temem o fogo, um domador conseguir que um leão domine esse medo maior, é admirável e o leão não está a fazer nenhuma figura miserável, muito pelo contrário. Depois há no circo não só a magia, os artistas (gosto de artistas) como aquele espírito, nómada e de sacrifício. Os artistas do circo vivem com os animais, com as máscaras e os adereços e a tenta do circo às costas, são uma família e na arena, os palhaços é que montam a rede aos trapezistas e os trapezistas depois do trapézio são os senhores e as senhoras que vendem as pipocas.
Gosto do circo. Era mais fácil se não gostasse do circo. Os animais já não são magriços nem têm um ar doente, como tinham na minha infância, agora são fortes, sãos e parecem gostar de estar ali, com aquela família. O circo já não é o que era. O Jardim Zoológico já não é o que era. Hoje há quem queira saber se os animais são explorados pelos humanos, escravizados e vitimas de maus tratos. Hoje é mais fácil gostar do circo. Mas esta coisa do homem ser uma plateia e o animal um espetáculo... um espetáculo por vezes ridículo, nada dignificante (nem para o homem), humilhante e sádico (humilhante e sádico foi a pensar nas touradas, como é possível o ser humano jubilar com o sofrimento de um animal? Aplaudir um outro ser humano que pendurado na altivez de um cavalo - que também sofre, crava bandarilhas que são uma farpas que vistas de perto, ou tendo uma na mão, são aterradoras, aquilo tem aqueles enfeites coloridos mas a ponta de ferro, um ferro grosso que no fim dá uma volta, fica um V, é assustadora, é arrepiante! no dorso de um touro? O touro, tal como nós e os outros mamíferos, tem sistema nervoso central, sente medo, tem ansiedade, sofre. As touradas rebentam com os nervos e os músculos daqueles animais, é sangue por todo o lado e ainda há quem afirme que o touro não sofre, que lhe é quase indiferente e até há gente que defende que o touro gosta e eu já abri parêntesis lá atrás, não posso abrir mais um parêntesis dentro de parêntesis para espetar aqui com todos os nomes que classificam as pessoas que dizem barbaridades como estas, caramba! o que os olhos não vêem o coração não sente, serão cegas todas as pessoas que assistem a touradas? Ou têm sangue frio? Este post não é sobre touradas, temo um dia fazer um post sob touradas. Não temo a coação dos comentadores, não, já disse que não na polémica na zona dos comentários num post mais abaixo, temo ter um avc, só isso. Vou respirar fundo, fechar parêntesis a ver se acabo o post do circo).
Este post era mais fácil se eu não gostasse do circo, ou se o circo não tivesse animais, porque o homem não devia rir, nem aplaudir, nem amestrar, quem sabe se nem mesmo ficar ali, a observar, a estudar, a maior parte das vezes sem nenhum interesse científico, por curiosidade, um ser que não é da sua espécie.


P.S.: A 22 de Dezembro do ano passado, a associação ANIMAL protestava à frente do circo Cardinalli contra as condições dos animais nos circos. O circo Cardinalli rejeitou as críticas, negou a existência de maus tratos e pareceu-me a propósito deixar aqui esta notícia da agência Lusa:


"Onze membros da associação ANIMAL começaram a protestar hoje pelas 20:00 horas, junto do Circo Cardinali. A acção, que se prolongará durante a transmissão em directo do espectáculo de
circo Victor Hugo Cardinali por um canal privado, consiste na distribuição de
panfletos e na exposição de cartazes e alertas sobre o "que os animais passam
diariamente nos circos".
Os manifestantes querem ainda que o Parlamento, como
aconteceu em alguns Estados e municípios brasileiros ou em autarquias
espanholas, proíba a manutenção e uso de animais em circos no Código de
Protecção dos Animais.
No centro das críticas está a "exploração e
ridicularização dos animais num espectáculo, que lhes diminui a dignidade, assim
como os treinos violentos a que são sujeitos". "Estão fechados em jaulas e
sujeitos a problemas emocionais e psicológicos", acusou o presidente do
organismo, Miguel Moutinho.
Pela parte da família Cardinalli foi garantido
que os animais naquele circo são "tratados melhor que algumas pessoas" e lembrou
que há muitos cães e gatos "fechados" em casa.
"Os nossos animais são melhor
tratados que muitos seres humanos ou pessoas que estão na rua e que até têm
família. E estes animais iriam morrer se fossem libertados na selva porque
nasceram e sempre foram tratados em cativeiro", disse Filomena Cardinali à
Agência Lusa.
Em resposta, a associação ANIMAL garante que animais como
leões-marinhos adaptam-se rapidamente ao meio natural e para outras espécies há
santuários.
"Sem querer adoptar um tom arrogante", Filomena Cardinali
afirmou que "nada tem a falar com a ANIMAL", mas que os críticos "são bem-vindos
dentro do perímetro de lei para manifestar as suas opiniões, como qualquer
pessoa".
"Eu não tenho nada para falar com a ANIMAL, que já mostrou imagens
de circos que não são do Victor Hugo, mas que as identifica como tal. Eu poderia
conversar se houvesse algo para nos ensinar ou para trazer algo de melhor e
inovador nos cuidados a ter com os nossos animais", acrescentou.
A estas acusações Miguel Moutinho assegurou que o próprio Victor Hugo Cardinali admitiu
publicamente bater nos animais, tornando-se assim num "confesso abusador dessas
condições".
A porta-voz da família Cardinali recordou, por seu lado, que em
acções passadas as pessoas que assistiram ao espectáculo de circo manifestaram o
seu "apoio e gosto" por verem animais. "Os dois pontos de vista são igualmente
válidos e respeitáveis", argumentou.
No circo Cardinalli os "animais são muito bem tratados, como provam as inspecções feitas", disse a mesma fonte,
exemplificando como cuidados habituais o uso do mesmo fornecedor de feno ou de
máquinas de jacto de água quente para lavagem e a recusa de acções publicitárias
que afectem os animais.
Para a ANIMAL, as inspecções recentemente feitas pela
GNR cingiram-se à consulta de documentos que provem o respeito pela Convenção
Internacional sobre Espécies Ameaçadas.
"Os guardas não têm condições técnicas para avaliar problemas emocionais", defendeu.
Filomena Cardinali aproveitou ainda para referir que a ANIMAL tem repetido nos últimos anos a sua manifestação "exactamente no dia em que o espectáculo de circo está a ser
transmitido por um canal de televisão".
Para a ANIMAL, a escolha do dia de
hoje é "simbólico para fazer críticas a todos os circos e porque um canal de
televisão tomou partido numa discussão actual.
Como antecipadamente combinado, o movimento de defesa dos direitos dos animais aguardou pela chegada
de alguns elementos policiais para começar a sua acção de protesto, "por
quererem ver assegurada a sua segurança".
"Já fomos agredidos frente ao
circo Atlas, ao mesmo tempo que dois agentes policiais. E em 2006 um domador
libertou um urso pardo, que apesar de ser uma vítima destas situações, não deixa
de ser perigoso. E por isso não queremos correr riscos desnecessários numa
situação de conflito potencial", lembrou o presidente da associação.
No próximo fim-de-semana, os manifestantes têm agendadas mais acções de
protesto.

PL. © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A."

7.12.08

O Super-herói

Ontem quando o circo acabou estava para ali tudo embrulhado para sair, eu e o meu filho Miguel pela mão lá íamos pedindo com licença e desbravando caminho num corredor com cuidado para não pisar ninguém, às tantas o Miguel pôs a mãozita no colo de um senhor que tinha umas próteses no lugar das pernas e eu num repente pensei assim: o Miguel vai achar muito estranho. Ele olhou para mim e antes que me perguntasse porque é que as pernas do senhor eram tão rijas eu sorri (o senhor também sorriu e devo dizer era um rapaz da minha idade e tinha um sorriso de cair para o lado) disse-lhe assim: - É um super-herói, filho, pede com licença.
E o Miguel pediu com licença ao super-herói (não é todos os dias que pedimos com licença a um super herói!) e lá avançamos mais duas ou três cadeiras até à saída.
- Ó mãe, o sinhôi éa mesmo um supé-heói?
- Era filho, era mesmo um super-herói, de verdade.

Mar salgado

Todos os dias ou noites os pescadores enfrentam o mar, nem todos os dias ou noites enfrentam o Adamastor, mas ele vive no mar, está lá eminente e às vezes levanta-se. Todos os dias e noites a partida é uma coisa certa, se voltam ou não ninguém sabe. Uma mulher estava à pouco a dizer na televisão: "O meu sogro é pescador, os meus irmãos, o meu marido... filhos só tenho mulheres, graças a Deus só nasceram raparigas."
Eu não sei como se faz (todas as lágrimas sabem a sal), gostava de prestar homenagem a todas as pessoas cujas lágrimas sabem deveras a sal, só não sei como se faz.
Do naufrágio de uma embarcação com bandeira portuguesa no mar
Cantábrico, ao largo da Galiza no norte de Espanha, morreram três pescadores
(estão ainda desaparecidos quadro pescadores Indonésios e um pescador
Português).

5.12.08

Devia era ser Carnaval

Devia era ser quase carnaval. Isso é que era! Comprava uma dúzia d' ovos (duas, duas dúzias d'ovos porque uma pessoa em começando...) e atirava um ovo ao ministro Manuel Pinho se ele não resolvesse o problema aos mineiros de Aljustrel, atirava outro ovo ao Eng.º Sócrates para ele aprender que não se devem dar subsídios a malandros nem ajuda financeira às empresas com offshores, atirava um ovo ao ministro das pescas (dois, ou mais! que eu com este ministro, caneco, não poupava ovos), atirava um à ministra da educação (que já não posso ouvir falar na avaliação dos professores), atirava-lhe com outro ovo pelos professores e por aí a fora até haverem ministros e eu coisas contra eles. E quando se me acabassem os ovos ia comprar mais. São 3 dias. O carnaval são 3 dias não é?

Feliz natal ou, o post herege

Vêm aí:
1. os ésseémeésses de boas-festas
2. as músicas ambiente de natal,
3. os pinheirinhos verdadeiros,
(os pinheirinhos verdadeiros no lixo, que há dem vir depois),
4. as fotos com o senhor vestido de pai natal
5. os pais natal de plástico que trepam pelas paredes dos prédios
6. os peditórios para a unicef, para a caritas, para os bombeiros, para a liga portuguesa contra o cancro, para a ceia de natal dos sem-abrigo, para a associação dos pintores com a boca e os pés, para as associações que pedem dinheiro, livros, brinquedos e roupas para as crianças, para as cremesses, para a AMI, para a missão sorriso do hipermercado continente e a popota do modelo, ...
7. a maior árvore de natal da europa
8. as rabanadas e o bacalhau com couves
9. o natal dos hospitais com todos aqueles maravilhosos artistas,
dez, onze, doze, ... vêm aí todas estas coisas detestáveis de rajada e eu sem ter onde me esconder porque é natal por todo o lado, todos os anos em Dezembro é natal por todo o lado. Este post (herege) é para dizer que sou sensível todo o ano e uma pedra no natal, para mais, iberno. Não vale a pena, não insistam, tenho o oreinabarriga@gmail.com cheio de caixas de esmola e não vou dar para nenhuma, não se dêem ao trabalho de comentar o quanto sou egoísta e venho para aqui dizer despautérios (até porque eu vou fechar o post aos comentários) e se apanho alguma exclamação no livro de exclamações deste blogue do género: É no natal que as pessoas se sentem mais sós, é no natal que têm mais frio, é no natal que precisam mais de ajuda ficam já a saber a resposta:
É o tanas.
Disse-me uma vez um sem-abrigo: "É o tanas. É solidão todo o ano e estarmos sós é um frio de cortar à faca." Disse-me ele, isto para aí em Junho.
Há quem nunca tenha contribuído para a sopa dos pobres nem em Janeiro, nem em Fevereiro, nem em Abril nem em Agosto, nem no subsidio de férias, nem quando fazem anos, nem nunca tenha deixado um cobertor novo numa esquina ou na escada dum prédio e depois eram capazes de vir para aqui comentar que é no natal que as pessoas se sentem mais sós, é no natal que têm mais frio, é no natal que precisam mais de aju... Não é que eu tenha alguma coisa contra essas pessoas, não, se fossem todos como eu... eu já me pus a imaginar: e se fossem todos como eu? não bastava haverem crianças no mundo com fome o ano inteiro, pessoas a necessitarem de ajuda médica e vacinas o ano inteiro, pessoas com necessidades especiais o ano inteiro, sem-abrigo o ano inteiro como ainda haverem no natal.
Reservo-me apenas ao direito de ignorar durante 2 dias por ano as crianças que não têm brinquedos (quero lá saber que não tenham, dia 25 já têm e vão aparecer na televisão), que têm frio (quero lá saber), os sem abrigo que passam fome (passam fome todo o ano, quero lá saber, ao menos no natal sei que ceiam que se fartam e tiram a barriga de misérias). 2 dias (eu depois do natal volto a ser uma rapariga sensível). 2 dias para encher de presentes os meus amigos, para me encher de presentes, para encher de presentes a minha família toda (toda, toda não, quase toda, ficam de fora os que passam dificuldades) e para as pessoas boazinhas24e25dodoze e para as pessoas solidárias24e25dodoze e já agora, para todas as pessoas que se vestem de pai natal no natal e puseram pais natal de plástico a trepar pelas paredes do meu prédio, os meus votos de Feliz natal está bem?

3.12.08

Um foguetão

- Que queres que a mamã te dê de prenda de Natal
filhinho?

- Um foguetão!
- Um foguetão?

- Xim! Óia mãe, o foguetão maió que houvé lá na loja, está bãi?

2.12.08

O medo

O medo de passar por isso. Ter fome. Numa altura de crise aguda, os Portugueses deram num fim de semana quase 2 mil toneladas de alimentos ao banco alimentar contra a fome. É talvez o primeiro dos medos: a fome, o instinto da sobrevivência. Podemos viver sem carros sem sapatos, sem alimentos não.

O meu filho deu um pacotinho de leite com chocolate e ontem vimos a montanha na televisão e não vimos o pacotinho de leite mas sabemos que estava lá. É preciso dar. É preciso dar mais, beijar mais, gostar mais. A união faz a força, pouco a pouco faz-se muito se formos muitos, faz-se uma montanha.

Já da campanha, não gostei lá muito,
Tem por bom não apelar à lágrima, não mostrar a miséria que provoca uma comiseração por vezes desnecessária, que depois se apega a uma ausência de dignidade que não é justa, mas que seja considerado herói, nem que por um dia, alguém que contribui para o BA não me parece merecido, heróis são os que se sacrificam, dar comida só custa quando por ventura damos o único bocado de pão que nos sobrava. Mas não há nada de mal (até me fez sorrir), percebo a mensagem e o que interessa é que... passou.