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.."Nos últimos três anos, mais de 70 crianças que foram
acolhidas por uma família para adopção foram DEVOLVIDAS às
instituições (...)
Alguns motivos fúteis: recentemente, um casal que conseguiu a confiança judicial de três crianças devolveu-as após o primeiro fim-de-semana que passou com elas.
Há quem rejeite as crianças porque
não se dão bem com o cão que a família já tinha, outras porque as famílias
percebem que afinal ter um filho custa muito dinheiro. "
Agência Lusa
"Os casos não são todos iguais, mas alguns chegam mesmo a ser indignos e
revelam, desde logo, a falta de preparação dos candidatos e algum insucesso na
forma como é feita a selecção."
Edmundo Martinho, presidente do Instituto da Segurança Social
"A rejeição deixa estragos difíceis de raparar: Uma criança que passa por várias
rejeições depois de um abandono inicial, sofre estragos ao nível do
desenvolvimento e da auto-estima que dificilmente se conseguem reparar na
totalidade."
Manuel Coutinho, psicólogo clínico e coordenador da linha SOS criança
do Instituto de Apoio à Criança
"Perante uma rejeição numa pré-adopção, explicou, as
instituições têm de dar uma atenção especial para que ela consiga organizar-se
novamente. - É necessário cerzir aquela falha, referiu, acrescentando que
crianças que passam por processos destes sem que houvesse tempo de reparar o
dano, ficam como que cristalizadas do ponto de vista emocional e passam a fingir
afectos."
Idem
..
Há notícias que custam a acreditar. Eu gosto tanto de pessoas... Cada vez mais me criticam por eu gostar tanto de pessoas, "as pessoas são más", "as pessoas são doentias", "desiludem-nos", "as pessoas enganam", "são hipócritas", "as pessoas são egoístas" e eu (ingenuamente?) continuo a gostar tanto de pessoas... As pessoas são inteligentes, aperfeiçoadas, generosas e belas (chamem-me parva), passa-me pela frente uma besta, um ser humano horrível, uma criatura mesquinha, dá-me volta ao estômago, vómitos, passo-me da órbita, mas seguir-se-à a ele um outro ser humano admirável para eu acreditar que as pessoas valerão sempre a pena, eu também gosto muito de animais, mas também gosto muito de pessoas. O que é que merece uma pessoa que cria numa criança abandonada a expectativa de afeto maternal e paternal? A expectativa da adopção? E a envolve física e emocionalmente nesse processo durante meses e anos? E depois a abandona? (Outra vez) Pior: a devolve. Devolve, rejeita, regurgita, vomita (também se aplica o termo vomita). O que é que merece uma pessoa que desenvolve numa criança o sonho de ter alguém que goste dela tal como ela é? A leve para casa, por um período experimental, e depois como faz com uma lâmpada, a vá devolver ao balcão de reclamações e devoluções do hipermercado: Não serve, não corresponde às características que eu esperava de uma lâmpada (HÁ PESSOAS QUE SONHAM COM UMA CRIANÇA COM AS CARACTERÍSTICAS QUE DESEJAM E DEPOIS SE DESILUDEM), é de casquilho grosso, o candeeiro lá de casa é de casquilho fino, e eu não vou agora trocar de candeeiro (HÁ PESSOAS QUE REJEITAM AS CRIANÇAS PORQUE ELAS NÃO SE DERAM BEM COM O CÃO LÁ DE CASA E NÃO VÃO AGORA TROCAR DE CÃO), para além do mais não é uma lâmpada económica (HÁ PESSOAS QUE DEVOLVEM AS CRIANÇAS PORQUE TER UM FILHO CUSTA MUITO DINHEIRO), o que é que merecem estas pessoas? Que castigo? Tratamento psiquiátrico? Não merecem (SEGURAMENTE) que eu goste delas, e eu felizmente gosto tanto de pessoas, mas felizmente também não sou obrigada a gostar delas todas. Nem julgamento nem tratamento psiquiátrico, NÃO há nada a fazer com elas, porque não há organismo nenhum que possa devolver-lhes a alma ao criador.
As instituições de acolhimento têm um balcão de reclamações e devoluções com cerzideiras para cerzir "aquela falha", para costurar de novo o coração daquelas crianças, o criador NÃO, felizmente para ele (CRIADOR), não aceita devoluções.
40 comentários:
Depois disto, venha de lá "o ser humano admirável".
Não sei o que é pior para a criança, se voltar como "objecto devolvido" à instituição que a acolheu se ser vítima da indiferença, da imcompreensão, de maus tratos, no seio de uma familia que chegou à conclusão que não é capaz.
Se não houvesse a hipótese da devolução, a criança era mantida nessa família, e mais tarde ou mais cedo condenada inevitávelmente ao abandono.
Eu vi ontem a reportagem e ainda não estava em mim quando li o teu post.
É mesmo verdade. Que as "pessoas são más", "doentias", nos desiludem, mas também é verdade que já voltaste (das mini-férias), que já estás aqui.
Beijos
Parecendo que não, compensa.
o amor só não basta. os problemas, atritos, sempre existiram entre pais e filhos, sejam eles adotivos ou não, a expetativa (neste caso) criada pelas crianças e defraudada por adultos inconscientes e mal preparados é que é gravíssima e aquela sensação que o ser humano está tão longe, mas tão longe da perfeição.. à primeira dificuldade desiste, desiste do casamento, desiste da adoção, pelos vistos também é capaz de desistir de ter um filho.
um psiquiatra lidará melhor com a monstruosidade do comportamento humano ou com as motivações mais profundas que o levam a corromper de forma tão violenta e hostil o mais elementar direito de uma criança, nós não, somos impedidos logo na primeira tentativa, pelo vómito que nos dá
foi bom o fim de semana? espero que tenhas cumprido religiosamente o crespúsculo da tarde..
o sacrifício da páscoa
Todos. Cumpri todos os sacrifícios da páscoa, e credita que aquele que me custou menos foi não ter comido carne na 6ª f.ª Santa.
eu comi carne (mas já passava da meia-noite)
Á meia-noite em L. Angeles são 4 da tarde em Portugal (crespúsculo da tarde).
não são minha querida, são 08:00AM do dia seguinte (excelente hora para pecar)
Pronto, troquei as horas, sou boa nisso.
as horas, as voltas, és, és boa nisso.
estava aqui a pensar nos sacrifícios todos que fizeste na época pascal (a terra, temperaturas a baixo de zero, sem net, expresso, jornais e revistas do dia, sem barulho, sem a mamã, sem o papá, sem sx.. ah, ah! estou a imaginar)
tanto sacrifício para nada..
Sem copophonia, sem cinema, muito menos teatro, sem gente, sem nx (nexo)...
Tanto sacrifício para nada..
“e eu (ingenuamente?) continuo a gostar tanto de pessoas...”
estava a ler o teu post outra x, há pessoas que valem a pena. há aquelas que já nem o criador aceita a alma, mas há pessoas que valem a pena, vamos acreditar que há pessoas que valem a pena, está bem?
o texto está lindo, inteligente, emocionado, está lá tudo (vou fz o sacrifício de ir embora) bj
"há pessoas que valem a pena" E havemos de repetir isso (10, 20, 1000x), até acharmos que é outra vez verdade não é?
Fins de semana prolongados só vos fazem mal (e o sacrifício também).
Se não fossem 9 da manhã em L.A. (isto se eu não troquei as horas) ainda estavas aqui na palheta. É o que se chama ter dois trabalhos.
As minhas amêndoas?
Ovinhos de chocolate? Não há ovinhos de chocolate? Não há pascoelhinhas na Sertã?
Amêndoas e ovinhos de chocolate fazem-me gostar das pessoas, post's assim fazem-me gostar mais dos animais...
O João Ayres tem razão: é "pelo vómito que nos dá"
Vi o vídeo, li o texto (li o texto 1º, só depois é que vi o vídeo) não consigo dizer nada, achei que era a propósito vir aqui e comentar que: não sou capaz de dizer nada. Não me sai uma palavra (acho que me vai sair outra lágrima).
É incrivel haverem devoluções de crianças, eu (ingenuamente?)não sabia disto.
Imagino que a inventarem um banco de reclamações/ devoluções de filhos biológicos o número aumentasse.
A inventarem um banco de devoluções de filhos biológicos esta seria a conversa de muitos casais: Vamos devolver este e fazer outro. Há 3ª sai-nos o filho perfeito.
(este post teu explica a razão de ue ser um perfeito misantropo)
david
Aqui no Brasil a devolução de crianças é uma coisa recorrente, a uma escala maior também (como maior é o país) por isso, já li muito e ouvi muito sobre o tema, talvez já não devesse emocionar-me, ficar perturbada, mas fico sempre mais.
No brasil (só por curiosidade) há uma outra realidade, que já começa a ser chamada como "adoção brasileira": casais compram o filho quando ainda está na barriga da mãe biológica, pagam as despesas do hospital e costumam oferecer uma quantia depois para melhorar a vida da mãe (ou para colmatar aquele impulso que qualquer mamã tem na ultima hora de querer ficar com o bebé).
A devolução de crianças é uma realidade dolorosa, é um assunto frágil, todo o processo de adopção é frágil, as pessoas adotam de cardápio na mão, querem uma criança branca, pequena, assim assim e depois ainda devolvem? É difícil aceitar, mas tentarmos compreender é meio caminho andado para tratar o problema, assim como se fosse uma ferida: tem que se tocar, para se tratar.
João Ayres meu querido, estavas atrasadinho ou quê? :D
(atrasadinho= saudadinhas)
estava atrasadinho :D
atrasadinho e tu ainda me vieste falar na escolha do perfil da criança (o cardápio como lhe chamas) eu não queria voltar ao tema. vou ser chato e repetitivo (tenho a desculpa de estar atrasadinho). a missão de um pai (eu sou pai) não é satisfazer-se é antes disso, satisfazer as necessidades dos filhos. no caso da adoção há quem se dê ao capricho de escolher a idade, a cor da pele, semelhanças com a consanguinidade, talvez sejam poucos os que adotam em beneficio das crianças. depois ainda devolvem. pais adotivos ou biológicos criam expetativas e sonhos em relação aos filhos mas há que assumir os riscos. diante das dificuldades, de alguma decepção, devolver uma criança é um ato vil, já disse lá em cima, uma pessoa que devolve uma criança só pode ser inconsciente ou estar muito mal preparado, é abominável dar a uma criança uma segunda oportunidade para sofrer do trauma do abandono. apesar da irrevogabilidade da sentença da adoção a devolução de crianças (no tal período experimental) é uma realidade, assumi-la e discuti-la é fundamental, tentar compreender e aceitar também, mas isso tudo eu deixo para a psiquiatria e para os versados. comigo fica a noção que as pessoas que valem a pena custam-nos uma infinidade de pessoas estúpidas
becas: aaah! o sacrifício.. faz-me mal faz (ainda vou morrer disso)
João Ayres: Estás a ficar demasiado intransigente com a idade (rígido, inflexível) :D
Ou estás a comentar em cima de alguma chapa de zinco quente?
Deixam-se arrastar pelas emoções sem no entanto perderem a razão, é típico dos dois (J. Ayres e Carmina b.), ainda para mais, ambos (separadamente), têm o sonho de adotar baseados em critérios completamente diferentes.
Lá no fundo, têm mais vontade de desatar aos impropérios que comentar diplomaticamente contra este tipo de comportamento.
A angelina jolie e o brad pitt não têm este problema, vão adotar mais um e a avaliar pela origem dos pimpolhos são um casal que adopta em beneficio das crianças e não para satisfazer “caprichos” como semelhanças com a consanguinidade , tom de pele, etc..
Para além de lindos...
Ora aí está um casal que adoro!
Para além de lindos, "valem a pena".
Eu e o J. Ayres temos (separadamente, obviamente) o mesmo sonho: adotar uma criança ou um adolescente. É um sonho um tanto longínquo para ambos, por razões diferentes, as minhas: instabilidade financeira, limitações de tempo e de disponibilidade para dedicar a outro filho... e o medo de falhar, e aqui, há entre mim e o João uma razão comum para o adiar do sonho e é aqui também que somos diferentes de muitos pais que desejam adotar: não temos medo que uma criança ou adolescente não esteja à nossa altura, temos medo sim, de não estar à altura dela (e das suas necessidades, e das suas expetativas).
E porque como ele disse: "o amor só não basta". Se bastasse...
Angelina Jolie e Brad Pitt, ora aí está um casal que eu adoro. É admirável a maneira como gerem tanta beleza, tanta fama, tanto amor (filhos biológicos, adotivos) livres de preconceitos. Geralmente os casais de famosos não costumam corresponder “às minhas expetativas"
Ema e RR: Sim, mais vontade de comentar em cima da chapa de zinco quente que outra coisa.
Becas: Pascoelhinhas na Sertã? Não vi. Mas eu também saio pouco de casa.
David: Também me parece que os estou a ouvir.
Jewel: Ingenuamente, por ignorância (falta de conhecimento) eu também não sabia. Fui tolhida pela notícia, entrei em estado de espanto.
Beijinhos a todos
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