oreinabarriga

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15.5.09

Este filme pode doer

Parto. Esta é a hora h (agá aaaaaaaaaaah! mais precisamente). Dizem que é uma dor que se esquece. As mulheres mais velhas que eu muito provavelmente porque já se passaram tantos anos, é uma dor que já lá vai tão longe, que já nem deve ser delas, outras dizem que é uma dor que se esquece para se desculparem do facto de estarem outra vez grávidas, mas a maioria, que são as mulheres que têm a sorte do parto não lhes doer e as outras que tiveram filhos de cesariana ou com analgesia epidural, dizem que é uma dor que se esquece, porque não foi uma dor assim tão intensa, insuportável que chegasse para cunhar um lugar cativo na memória.

Eu tive um filho de parto "normal". Chama-se assim: "normal" para não se chamar parto eutócico (vocábulo difícil) ou parto vaginal (vocábulo aborrecido porque é um bocado embaraçoso). Tive um filho sem analgesia, nem uma aspirina, digo isto sem nenhuma glória, não fui eu que quis assim, eu pedi a epidural mas ninguém me ligou nenhuma, em relação à dor *#$%!!"! posso dar um exemplo, o meu filho nasceu com 3 quilos, 49 cm de comprimento e 34 de perimetro cefálico, mas eu senti que estava a expulsar uma bola do tamanho de um planeta (de voley, vá) a sangue frio, e às tantas ainda me deram uma tesourada (vão ver a tesourada no vídeo, foi tal & qual) que eu também senti (é que depois ainda há quem diga que a dor do parto anestesia tudo e que aquilo não chega a doer, que é uma coisa que só pode ter sido inventada por alguém que nunca expulsou um planeta por baixo e pelo meio ainda levou uma tesourada) e no fim, está o filho cá fora, a sensação de alívio, a sensação se estar partida ao meio, nunca mais conseguir parar de tremer, chorar e sangrar, mas sentir um alívio enorme e... mais contracções? Não, não vai nascer outro, é a placenta que é outro parto! Mas este enfim, é uma coisa grande e gorda mas é mole, não tem cabeça nem ossos, se parir (parturir) um filho fosse como parir uma placenta então sim, eu diria que é uma dor que se esquece.

Que é a melhor experiência (mesmo quando não queremos voltar a repeti-la), a mais radical e intensa de todas, é. É a soma de tudo (sexo, vida, existência, norte, sentido...) e de todos os sentimentos (dor, amor, brutalidade, medo, intensidade, alivio...). É uma descarga de adrenalina para a corrente sanguínea assim, tipo overdose (o meu filho já tinha nascido à mais de duas horas e eu ainda não tinha conseguido parar de tremer). Dizem que a dor do parto se esquece, mas eu nunca esqueci. Apenas já não me queixo, porque não posso levar a vida a queixar-me de uma coisa que já não sinto.

O vídeo a seguir (videosdahora.com.br), mostra a fase de expulsão num parto normal. Crianças não devem visionar o filme sem estarem acompanhadas de um adulto que vá comentando e possa explicar o que é um parto normal). Homens podem assistir com almofadas à volta (já não é o 1º que cai para o lado).

É um filme que pode doer.

32 comentários:

david a. disse...

Depois do bebé ter nascido, nasceu ali mais qualquer coisa... a placenta náo é?

É que eu entretanto apaguei-me.

david

Becas disse...

Eu não sei como é que as mulheres se metem nisto…

Becas disse...

Nem uma aspirina?!
F##’%!

Debora Ayres disse...

A dor do parto é insuportável! Não fosse o João (espiriruoso e cheio de coragem) eu tinha morrido de dor. No entanto, há mulheres para quem o parto é fácil, é menos doloroso que extrair um dente. Eu não pude levar analgesia epidural (tinha alterações de coagulação sanguínea) mas quem pode levar não deve temer a dor do parto.
Tudo o resto é maravilhoso e único.

João David disse...

Fui apanhado aqui a relembrar o célebre momento a que assisti: o grande milagre do nascimento dos meus dois filhos.
Ficar do lado de fora, no corredor, a roer as unhas, perder o grande acontecimento das nossas vidas não seria para mim. A parte das contracções quando o trabalho de parto começa é assustadora, é a tomada de consciência que aquilo é mesmo “ a valer”, vai doer mais, pode acabar mal, acho que tudo nos passa pela cabeça, depois a hora agá é brutal. Eu achei que conseguia filmar o nascimento dos meus filhos e não fui capaz, estive o tempo todo a tentar ser útil e só consegui ser inútil, é um tanto grotesco, as mulheres são uma força na natureza naquela hora e nós uns insignificantes seres pequenos perante um milagre desta grandeza, depois lá nos deixam cortar o cordão umbilical para que possamos dar um ar de heróis no futuro a contar a história. Mas é grotesco, o vídeo mostra bem a imagem que no fundo, mesmo que depois se desvaneça, ainda nos vem à cabeça muitas vezes e por muito tempo. A Madalena levou analgesia epidural e eu continuo a dizer que se houve alguém que sofreu ali, fui EU.

João David Marinho
2009/05/16

João David disse...

E agora a solidariedade masculina: um abraço ao João que apesar de ter saido cá para fora numa figura miserável, lastimável, todo esfrangalhado, desidratado, alucinado, metia dó, salvou a Débora do seu momento terrível e se tenho registo do nascimento dos meus filhos devo-lhe isso, duas ou três curtas metragens que em louvor do artista, estão muito bem captadas e nada tremidas até. Desculpa amigo, não ter feito o mesmo por ti, eu juro, nem saberia encontrar o botão REC.

João David Marinho
2009/05/16

Rainha Reles disse...

Adorei o vídeo (uf.. uf..uf) já me sinto com a síndrome de baby blue. És uma querida.

Rainha Reles disse...

(acabei de vomitar duas torradas com manteiga e 2dl de sumo de laranja).

MiudaCute disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
MiudaCute disse...

Não percebo muito bem porque é que a epidural não é aplicada em todos os casos de parto "normal" como é a anestesia local ou geral em todas as outras operações porque implicam dor. Salvo as mães que não querem, querem sentir tudo, o auge da dor e tudo, e as que infelizmente não podem, como a Débora não pôde, não percebo, vem no Plano nacional de luta contra a dor, é por causa das contra-indicações?

MiudaCute disse...

Passemos à parte boa: Temos uma Doula!
Com uma Doula assim não sei se não vale a pena arriscar.

Becas disse...

Realmente é preciso ter sangue frio…

Eu, Claudia disse...

Uuuuuug! Que saudades.

Jewel disse...

O corte impressiona, na diagonal (nunca tinha visto). Não fossem as imagens serem tão reais eu ía jurar que a mãe era um boneco. Levou epidural de certeza, não me digam o contrário, que aquilo é possível sem dar um grito? Gemer? Dizer um... palavrão?

Alex disse...

Homens a terem filhos só com anestesia geral ou a espécie humana estaria em perigo de extinção.

Alex disse...

Realmente não se ouve ali um gritinho, nem *$#! não parece "normal".
Não deixa de ser lindo o vídeo. Eu achei.

Carmina Burana disse...

Becas: O pior depois é sair!

Débora: Eu também tive a sorte de ter um homem cheio de coragem e sensibilidade ao meu lado, e ao lado do nosso filho, na hora que foi a mais radical! de toda a minha vida.

João David: Apanhei-te. A "imagem" é um bocadinho traumatizante, eu percebo, na posição em que colocam a mãe, ela não tem (não fica com) essa imagem.
Para a próxima vais ter que encontrar o botão REC (a 'Doula' estava assim tão miserável? Estou a imaginar: saído de combate, e estou a rir!)

Rainha Reles: Sorry. O baby blues vem após.

100Vintem: Uuuuuug! Que alívio já passou!

Jewel: O corte é sádico, é preferível não levar, mas é necessário por vezes para o bebé passar e não entrar em sofrimento, é feito na diagonal para não atingir o anûs.
O resto é possível, há testemunhos de mulheres que nem choram, estar tão estática não é possível, acho que sim, que a mamã do vídeo só pode ter levado a epidural.

Alex: homens a terem filhos seria de cesariana, não se sofre tanto. Mas manter-se-ia o perigo de extinção da espécie humana parece-me (fariam menos sexo?)

Carmina Burana disse...

Miuda Cute (ficaste para o fim porque a re: ao teu é a minha opinião baseada em factos reais, é um bocadinho documental):
A anestesia geral é injetada na circulação sanguínea, atravessa a placenta e atinge o bebé enquanto que a analgesia epidural chega ao bebé em doses insignificantes, o próprio nome indica: analgesia (alívio da dor) e não anestesia.
A epidural facilita a dilatação do colo do útero, não inibe como por vezes se ouve dizer, porque as contrações do útero e da vagina continuam, só não se sente a dor), e é dada assim: O anestesista introduz uma agulha especial entre duas vértebras da coluna na zona lombar e depois coloca um tubinho (catéter) que fica lá, não é doloroso e faz efeito em 10 minutos. De todas as vezes que a dor recomeça, é injectada uma pequena dose adicional através do catéter.
A epidural faz com que a mamã esteja sempre consciente, possa colaborar, o trabalho de parto pode correr com normalidade, sem stress, sem sofrimento, sem aquela dor ininterrupta, extenuante para o fim, que impede a mãe de apreciar verdadeiramente o nascimento do seu filho que é um momento único (perdê-lo, ao momento, é outra dor insuportável eu acho). Para o pai também é traumático assistir a tanto sofrimento e o que implica dor e sofrimento para a mãe, também implica dor e sofrimento para o bebé (nascer é por si só, já um ato violento).
O parto, na minha opinião, é para ser sentido não é para ser sofrido. Eu tenho imensa pena de não ter podido apreciar com todos os meus sentidos, deleitar-me, com o nascimento do meu filho, não pude colaborar como devia, a única coisa que me deixaram sentir foi a dor intensa, insuportável que tem outra má consequência, a mamã respira incorrectamente, em desespero, o bebé recebe menos oxigénio.
No entanto, há mamãs que sem o sofrimento tácito do parto, não entendem que se possa sentir em pleno o nascimento de um filho.

Carmina Burana disse...

Comenta Doula (João Ayres) até porque será um sinal que estás bem da mão e voltaste à escrita.

Rainha Reles disse...

Já sei que o João foi operado a uma mão, eu juro João Ayres que só engravido com as tuas duas mãos boas!

João Ayres disse...

as mulheres são capazes de suportar a dor de um parto normal e a seguir serem sensíveis a uma dor na mão como a minha. depois só me apetece fazer queixinhas..
um parto normal é lindo, lindo! assistir a um parto normal ao vivo é um momento incrível, emocionante, ninguém fica indiferente seja uma mulher ou qualquer outro animal, um mamífero é emociante, aliás até um passarinho a partir o ovo para nascer é emocionante. o parto da minha filha foi como um rebentamento, foi inesquecível, por mil anos que eu viva será inesquecível. houve um breve instante que me pareceu que toda a força era inútil, parece a determinado tempo impossível que a mamã consiga expulsar o bebé, há ali um instante que parece ser o limite de todas as forças, mas depois tudo recomeça, o momento em que a isabel nasceu, saiu totalmente, logo os 1ºs segundos, foram uma apoteose, é indiscritivel a emoção que eu senti, senti uma afeição desesperada p'la minha mulher, pela filha que ainda não conhecia nem sabia (nã sabiamos os dois) por onde começar a amá-la, a cuidar dela..
a dor do parto normal pode ou não ser insuportável, é a única dor que se conhece que vale a pena, é para ter um filho, é a única dor que por isso termina em glória (quando tem um final feliz, naturalmente).
e com isto fiquei com a mão dormente porque entretanto me cansei de escrever com a esquerda, com um só dedo e uma tecla de cada vez.. só me apetece fazer queixinhas (às mulheres só me apetece fazer queixinhas) quanto às curtas metragens caro amigo (João David) a verdade é que a madalena nunca me perdoou o ângulo das filmagens.. mas não havia outro, ela sabe disso.

Carmina Burana disse...

Termos passado por uma dor maior só nos torna mais sensíveis. Uma dor é sempre uma dor, seja ela de que tamanho, a dor respeita-se.

Carmina Burana disse...

Ainda estou a rir do ângulo, pois não, não havia outro, ela sabe que não, é o melhor ângulo para captar as 1ªs imagens da vinda ao mundo, mas filmado por ti a Madalena esperava um ângulo mais... artístico.

João David disse...

As duas curtas metragens estão óptimas, eu repito: muito bem captadas, nada tremidas, o parto da Liliana é emotivo, ainda hoje choramos a ver, mas as filmagens do 1º parece um filme de terror! Até porque o Nuno nasceu calmíssimo, não se mexeu não fez caretas e demorou uma eternidade para desatar a chorar, nós estávamos todos com cara de susto, todos menos o João que garante que a 1ª coisa que o Nuno fez quando nasceu foi sorrir (eu, sinceramente, duvido). A Madalena tem dias que te perdoa :D
mas continua a achar, vivamente, que o melhor ângulo é o que se obtêm por cima dos ombros da mãe.

João David Marinho
2009/05/18

João David disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João David disse...

Tantos caracteres é o quê? Fisioterapia? Ou apelo ao instinto maternal das mulheres?

João David Marinho
2009/05/18

Rainha Reles disse...

Faz queixinhas faz, não há problema, seguramos na tua mão ;)

Gema disse...

Faz queixinhas faz, apela ao nosso instinto maternal que somos todas muito intuitivas ;)

Gema disse...

Eu lembro-me que sofri tanto para ter o Rodrigo, que quando ele nasceu e o colocaram no meu peito eu estava incapaz de o comtemplar ou amá-lo naquele 1º momento, tudo o que sentia era alivio, um enorme alívio. O nascimento do Henrique foi bem mais fácil, menos horas de trabalho de parto, epidural...), Guardei dos dois, o cheiro a sangue e a cabelos como tu tão bem descreveste nos teus "diários do nascimento de uma mãe", que nunca mais nos abandona e que nos faz acreditar que em qualquer parte, sob qualquer circunstância, saberíamos reconhecer as "nossas crias".
Um beijo às mães (e às mãos! recém-operadas)

Carmina Burana disse...

João David e João Ayres:
Ainda estou aqui a ver se me lembro de uma coisa pior para uma mulher, que estar a ter um filho aos berros, toda desguedelhada, ofegante e transpirada, naquela posição perfeitamente incómoda (o que eu queria dizer era escabrosa), e ter 2 dos homens mais lindos que conheço, especados a olhar para nós. Pior!! a filmar.
Pode ser que eu me lembre, entretanto, mas dúvido.

João Ayres disse...

não seja por isso. eu despenteio-me, transpiro, grito se for preciso

Carmina Burana disse...

Lamento João, isso faz passar várias coisas pela minha cabeça mas, nenhuma delas é pior..