oreinabarriga

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7.2.07

Referendo sobre a Despenalização do Aborto


Este Domingo vou votar no...

... Apesar da minha primeira gravidez ter sido um descuido da minha parte pois
andava a tomar a pílula e medicamentos para a gripe, ou seja, não estava para aí virada, apesar da PC Gás estar na altura a ir à falência, depressa superei todas essas contrariedades porque estar grávida é absolutamente maravilhoso!
Não julgo as mulheres que abortam. A mulher sofre para ter os seus filhos, a mulher tem menstruação, a mulher é que os traz na barriga durante toda a gravidez e seus receios, a mulher é que quando tem que ser se sujeita a um aborto, é justo condená-la? Mandá-la para a prisão? É? Pois não é, definitivamente. (Excluo sempre as que fazem abortos sucessivos, essas mulheres para mim não merecem entrar neste debate da despenalização do aborto, mas noutro debate qualquer, para o qual nem me ocorre um nome minimamente digno.)
O Ricardo deu pulos de contente no instante em que
o teste caseiro deu positivo, apoiou-me como só um verdadeiro homem o faz! Eu chorei bastante, depois já ria de alegria,
estou a alongar-me com esta história para chegar à altura em que fui fazer a primeira eco e não se via nada. NADA. O filho
que eu esperava era um vazio. Foi o vazio maior de toda a minha vida, (eu compreendo bem a dor de fazer um aborto, de perder um "filho", porque no fundo é um filho que se perde, eu senti naquela hora, as mulheres que abortam, sentem provavelmente quando acordam, essa perda, embora a mim tenha sido uma injustiça o que aconteceu, porque eu desejava o meu filho, penso que algumas mulheres sentem a mesma dor ou algo muito semelhante)
Na maternidade descobrimos que o embrião tinha morrido às 7 semanas de gestação.
O embrião ficou retido no útero, eu fui mandada
para casa uma e outra vez sempre na esperança (minha e do médico) que o organismo o expulsa-se. O excelente médico (e excelente ser humano que me assistiu) achava a raspagem do útero (prática do aborto voluntário) uma violência para a mulher a evitar a todo o custo (sobretudo para mim, primeira gravidez, relativamente jovem), mas não havia maneira de a natureza nos ajudar, de modo que à terceira vez o médico receitou-me então o CITOTEC de que tanto se fala na televisão que eu apliquei para provocar o
aborto. (Para provocar o aborto aplicam-se os comprimidos, não se tomam com água, introduzem-se à entrada da vagina).
O Dr. R. disse-me que a única maneira de saber a causa da morte do
embrião seria o exame histológico, mas para isso, eu teria que conseguir
guardar o embrião logo que ele fosse expulso, tinha que ter muita coragem para "aparar aquele passarinho nas mãos" e eu respondi que teria essa coragem, que preferia assim que mandar o passarinho fora como se fosse um “aquilo”, mandar “aquilo” fora...
A melhor maneira que encontrei para expressar o meu SIM, foi contar esta minha história.
Assim, aconteceu um “mini-parto”, rompeu-se o rolhão mucoso, comecei a ter contracções fortes (aquele medicamento dá umas contracções horríveis) e então saíu aquele 'passarinho' tal como havia o médico descrito. Com 7 semanas é semelhante a um passarinho ou ratinho que cabe na concha da palma da mão, tem olhos pretos do tamanho de cabeças de alfinete, tem a pele transparente e só não sei dizer se é visível o coração e outros órgãos (que já os tem em formação) porque está envolto em sangue e as minhas mãos e os meus olhos e o meu coração tremiam demais. Sabem que achei grande? Sabem que pensei: Meu Deus, é tão perfeitinho, como é que alguém pode fazer mal a uma coisinha destas? Pensava também que fosse uma bola de sangue, uma coisa do tamanho de um feijão, mas é algo mais, é o que descrevo, friamente, mas de lágrimas nos olhos.
Não me venham dizer que aquilo sofre, não é por aí, um embrião não tem sentimentos, sentimentos tem a mãe! E o feto. E não se sabe mesmo assim, ao certo, a partir de que semana de gestação, é preciso ter sistema nervoso, capacidade de registar/ memorizar a dor para sofrer, estarei certa? Acredito que sim. Eu perguntei ao médico, depois de feita a histologia, se o meu embrião tinha sofrido e ele respondeu que o coração parou e por isso não houve tempo para qualquer reacção mas que se tivesse ocorrido asfixia por exemplo, sim, “…teria-se debatido à sua medida, instintivamente, talvez, era um ser vivo, aqui não temos dúvidas".
Acho coerente o prazo das 10 semanas. Algum prazo tinham “eles” que estipular não é verdade? Não discutam por favor mais vez nenhuma se ao 11º dia já não se pode, se à meia-noite do décimo dia já não é legal, não sejam ridículos(as) algum prazo tinha que ser estipulado bolas!
Eu sou contra a interrupção voluntária da gravidez. Eu nunca faria um aborto que estivesse fora das condições previstas na Lei actual, mas a pergunta do referendo, o texto que vai aparecer no boletim de voto, no próximo Domingo vai ser: «Concorda com a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, se realizada, por opção da mulher nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?» Não me vão perguntar se concordo com a interrupção voluntária da gravidez. As minhas dúvidas não são o sim ou o não, porque para mim é SIM e pronto. As minhas dúvidas são outras. As mulheres não continuarão a fazer abortos clandestinos por terem vergonha de ficar "fichadas" como dizem os brasileiros e agora não me ocorre melhor termo? O que farão as “tias” e as filhas das “tias” das revistas cor-de-rosa? Abortos no Amadora Sintra? E as mulheres que acham que não podem contar a ninguém que estão grávidas? Outra dúvida: Será que os Hospitais conseguirão cumprir o prazo das 10 semanas? Não irá acontecer a uma centena de grávidas querer abortar às 5 e só passados 30 dias poder ser atendida? Terão os hospitais Portugueses condições, as tais dignas condições que os apologistas do SIM tanto apregoam? Huuummm

Mas não vale a pena pensar assim, para já, um passo de cada vez.
Há que mudar as mentalidades e vamos a isso, a oportunidade que nos dão de votar neste referendo é de suma importância. Estivemos muito tempo calados(as) à sombra de uma Lei tão estúpida, tão estúpida que em tantos anos só meia dúzia de casos foram julgados e de certeza devem ter sido aqueles que a justiça não pode mesmo fechar os olhos de maneira nenhuma, fechar os olhos não se diz não é? É prescrever. Pres-cre-ver.
Condenem mas é os pedófilos! As mães e os pais que maltratam os seus filhos e abusam deles sexualmente, laboralmente, as mães e os pais que matam os seus próprios filhos com 2, 3, 4, 5 anos! Matem-nos a eles também, esfolem-nos em praça pública a ver se eu me ralo, as mulheres que abortam é que não!

Não concordo com a clandestinidade, com aquilo que não é possível contabilizar, com mercados e serviços paralelos. Não ando com os olhos vendados. Não há meias verdades. A realidade é sempre só uma.
Não gosto de chulos, mas das prostitutas sou capaz de gostar. Os toxicodependentes, os drogados, (eu gosto mais da palavra drogados) comovem-me, quase sempre, os barões da droga revoltam-me, metem-me nojo! Que sejam eles os condenados!
O SIM é uma bofetada naqueles que cobram por um aborto clandestino o preço de um parto numa clínica de luxo.
O SIM é retirar o aborto da competência da Justiça e levá-lo para a competência da Saúde que é onde ele deve ser discutido.

E se ganhar o Não, meu Deus, se ganhar o não (e num país agarrado a uma religião ainda obscura e sem querer ofender aqui os que a praticam e distribuem com fé e dignidade, demagoga e hipócrita, que está constantemente a apregoar a defesa da vida e a levantar a bandeira do NÃO mas pratica-se o mesmo crime que condenam dentro da sua própria comunidade, o crime do Padre Amaro, porque o problema existe!, num país povoado de gente cheia de falsos pudores e portanto, não ficava admirada) então nesse caso, façam o favor de condenar os homens que praticam o aborto, sim, que praticam o aborto, repito, porque se a mulher é que faz a raspagem do útero muitos são os homens que o provocam. E nunca se fala disso!
Tomara eu que nenhuma mulher mais desmancha-se o seu filho, quebra-se o milagre da vida, mas tomara eu mais ainda, que nenhuma mulher tivesse um filho para logo de seguida o atirar para uma lixeira, dentro de um saco de plástico... sabendo que ele vai sofrer horrores até morrer. (Este último parágrafo foi escrito a pensar naqueles que gostam de julgar e condenar os outros. É só para dizer que têm muito por onde pegar e se a prática do aborto os choca, meus amigos, eu já vou mais adiante.)

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