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3.7.05

Diário do nascimento de uma mãe V

“Finalmente o dia seguinte!”

Fiz a cama, lavei-me sem ajuda, o meu problema era não conseguir dar de mamar! Ainda por cima os pontos e a hemorróida só dificultavam a tarefa, todas as posições eram uma tortura!
Todas as enfermeiras que passavam me ajudavam a dar de mamar ao meu filho. Apertavam o meu seio, faziam sair o precioso líquido amarelado. O lema era nunca desistir, tratava-se do “seguro de vida do meu filho”. O pior era que o meu bebé rejeitava o peito de todas as vezes e eu ficava saturada, os rins a doer-me…
Mas apesar de exausta, nunca desisti.

“Que comprido!”

Levei o meu filho para a sala dos banhos, deitado no berço, só com a fralda posta.
Um enfermeiro da Venezuela mediu-lhe a cabecinha (o perímetro cefálico) com uma fita métrica de costura. Media 32 cm’s. Os 49 cm’s de comprimento é que me apanharam de surpresa, até pedi ao enfermeiro para repetir uma vez que esperava os prometidos 41 cm´s das ecografias.
O corpo do bebé é medido com uma régua de pau em forma de Tê. Enquanto o enfermeiro ou o médico esticam as pernas do recém nascido, nós, as mães, temos que ajudar, segurando firmemente a cabeça do bebé. Ora nas ecografias, o feto encontra-se enrolado como um bichinho de contas o que torna apenas possível, uma previsão do seu tamanho.

“O teste de Apgar”

Depois seguiu-se o teste de Apgar. O nome vem do apelido da médica que inventou este conjunto de testes que permitem avaliar numa escala de 0 a 10 o estado do bebé quanto à respiração, ritmo cardíaco, cor, movimento e todos os reflexos com que nascem. Uma pontuação entre 7 e 10 significa que o bebé passou no teste com um “satisfaz”. Se a pontuação for inferior, o bebé é colocado numa incubadora, onde recebe oxigénio e é aspirado. Regra geral, alguns minutos são suficientes.
O meu filho obteve a nota máxima! 9 no primeiro minuto e 10 aos 5 minutos. Não há nada que deixe uma mãe tão feliz que a saúde do seu filho. Que importa as semelhanças com o pai ou com a mãe ou com nenhum dos dois, que importa o tamanho, o peso! Nada importa verdadeiramente. O meu coração só sossega quando alguém formado na matéria me diz que o meu filho está bem.
O meu ser tão pequenino, o meu passarinho, o meu filho Miguel, recém chegado ao mundo e já tão inteligente! Conseguiu aquela manhã, arrancar do enfermeiro da Venezuela a nota máxima e de mim, o meu primeiro sorriso de orelha a orelha!
Boa filho!

“A 1ª banhoca!”

Seguiu-se o banho. A 36 graus. O meu filho pendurado nas mãos de uma enfermeira, às voltas debaixo de uma torneira.
Fui aconselhada a fazer a higiene do meu bebé em casa com uma esponja molhada em água morna e sabão pelo menos até secar e cair o cordão umbilical. Este 1º banho, não é portanto uma necessidade, até porque a gordura da pele do recém-nascido é um escudo contra as infecções e a desidratação, serve apenas de demonstração.
Não fosse o piso da obstetrícia um bocado de um Hospital, não fosse uma mãe sentir-se um farrapo, exausta à beira de um colapso, sem poder sentar-se e usufruir das refeições, sem conseguir dormir, podia bem ser considerada uma estadia num Hotel. Foi impossível armazenar na minha memória debilitada, em frangalhos, o nome dos enfermeiros(as) e auxiliares, eram mais que as mães, eram um batalhão, havia de todas a qualidades e nacionalidades, havia nomes fáceis como Ana, havia nomes difíceis, não consegui decorar nem uns nem outros mas agradeço todos os dias a dedicação, sobretudo a enfermeira grande e preta dos grandes sapatos que finalmente conseguiu por o meu filho a mamar no meu peito e me sossegou a alma ao fazer o teste da glicemia para verificar se o meu bebé tinha fome. “Se tivesse, chorava ininterruptamente”. Este último é talvez o maior de todos os ensinamentos.





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