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2.7.05

Diário do nascimento de uma mãe I



O meu filho Miguel nasceu no dia 2 de Julho de 2005 (Sábado) às 19:45 H com 2.895 Kg e 48,5 cm’s. Nasceu de parto eutócico (ver Link) na Maternidade do Hospital Fernando Fonseca, na Amadora.
Há quem diga que a dor do parto se esquece…
A verdade é que quanto maior é a dor, maior é o alívio.
A verdade é que a dor maior ainda está para vir, quando os meus pais partirem. E essa permanecerá para sempre.
A dor maior é que nunca mais acaba…
A dor do parto dura o tempo que durar. Umas horas, um dia… sempre seguido do tão desejado nascimento de um filho, bem sei, mas mesmo assim, a dor do parto é uma dor insuportável (eu não conhecia o barulho do meu grito). Achei que ia morrer de dor.
… Porque é que todas as mulheres dizem que a dor do parto se esquece?
Porque é que todas as mulheres dizem que um filho nos braços apaga qualquer dor? Porque é que um filho não há-de ser esperança? Contentamento? Prazer e não dor? Esquecem-se que um filho também sofre para nascer? Em que século julgam que estamos? Já ouviram falar em “Plano Nacional de Luta Contra a Dor?”
É preciso ter coragem para ter um filho. É preciso ter coragem para admitir que ter um filho de parto natural, é horrível!
Se todas as mulheres teimarem em pregar ao mundo que a dor do parto se esquece, nada se fará para que não sofram mais mulheres a terem os seus filhos e não sofram mais bebés para vir ao mundo.
Se todas as mulheres continuarem a aceitar a dor, muitas a vangloriar-se de tal acto, quem esperam que lute por nós? Os homens?!
Eu creio que as mulheres são tolas. Complacentes. Umas heroínas durante o parto e como mães, mas cobardes na defesa dos seus direitos.
Os homens a terem os seus filhos, gritariam mais alto e nunca mais se calariam. E seriam bem mais valentes do que nós, só por isso…
Na sala de dilatação, quando percebi que o meu filho me abria para passar, cuidei por segundos que ele estava também a sofrer para nascer. As contracções eram ininterruptas, impiedosas, senti uma incontrolável vontade de fazer força, a cabeça do meu filho era como se fosse o mundo e eu apenas uma fresta! Esqueci o meu filho, esqueci as aulas da Professora Lola, entrei em desespero e ao longe, uma voz ralhava comigo: “não pense que é por estar a gritar que lá vamos… ainda tem muito que gritar”. Mas não tive. O meu grito não era um disparate. Quando deram por mim, já tinha feito toda a dilatação e tiveram que me levar às pressas pelos corredores para uma sala de partos vazia.
Foi horrível. Mas felizmente, o meu filho nasceu 5 minutos depois.
Já passaram 8 dias, já passaram as dores, não passou a lembrança.
Ainda choro quando me lembro das dores. Ainda choro quando olho para o meu filho de madrugada e recordo tanta angústia… Não sei se é mágoa, se é depressão. O resto é emoção por ter o meu filho, tão pequenino, trémulo e quente como um passarinho dentro dos meus braços fechados, de olhos bem espertos postos em mim a decorar-me. Dou de mamar com uma persistência infinita, um amor desmedido e repito para mim mesma, ainda incrédula, que ele é tão bonito, tão perfeitinho…
O meu filho encheu a nossa casa de novos cheiros, de cores que não havia, das sensações mais nobres. O meu filho é a causa e a recompensa do meu extremo cansaço.
Talvez esteja na altura de eu começar a escrever os nossos dias… sem chorar.

http://pwp.netcabo.pt/0310551301/franco/parton.pdf

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