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9.12.08

Circo





(Circo Vitor Hugo Cardinalli, Lisboa 6-12-2008 fotos captadas por carmina burana)

Eu gosto do circo. Dos animais, dos trapezistas, do domador de leões e dos palhaços. Da arena, do vermelho, das gargalhadas das crianças, da magia do circo. Mas é um dilema. Gostar do circo é um permanente conflito interior.
Só vejo circo em Portugal (tenho uma certa simpatia pelo circo Cardinalli), e assistiria ao de Monte Carlo, claro, em outros lugares do mundo temo que os animais ainda sejam explorados pelo homem, vitimas de maus tratos. Quando era pequena o circo eram apenas os leões, os elefantes e os póneis, os trapezistas, o domador de leões, os palhaços, a arena, o vermelho, as gargalhadas das outras crianças e a magia! O resto era uma memória indefinida (incerta, desfocada), de animais magriços e com um ar doente. Mas o que constituía já um conflito interior. Passava o ano inteiro sem saber dizer se gostava realmente do circo e chegava o natal deixava-me ir na magia do circo. A minha primeira desilusão com contornos definidos foi a primeira vez que vi um palhaço desmaquilhar-se (desfazer-se em homem) fiquei inconsolável. Apagou-se a gargalhada com um algodão macio, apagou-se do espelho sem se despedir de ninguém, a porta do camarim fechou-se e trancou-se. Não havia palhaços de verdade, eu é que achava que sim, eram todos homens por dentro afinal, e isso, nada tinha de engraçado. Além do mais, apagou-se a gargalhada com um pano macio e o homem tinha uma cara tremendamente séria. Decidi que já não gostava de palhaços. E durante o ano não gostei de palhaços mas quando veio o natal seguinte e fui ao circo, como todas as crianças, como todas as meninas, fiquei à espera dos palhaços.
Eu gosto do circo. Dos animais, dos trapezistas, do domador de leões e dos palhaços, da aren... Mas não gosto que se treinem animais para fazerem habilidades. Odeio ver cachorrinhos e focas amestrados por domadores do circo a dançar, com bolas e baquetas penduradas no nariz ou até mesmo vestidos ou com plumas (as focas treinadas por tratadores nos zoo's por exemplo já não me chocam, estão num habitat natural e adoram brincar), só me fascinam os leões a saltar por dentro de uma roda de fogo, porque todos os animais temem o fogo, um domador conseguir que um leão domine esse medo maior, é admirável e o leão não está a fazer nenhuma figura miserável, muito pelo contrário. Depois há no circo não só a magia, os artistas (gosto de artistas) como aquele espírito, nómada e de sacrifício. Os artistas do circo vivem com os animais, com as máscaras e os adereços e a tenta do circo às costas, são uma família e na arena, os palhaços é que montam a rede aos trapezistas e os trapezistas depois do trapézio são os senhores e as senhoras que vendem as pipocas.
Gosto do circo. Era mais fácil se não gostasse do circo. Os animais já não são magriços nem têm um ar doente, como tinham na minha infância, agora são fortes, sãos e parecem gostar de estar ali, com aquela família. O circo já não é o que era. O Jardim Zoológico já não é o que era. Hoje há quem queira saber se os animais são explorados pelos humanos, escravizados e vitimas de maus tratos. Hoje é mais fácil gostar do circo. Mas esta coisa do homem ser uma plateia e o animal um espetáculo... um espetáculo por vezes ridículo, nada dignificante (nem para o homem), humilhante e sádico (humilhante e sádico foi a pensar nas touradas, como é possível o ser humano jubilar com o sofrimento de um animal? Aplaudir um outro ser humano que pendurado na altivez de um cavalo - que também sofre, crava bandarilhas que são uma farpas que vistas de perto, ou tendo uma na mão, são aterradoras, aquilo tem aqueles enfeites coloridos mas a ponta de ferro, um ferro grosso que no fim dá uma volta, fica um V, é assustadora, é arrepiante! no dorso de um touro? O touro, tal como nós e os outros mamíferos, tem sistema nervoso central, sente medo, tem ansiedade, sofre. As touradas rebentam com os nervos e os músculos daqueles animais, é sangue por todo o lado e ainda há quem afirme que o touro não sofre, que lhe é quase indiferente e até há gente que defende que o touro gosta e eu já abri parêntesis lá atrás, não posso abrir mais um parêntesis dentro de parêntesis para espetar aqui com todos os nomes que classificam as pessoas que dizem barbaridades como estas, caramba! o que os olhos não vêem o coração não sente, serão cegas todas as pessoas que assistem a touradas? Ou têm sangue frio? Este post não é sobre touradas, temo um dia fazer um post sob touradas. Não temo a coação dos comentadores, não, já disse que não na polémica na zona dos comentários num post mais abaixo, temo ter um avc, só isso. Vou respirar fundo, fechar parêntesis a ver se acabo o post do circo).
Este post era mais fácil se eu não gostasse do circo, ou se o circo não tivesse animais, porque o homem não devia rir, nem aplaudir, nem amestrar, quem sabe se nem mesmo ficar ali, a observar, a estudar, a maior parte das vezes sem nenhum interesse científico, por curiosidade, um ser que não é da sua espécie.


P.S.: A 22 de Dezembro do ano passado, a associação ANIMAL protestava à frente do circo Cardinalli contra as condições dos animais nos circos. O circo Cardinalli rejeitou as críticas, negou a existência de maus tratos e pareceu-me a propósito deixar aqui esta notícia da agência Lusa:


"Onze membros da associação ANIMAL começaram a protestar hoje pelas 20:00 horas, junto do Circo Cardinali. A acção, que se prolongará durante a transmissão em directo do espectáculo de
circo Victor Hugo Cardinali por um canal privado, consiste na distribuição de
panfletos e na exposição de cartazes e alertas sobre o "que os animais passam
diariamente nos circos".
Os manifestantes querem ainda que o Parlamento, como
aconteceu em alguns Estados e municípios brasileiros ou em autarquias
espanholas, proíba a manutenção e uso de animais em circos no Código de
Protecção dos Animais.
No centro das críticas está a "exploração e
ridicularização dos animais num espectáculo, que lhes diminui a dignidade, assim
como os treinos violentos a que são sujeitos". "Estão fechados em jaulas e
sujeitos a problemas emocionais e psicológicos", acusou o presidente do
organismo, Miguel Moutinho.
Pela parte da família Cardinalli foi garantido
que os animais naquele circo são "tratados melhor que algumas pessoas" e lembrou
que há muitos cães e gatos "fechados" em casa.
"Os nossos animais são melhor
tratados que muitos seres humanos ou pessoas que estão na rua e que até têm
família. E estes animais iriam morrer se fossem libertados na selva porque
nasceram e sempre foram tratados em cativeiro", disse Filomena Cardinali à
Agência Lusa.
Em resposta, a associação ANIMAL garante que animais como
leões-marinhos adaptam-se rapidamente ao meio natural e para outras espécies há
santuários.
"Sem querer adoptar um tom arrogante", Filomena Cardinali
afirmou que "nada tem a falar com a ANIMAL", mas que os críticos "são bem-vindos
dentro do perímetro de lei para manifestar as suas opiniões, como qualquer
pessoa".
"Eu não tenho nada para falar com a ANIMAL, que já mostrou imagens
de circos que não são do Victor Hugo, mas que as identifica como tal. Eu poderia
conversar se houvesse algo para nos ensinar ou para trazer algo de melhor e
inovador nos cuidados a ter com os nossos animais", acrescentou.
A estas acusações Miguel Moutinho assegurou que o próprio Victor Hugo Cardinali admitiu
publicamente bater nos animais, tornando-se assim num "confesso abusador dessas
condições".
A porta-voz da família Cardinali recordou, por seu lado, que em
acções passadas as pessoas que assistiram ao espectáculo de circo manifestaram o
seu "apoio e gosto" por verem animais. "Os dois pontos de vista são igualmente
válidos e respeitáveis", argumentou.
No circo Cardinalli os "animais são muito bem tratados, como provam as inspecções feitas", disse a mesma fonte,
exemplificando como cuidados habituais o uso do mesmo fornecedor de feno ou de
máquinas de jacto de água quente para lavagem e a recusa de acções publicitárias
que afectem os animais.
Para a ANIMAL, as inspecções recentemente feitas pela
GNR cingiram-se à consulta de documentos que provem o respeito pela Convenção
Internacional sobre Espécies Ameaçadas.
"Os guardas não têm condições técnicas para avaliar problemas emocionais", defendeu.
Filomena Cardinali aproveitou ainda para referir que a ANIMAL tem repetido nos últimos anos a sua manifestação "exactamente no dia em que o espectáculo de circo está a ser
transmitido por um canal de televisão".
Para a ANIMAL, a escolha do dia de
hoje é "simbólico para fazer críticas a todos os circos e porque um canal de
televisão tomou partido numa discussão actual.
Como antecipadamente combinado, o movimento de defesa dos direitos dos animais aguardou pela chegada
de alguns elementos policiais para começar a sua acção de protesto, "por
quererem ver assegurada a sua segurança".
"Já fomos agredidos frente ao
circo Atlas, ao mesmo tempo que dois agentes policiais. E em 2006 um domador
libertou um urso pardo, que apesar de ser uma vítima destas situações, não deixa
de ser perigoso. E por isso não queremos correr riscos desnecessários numa
situação de conflito potencial", lembrou o presidente da associação.
No próximo fim-de-semana, os manifestantes têm agendadas mais acções de
protesto.

PL. © 2007 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A."

16 comentários:

Becas disse...

Era mais fácil se eu não gostasse de tudo quanto escreves...
Deixa lá o dilema miuda, gostas do circo, não há mal nenhum nisso. Há pessoas que gostam de animais e têm-nos presos por uma trela no quintal, fechados em apartamentos ou dentro de gaiolas. Para que lhes obedeçam, ou cedam aos seus caprichos treinam-nos com violência. Alguns são abandonanos sem nunca terem vivido de outra forma que não em cativeiro, ou morrem à fome ou à sede por esquecimento dos donos e por aí a fora.

Becas disse...

Ao menos o circo é dos poucos lugares do mundo onde os animais chegam a velhos, morrem de velhice sem serem abandonados e irem para abate quando já não dão espectáculo.

Gema disse...

Bastava que as pessoas não fossem aos circos que têm como atração animais amestrados, sobretudo, animais selvagens amestrados. E vivam os trapezistas, os contorcionistas, os malabaristas e os palhaços!
Gostava muito de ver aqui um comentário da Débora que como sabem é artista numa companhia de circo onde as atracções são todas da espécie humana e é um espectáculo deslumbrante.
O teu texto é belissimo, mas eu, não querendo ser fundamentalista, não sou espectadora de circo e mantenho a minha. As tradições como o circo "de feras amestradas" e as touradas então nem se fala! têm que acabar, urgentemente.

MiudaCute disse...

O que é que achas de “o próprio Victor Hugo Cardinali ter admitido
publicamente que bate nos animais” ?
Esta pergunta é só para te chatear, para aumentar o teu dilema (hoje estou a dar uma de rainha reles)

Carmina Burana disse...

Pois bate, bate nos leões. Há pessoas que batem nos cães (o Becas já falou nisso), nos filhos… ele bate em animais que são de tamanho maior que ele e se for preciso comem-no.
Sei que é impossível domar um animal selvagem sem lhe provocar medo ou dor e sei que isso é tudo errado “domar”, “provocar medo”, “dor”... Não Miúda Cute, não acho bem.

Carmina Burana disse...

Ema: Tu sabes que eu já assisti a ensaios e projectos em que a companhia de circo da Débora

(http://www.elcircodelmundo.com/)

participou cá em Portugal, já vi alguns vídeos dela, mas nunca assisti a um espetáculo do El circo del mundo, nunca calhou, adoraria, mas nunca calhou, adoraria que ela comentasse aqui mas se ela sabe que eu fui ao Cardinalli, nunca fui a um circo dela e fui ao Cardinalli, sou uma rapariga morta.

Becas disse...

Não podemos chamar cobarde ao Vitor Hugo Cardinalli, não podemos chamar-lhe valente por bater em leões, em tigres, em elefantes, mas também não podemos propriamente chamar-lhe um cobarde. Aquilo não são gatinhos...
Ter assumido isso à "animal" também foi preciso ter t+++tes, é uma associação fundamentalista, e isto de ser fundamentalista é preciso, neste tipo de causas às vezes é preciso, não estou a dizer que fundamentalismo é obrigatóriamente sinal de coisa errada.

Rainha Reles disse...

Tu dominas o McDreamy, fazes dele uma fera amestrada que é uma coisa pela qual a Débora era capaz de matar, ia agora matar-te por nunca teres assistido a um circo dela.

Rainha Reles disse...

Miuda Cute: Não preciso que faças de mim, como vês, estou em perfeitas condições: mais sagaz que nunca!

Carmina Burana disse...

Estou a rir!
Ai domino?
Mas isso é psicológico, e não uso o chicote…

Anónimo disse...

1º que tudo tenho que dizer que gostei mesmo muito deste texto. Eu não sou apreciador nem de circo nem de touradas. Nas touradas é óbvio que sobretudo o touro, sofre quase até à morte e é parte repugnante do espetaculo. Ser morto na arena como acontece em Espanha pode por fim ao sofrimento do animal mais cedo mas é o cumulo do sadismo. Em relação ao circo e é só uma pergunta, nada mais, os domadores de leões e cavalos costumam usar muito o chicote, isso não te “arrepia”?

Carla Boavida disse...

Boa noite!
O circo tem magia sim e é como tudo, há circos onde os animais são mal tratados mas também os há onde os animais são bem tratados, estão longe dos perigos do seu habitat natural, são mais bem alimentados do que se tivessem que lutar pela sobrevivência, vivem mais anos como o Becas já disse aqui porque têm assistência de um veterinário e não vão para abate nem são doados aos Zoo’s porque os tratadores ganham afeição por eles, alguns têm-nos desde pequenos. Muitos circos acolhem animais que teriam um fim muito triste…
Lá em cima a João diz: "Sei que é impossível domar um animal selvagem sem lhe provocar medo ou dor..." o que não é verdade. Para se domesticar uma fera (um leão, um tigre, um elefante) é preciso ter paciência, muita paciência e persistência a cima de tudo e usar a comida como instigador. Se o tratador ou domador usa a violência só está a habilitar-se a que o animal se vire contra ele. Também não é verdade que os animais selvagens vivem em permanente cativeiro nos circos, os circos também se têm modernizado, como os jardins Zoológicos por todo o mundo. Os circos procuram acampamentos com muito espaço para que os animais possam sair das jaulas, dar passeios e apanharem períodos de sol.
As instituições de defesa dos direitos dos animais às vezes recorrem a um certo mediatismo, às gravações de actos cruéis e carnificinas do homem para com outros animais, é uma maneira de chocar e resulta, eles fazem o seu papel, quando os vídeos são fidedignos, mostram a realidade que ainda existe e contribuem fortemente para mudar as mentalidades.
Uma boa maneira de detectarmos se o animal é bem tratado ou não, é observando se tem um ar doente e esquelético (e atenção que muitas vezes são animais já velhos e não têm tão bom aspecto), pela sua relação com o domador também se percebe facilmente se é uma relação de obediência por medo ou por afeição.
Quando diz no post que não deviamos talvez nem "ficar ali, a observar, a estudar, a maior parte das vezes sem nenhum interesse científico, por curiosidade, um ser que não é da sua espécie" não concordo lá muito, devemos observar os animais sim porque aprendemos muito com eles e com os seus comportamentos.
Para ficar mais sossegada muitas das coisas que disse aqui foram conversas que já tive com os meus irmãos ambos veterinários (somos uma família de McDoc's e McVet's!), eles trabalham no Canadá e no Brasil e já cuidaram de animais de circo e são da opinião que há animais que são mais bem tratados em alguns circos do que o são em alguns Zoo's ou Parques.
Há de tudo. As associações e nós, temos que estar atentos. E para estarmos atentos nada melhor que... ir ao circo!
Um beijinho a todos.

Anónimo disse...

Eu não gosto de circo. Ponto. Aborrece-me.
Touradas são um espetáculo medieval e usando uma expressão tua: estou mais à frente.
Post excelente este. Era mais fácil se fosse um post reles que eu assim maldizia que é o que eu gosto de fazer realmente, mas tu és difícil pá.

Carmina Burana disse...

O post era bom era David, não era excelente como dizes, mas era bom, agora, com a magnitude dos comentários que aqui estão, é medíocre. Fiz um post medíocre afinal. Podes maldizer à vontade…

Carmina Burana disse...

Jewel: Estava a ler o teu comentário e quando passei pela frase “Ser morto na arena como acontece em Espanha pode por fim ao sofrimento do animal mais cedo” deu-se aqui uma faísca! Com que então, os aficionados e entendidos da tauromaquia vêm defender que para o touro é indiferente, o touro não sofre aquilo que se pensa, e afinal, por termo à vida do animal ali na arena acaba com o sofrimento dele mais cedo… em que é que ficamos?
Em relação à tua pergunta Jewel, o chicote é mais show que outra coisa (o som do chicote em particular), não quer dizer que os animais levem com o chicote. Não, não me arrepia. Um cavalo por exemplo não poderia levar com o chicote na arena, desatava a fugir ou tinha uma reação bem pior porque são muito diferentes das feras, são extremamente sensíveis, emotivos e apesar de estarem habituados às plateias assustam-se com um movimento mais brusco quanto mais… seria impensável (eu digo que seria impensável) o domador treinar um cavalo a chicote. Dos treinos de cavalos que já assisti, o chicote é um prolongamento do braço do domador, nada mais.

Carmina Burana disse...

Dr.ª Carla: Teve imensa piada a “família dos Mc Doc’s e dos Mc Vet’s”!!
Para quem não percebeu, deverá ler-se família de médicos e de veterinários (foi à Anatomia de Grey).
Apesar de ser médica, não me sinto curada. Adorei o seu comentário, adorei, mas… não me sinto curada. Continuo cá com o dilemazito e acho que a Ema (Gema) é que tem razão. A Ema tem razão e está do lado certo. Não sei é se temos que estar todos do lado certo, sempre.