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9.7.05

Uma semana de vida

O Paulo e a Margarida têm vindo todos os dias em curtas visitas para ver o Miguel e trazem sempre um presente. Eu e o pai, apesar da grande amizade que nos une a todos, chegamos a ficar constrangidos.
Dizer obrigado parece-me pouco.
Os presentes agradecem-se assim, com um simples obrigado, mas e a dedicação? Como é que se agradece a quem ao nosso filho quer tão bem? Como é que eu agradeço à D. Fernanda, mãe da Margarida, que me conhece desde o Verão passado e me trata como uma filha, como se me conhece-se desde sempre?
Às vezes paro para pensar o que fiz para merecer viver rodeada de amigos desta casta? E de pessoas que no meu trabalho, nos cafés e nas lojas que frequento, na farmácia, parecia que só me davam os bons dias e afinal, nutrem por mim carinho, telefonam e mandam mensagens, oferecem ajuda, presentes.
De vez em quando é preciso parar…
Afinal, basta sermos pessoas dignas.
Afinal a única maneira se sermos gratos e continuarmos a merecer a dedicação dos outros e ganhar presentes, é sermos dignos de tal.
A dignidade é que faz de nós merecedores do amor e da amizade quando nascemos, quando cumprimos o nosso aniversário, quando ficamos doentes, e até na hora da nossa morte as pessoas que sinceramente reunimos, representam a medida exacta da dignidade com que vivemos.
Tomara que eu consiga ensinar ao meu filho a ser grato. A perceber que por trás de cada oferta, existe um passado, um determinado valor além do material. Um presente feito pelas as mãos de quem o oferece, por exemplo, possui um valor acrescido, é uma peça única. O tempo dispendido à procura do presente também conta, significa que alguém não fez outra coisa durante algum tempo que pensar em nós.
Todos os presentes têm um passado.
Todos os presentes têm uma etiqueta de onde retiraram o preço.
Todos os presentes têm um significado, que tal como a etiqueta, não está lá impresso, é preciso decifrá-lo com uma certa sensibilidade. E agradecer sempre.
Tomara que o meu filho Miguel pare para pensar neste mundo onde todos correm. Uns por dinheiro, por ganância, outros pela fama, outros à toa…
Recebemos a visita da Tia Ana Maria, do Tio António e do meu primo João André.
O Meu primo João trouxe uma colecção de carrinhos para dar ao meu filho. Uma colecção de carrinhos sem valor material algum.
É cedo para ensinar ao meu filho a ser grato, até mesmo quando receber algo aparentemente sem valor nenhum, mas posso sempre contar-lhe uma história... isso posso...

“O Avozinho João não teve carrinhos na infância como tu vais ter dezenas deles. Só teve uma camioneta de lata que um dia se desmanchou e foi provavelmente, o primeiro dia triste do avozinho.
Já crescido, casado e tudo, iniciou uma colecção de centenas de carrinhos, antigos e não só, comprados na feira da Ladra, quase todos.
Um dia, já eu era uma mulherzinha, o avozinho João teve que vender todos os carrinhos a um coleccionador.
Vendeu-os a todos porque teve que vender a casa para nos ajudar a comprar esta onde eu, tu e o pai vivemos.
Vendeu-os a todos porque não tinha mais espaço onde os guardar. E foi provavelmente, um dia tão triste como aquele, em que em criança, encontrou desmanchada a camioneta de lata, o seu único brinquedo…

Entendes tudo o que te digo filho?”

Há noite vieram a Sandra e o Hélder.

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