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11.6.09

A coisa Berlusconi by José Saramago


Não vejo que outro nome lhe
poderia dar. Uma coisa perigosamente parecida a um ser humano, uma coisa que dá
festas, organiza orgias e manda num país chamado Itália. Esta coisa, esta
doença, este vírus ameaça ser a causa da morte moral do país de Verdi se um
vómito profundo não conseguir arrancá-la da consciência dos italianos antes que
o veneno acabe por corroer-lhes as veias e destroçar o coração de uma das mais
ricas culturas europeias. Os valores básicos da convivência humana são
espezinhados todos os dias pelas patas viscosas da coisa Berlusconi que, entre os
seus múltiplos talentos, tem uma habilidade funambulesca para abusar das palavras,
pervertendo-lhes a intenção e o sentido, como é o caso do Pólo da Liberdade, que
assim se chama o partido com que assaltou o poder. Chamei delinquente a esta
coisa e não me arrependo. Por razões de natureza semântica e social que outros
poderão explicar melhor que eu, o termo delinquente tem em Itália uma carga
negativa muito mais forte que em qualquer outro idioma falado na Europa. Foi
para traduzir de forma clara e contundente o que penso da coisa Berlusconi que utilizei o
termo na acepção que a língua de Dante lhe vem dando habitualmente, embora seja
mais do que duvidoso que Dante o tenha utilizado alguma vez. Delinquência, no
meu português, significa, de acordo com os dicionários e a prática corrente da
comunicação, “acto de cometer delitos, desobedecer a leis ou a padrões morais”.
A definição assenta na coisa Berlusconi sem uma prega, sem uma ruga, a ponto de se
parecer mais a uma segunda pele que à roupa que se põe em cima. Desde há anos
que a coisa Berlusconi tem vindo a cometer delitos de variável
mas sempre demonstrada gravidade. Além disso, não só tem desobedecido a leis
como, pior ainda, as tem mandado fabricar para salvaguarda dos seus interesses
públicos e particulares, de político, empresário e acompanhante de menores, e
quanto aos padrões morais, nem vale a pena falar, não há quem não saiba em
Itália e no mundo que a coisa Berlusconi há muito tempo que caiu na mais completa
abjecção. Este é o primeiro-ministro italiano, esta é a coisa que o povo
italiano por duas vezes elegeu para que lhe servisse de modelo, este é o caminho
da ruína para onde estão a ser levados por arrastamento os valores que liberdade
e dignidade impregnaram a música de Verdi e a acção política de Garibaldi, esses que
fizeram da Itália do século XIX, durante a luta pela unificação, um guia
espiritual da Europa e dos europeus. É isso que a coisa Berlusconi quer lançar
para o caixote do lixo da História. Vão os italianos permiti-lo?



in O Carderno de Saramago

5 comentários:

Gema disse...

O homem é nojento, inestético, um político corrupto e vergonhoso, mas onde é que os Italianos estão com a cabeça?

Carmina Burana disse...

São Gaffes, Ema. Em se tratando de um primeiro-ministro e um dos líderes do G20, chama-se "Gaffes".

Becas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Becas disse...

No meio dos destroços e dos mortos do sismo de 6 de Abril em Itália, Berlusconi perguntou a uma voluntária da Solidariedade Internacional se podia "apalpá-la”. A mulher disse que ficou “enjoada com a frase”
Ou seria enjoada com a “gaffe”?

http://www.youtube.com/watch?v=AFNM281niQA&feature=player_embedded

Becas disse...

F# nem que aquilo fosse os escombros de um bordel...