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21.7.11

Kem tem K

also published in Facebook Maria João Viana



acontecia agora aqui uma reviravolta, recuava mais de vinte anos, umas horas antes das mudanças (mudanças? terão sido as mudanças? sim, foram as mudanças), e resgatava as revistas K todas que tinha (comprava-as religiosamente acabadinhas de sair, quando as comprava de um dia para o outro, ficava com uma dor de cabeça enorme porque as únicas ressacas que me lembro era quando me atrasava um dia ou dois a comprar a revista, que tal como o melhor dos tabacos não se vende em qualquer quiosque ao virar de de uma esquina qualquer, ou era da ressaca ou chegavam mesmo a perguntar-me: “revista quê?!”), depois, como se nada fosse, voltava para aqui outra vez, como quem nunca partiu um fuso horário para ir recuperar coisas (cacos e coisas que devíamos ter tido mais cuidado), o mundo desatava outra vez numa canseira, a dar nas notícias e na rua e eu, voltava a espreguiçar-me aqui, compunha o ângulo, compunha a luz, compunha os óculos e, às revistas K: de-vo-ra-va-as!
ou pensando bem, talvez não.
passaram mais de vinte anos (vinte anos? sim, vinte anos), tenho a base de dados carregada de coisas, base de dados sentimental e tudo, o grafismo da revista era genial! fez-se luz, deu-se uma revolução no jornalismo, na imprensa, a esta hora o miguel esteves cardoso, o vasco pulido valente, a maria filomena mónica, o rui zink, o pedro rolo duarte, a constança cunha e sá, o rui vieira nery, até a agustina bessa-luís ainda esgaravatam e puxam pela cabeça para se conseguirem superar a si próprios, e ultrapassar, não ficarem atrás da linha, da época da escrita mais inquietante da história da nossa… literatura?
tenho a base de dados carregada de coisas, ir agora buscar as K todas, sem garantia nenhuma de recuar vinte anos para ir buscar um caixote de revistas e não arranjar uma quantidade de problemas (dar de caras com o um ex noivo, por exemplo e não resistir à tentação de recuperar umas cenas também e o datsun 1000 do meu pai estacionado à porta do n.º 4 e eu já não voltava para 2011 de cápsula, voltava de datsun), chegava com as revistas e uma data de coisas para explicar (ex noivo e tudo) e nas impressões com mais de vinte anos não se deve mexer. o melhor é deixá-las intactas. os filmes com mais de vinte anos não se devem voltar a ver. perdem o efeito. com as letras é igual (carros e ex noivos idem, se deram há mais de vinte anos não voltam a pegar), recuperava as revistas mas não recuperava a inocência nem o deslumbramento. isso não é possível. as imagens, os textos, as capas que tenho guardadas na memória, era tudo varrido. muito embora aqueles textos sejam literários, tudo aquilo intemporal, a demasiada luz dos nossos dias estraga (cor e tudo às memórias), eram imagens sobre imagens, sobrepostas, substituídas (não é a mesma coisa, vinte anos são vinte anos), pensando bem, não toco no fuso nem no efeito que as minhas memórias ainda produzem.

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