Um fio de cabelo que é uma coisa (tu sabes), não se larga assim. Que é uma coisa que se agarra às minhas mãos e não quer cair, um fio de cabelo? Para eu abrir a janela, deitar a voar e ele não querer ir?
As ribeiras, as fontes, a chuva, os rios, agora o mar?
Uma coisa tão difícil de navegar?
A flores, a café, a pastilha de mentol, a suggo, a terra, a mirra, a incenso, a suor, a que cheiras tu? Porquê àquilo que eu não sei dizer?
Um nó, uma casa de botão, um constrangimento, um mal-estar, agora uma coisa destas, tão difícil de desatar?
Em golos, em tempo, em acidentes em Auto-Estradas, em filhos dos outros, em faróis bi-xenon, em seguros, em Natais, porque me falas em um quarto só, ao ouvido, devagar, tudo tão certo?
Um livro, uma fotografia, um cigarro, um chapéu, uma chave, e tu (sabes) levas o ar e deixas apenas uma vontade de chorar.
Olho para baixo, termino em mim, é certo, mas sem galochas nem sapatos sequer. Nada. Só os dedinhos dos pés. Fiz o mar todo assim. O mar? Bem, talvez fosse na realidade, um pequeno charco.
Um fio de lã, uma migalha de pão, um botão, uma pedra de sapato, agora um fio de cabelo?
Um fio de cabelo que é uma coisa (tu sabes), não se larga assim. Que é uma coisa que se agarra às minhas mãos e não quer cair, um fio de cabelo? Para eu abrir a janela, deitar a voar e ele não querer ir?
- Mã-ê? Mã-ê?
(Por minutos me esqueci que tinha deixado o menino a comer à mesa sozinho).
- Diz filho
- Está aqui um cabelo na sopa mãe…
Do caderno de Rascunhos de Maria João Viana, adaptado, 1992
6 comentários:
Ui.
Ui, ui.
Uau!
Ui, ui? Uau?
Isso é entre vocês os dois ou é comigo?
É com ele.
É contigo prima, uau, está genial, bis, bis, bis.
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