oreinabarriga

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7.5.10

Carta de uma mãe, enviada a outra mãe, após uma reportagem na TV

"Cara Senhora,
vi o seu enérgico protesto diante das câmaras de televisão
contra a transferência do seu filho, presidiário, das dependências da prisão de
Custóias para outra dependência prisional em Lisboa.
Vi-a a queixar-se da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que
vai passar a ter para o visitar, bem como de outros inconvenientes decorrentes
dessa mesma transferência.
Vi também toda a cobertura que os jornalistas e repórteres deram a este facto, assim como vi que não só você, mas também outras mães na mesma situação, contam com o apoio de Comissões, Órgãos e Entidades de Defesa de Direitos Humanos, etc...

Eu também sou mãe e posso compreender o seu protesto.
Quero com ele fazer coro, porque, como verá, também é enorme a
distância que me separa do meu filho.
A trabalhar e a ganhar pouco, tenho as mesmas dificuldades e despesas para o visitar.
Com muito sacrifício, só o posso fazer aos domingos porque trabalho (inclusive aos sábados) para auxiliar no sustento e educação do resto da família. Se você ainda não percebeu, sou a
mãe daquele jovem que o seu filho matou cruelmente num assalto a uma bomba de
combustível, onde ele, meu filho, trabalhava durante a noite para pagar os
estudos e ajudar a família.

No próximo domingo, enquanto você estiver a abraçar e beijar o seu filho, eu estarei a visitar o meu e a depositar algumas flores na sua humilde campa, num cemitério dos arredores...

Ah! Já me esquecia: Pode ficar tranquila, que o Estado se encarregará de tirar parte do
meu magro salário para custear o sustento do seu filho e, de novo, o colchão que
ele queimou, pela segunda vez, na cadeia onde se encontrava a cumprir pena, por
ser um criminoso.
No cemitério, ou na minha casa, NUNCA apareceu nenhum
representante dessas "Entidades" que tanto a confortam, para me dar uma só
palavra de conforto ou indicar-me quais "os meus direitos".



Embora duvide da veracidade deste texto, o facto de ter sido já reencaminhado milhares de vezes via e-mail também não faz dele uma certeza (pelo contrário, não ajuda nada), mas aqui importa que ao lermos o manifesto ficamos do lado da mãe do filho morto, e aquilo em que não acreditamos, é na boa representação das organizações não governamentais. Ainda estou um bocado embaraçada, já li as linhas desta carta uma o outra vez... este tipo de injustiças (para mim os seres humanos não terem direitos iguais é só por si uma enorme injustiça, os criminosos terem direitos e as vítimas serem condenadas ao esquecimento é uma enorme injustiça, é grave e é uma vergonha) são reais, acontecem mesmo (a carta pode ser uma farsa, mas acontecem mesmo) e deixam-me de rastos.

As ong's criadas para confortar presidiários que cometem delitos graves como este deviam virar-se também para o outro lado e confortar igualmente as vítimas, prestar-lhes cuidados e auxílio, e, sobre a cobertura dada por jornalistas e repórteres ao trabalho destes missionários da consolação, só me ocorre dizer que no mínimo agem de forma cru-el-men-te par-ci-al! Tomam partido do criminoso, quase fazendo parecer que o criminoso é um coitadinho e a mãe do criminoso uma pobre coitada, só falta transmitirem a notícia ao contrário: O rapaz da bomba levou um tiro porque estava a trabalhar nessa noite e impedia de certa forma que o ladrão pudesse cometer o seu assalto.

O criminoso tem sempre uma boa desculpa (perdão ou absolvição) ora são oriundos de bairros problemáticos, com infâncias problemáticas, ora são alcoólicos, agarrados à droga, ora sofrem de distúrbios da saúde mental (psiquiátricos), este sofre de distúrbios da saúde mental, está visto, até ateia fogo ao colchão onde dorme, pena são os ataques de lucidez que lhe dão pelo meio porque já é a 2ª vez que ele está fora da cama quando lhe deita o fogo.

A mãe do marginal vai ver o filho à prisão (que mulher desafortunada, que má sorte a dela). Precisa certamente que lhe paguem as despesas de deslocação porque a prisão de Custóias fica um bocado fora de caminho.

A mãe do rapaz inocente vai ver a campa do filho. O filho dela está morto e portanto bem mais longe que Custóias, o céu fica um bocado fora de caminho...

9 comentários:

Isa disse...

Olá!!! Não deixes de escrever! Seria uma pena! Gosto muito de vir aqui ao teu cantinho... e penso que não devo ser a única! Beijinhos

Gema disse...

Bom dia!
:)

Gema disse...

O original é de uma mãe de São Paulo, no Brasil, o filho dela foi morto num assalto a uma vídeolocadora, o teor da carta é um denominador comum.
Dá que pensar.

Alex disse...

De Custóias ou do interior de S. Paulo, o céu ficará sempre longe.
Um beijo.

MiudaCute disse...

Bom dia mandriona!
A Isa tem razão, toca a escrever!
Não sai um gANda texto, sai um textículo, às moscas é que não.
Há que ter consideração pela clientela.

Carmina Burana disse...

Eu a escriturar sou uma seca eu sei, muito tempo de espera e depois saem uns post's que enfim... admiro-me de ainda ter clientela :)

Carmina Burana disse...

Beijinhos Isa!
Estás comigo o dia todo e ainda me vens para aqui aturar? Ainda tens paciência para o meu lado B?
És sempre tão bem-vinda :)

Isa disse...

Paciência??? É um prazer... posso também não ser tão assidua como gostaria, mas podes crer que venho espreitar muitas vezes! Agora por favor: não páres de escrever! Porque tens um dom!... O dom de nos fazer reparar em coisas pequeninas e no entanto tão significativas, o dom de nos fazer sorrir com o teu sentido de humor sempre tão aguçado... enfim, o dom da escrita! Já para não falar das coisas sempre doces do teu fofinho, que sabe sempre tão bem ler!
Beijinhos também para ti :)

carmina burana disse...

"Agora por favor: não páres de escrever!" fez-me lembrar uma coisa que li sobre gatos In "Dois Verões", um romance de Erik Orsenna:

"... Os gatos são palavras com pêlo. Os gatos, como as palavras, rondam à volta dos humanos sem nunca se deixarem domesticar. É tão difícil meter um gato num cesto quando temos um comboio para apanhar do que ir à nossa memória caçar a palavra exacta e convencê-la a tomar o seu lugar na página em branco.
Palavras e gatos pertencem ambos à raça dos inefáveis."

Expressa bem a minha relação com a escrita, justifica o tempo em que nada sai... nenhuma palavra... Parece fácil, escrever. Mas as palavras são... como gatos.

Um beijo