Hoje o Miguel ficou na escolinha a chorar. Hoje a mamã veio trabalhar com o coração partido. As lágrimas do meu filho não são em forma de birra (as lágrimas em forma de birra não provocam a mesma misericórdia), são lágrimas, são soluços, é o beicinho e um pranto que está por dentro.
- mamã não vás emboa, fica aqui comigo mamã, pô favoe.
- a mamã fica filhinho, a mamã fica mais um bocadinho.
- não! mais um bocadinho não mamã, todo o tempo.
Todo o tempo é muito tempo, as lágrimas fazem parte, todo o tempo é muito tempo porque as mamãs devem saber que esta é aquela parte do crescer, que dói. E tem que acontecer. Faz parte, ou, "não dá para saltar esta parte". Nem os miminhos da Lina, as cócegas, nem o colinho da Prof. Hortense ou as caretas da Prof. Carla, nem os outros meninos a cantarolar desviaram o Miguel do meu pescoço, das minhas mãos, ou das minhas pernas das poucas vezes que consegui ficar de pé.
Quando eu era pequena e tinha que me separar da minha mãe era como se me arrancassem um braço (há dores que nunca se esquecem), e a minha mãe ficava. O tempo que ela podia. Prometi-lhe que ia comprar dois carrinhos novos (o guido e o luigi) e os levaria quando o fosse buscar, mas tudo o que tive foram mais lágrimas.
Fiquei o tempo que pude. Durante esse tempo que lhe dou não sei quem é a criança que protejo. Quando lhe dou mais colo, mais tempo, às vezes não sei se é o meu filho que protejo se é a criança que cresci até ao constragimento de chorar quando tem que se separar da mãe.
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